No meio destas gerações, surgiu
Mário Carlos, um talentoso e irrequieto extremo setubalense que desde tenra
idade foi fazendo parte das seleções jovens, ao ponto de se ter sagrado campeão
europeu de sub-16 em 2000 ao lado de Custódio,
Raúl Meireles, Hugo Viana ou Ricardo
Quaresma, tendo sido companheiro de quarto deste último. Em 2002-03, na primeira época de
sénior, foi lançado na equipa principal pela mão de Luís
Campos, que lhe concedeu a titularidade logo na
jornada inaugural do campeonato, diante do Boavista. Nessa época atuou em
25 jogos pelos sadinos
em todas as competições, 13 na condição de titular, e apontou três golos, um
dos quais ao Sporting,
mas não evitou a descida de divisão. Paralelamente, somou três internacionalizações
pela seleção
nacional de sub-21 e mais duas pelos sub-20.
Debaixo de olho dos grandes
emblemas nacionais, recusou o Wolverhampton
para se mudar para o Nacional
da Madeira, com a promessa de dar um salto na carreira em dezembro de 2003.
“Nessa altura falava-se muito que eu seria o sucessor do Quaresma
no Sporting,
porque tinha sido assim nas seleções jovens, ou jogava ele, ou jogava eu. O meu
empresário era o Jorge Mendes, que nesse verão de 2003 meteu o Ronaldo
no Manchester
United e o Quaresma
no Barcelona.
A mim disse-me: ‘Vais para o Nacional
que eu em dezembro ou no final da época meto-te no Sporting’”,
contou ao Maisfutebol
em dezembro de 2019.
O problema foi que as coisas não
lhe correram bem na Choupana, apesar de um início promissor. “Comecei muito bem
a época no Nacional,
marquei dois golos ao Estrela
da Amadora e fui o melhor jogador do mês na Liga.
Até se falava na seleção.
Nessa altura, o Scolari
chegou a ir ao nosso hotel ter com o Casemiro Mior, que era seu amigo, e esteve
a falar comigo. Porém, na véspera do jogo com o Sporting,
parti dois dedos do pé. Entretanto, o Alexandre Goulart entrou no onze, agarrou
o lugar, o Nacional
fez uma grande época, ficou no 4.º lugar, e a partir daí foi sempre a descer”,
lembrou.
Quando, ao fim de um ano, Mário
Carlos deixou o Nacional,
Jorge Mendes “desapareceu, nunca mais deu notícias”. A solução encontrada pelo
extremo foi assinar pela União
de Leiria, mas praticamente não jogou pelos leirienses. Seguiram-se passagens por Sp.
Espinho e Barreirense,
da II
Liga, e pelos romenos do Farul, antes de receber um chamamento que o levou
a regressar a casa no verão de 2006. “Recebo um telefonema do enorme Quinito
a convidar-me para voltar ao Vitória.
Forcei a rescisão com o clube romeno, cheguei ao Vitória,
o clube do meu coração, e foi um descalabro. Em termos financeiros, o Vitória
não era viável, foi muito mau mesmo”, lembrou o atacante, que no regresso aos sadinos
atuou em 13 partidas (três a titular) e marcou um golo ao Paços
de Ferreira antes de transferir para os espanhóis do Zamora em janeiro de
2007.
Após meio ano em Espanha mudou-se
para os cipriotas do Alki Larnaca, pelo qual jogou ao lado do conterrâneo
Nandinho, do compatriota Chaínho
e de brasileiros bem conhecidos do futebol português, como Clayton
e Elpídio
Silva, numa altura “em que se ganhava bom dinheiro em Chipre, mas tudo
mudou quando eles adotaram o euro”. Ainda ficou no país insular até
2012, mas depois decidiu pendurar as botas, aos 29 anos, numa altura em que
estava com três meses de salários em atraso e farto do futebol.
Após encerrar a carreira foi
trabalhar para Inglaterra. Começou por descarregar contentores num grande
armazém, chamado Argos, e depois começou a trabalhar como segurança privado em
eventos. Foi nessa altura que o até então franzino antigo extremo sentiu “que
precisava de ganhar corpo”. Quando jogava tinha menos de 65 quilos e com a
musculação chegou aos 98. Paralelamente, tornou-se lutador de Thai Boxing,
entrou em combates e chegou a número 12 no ranking do Reino Unido. Mais tarde
mudou de profissão e passou a trabalhar como camionista.
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