O mundialista e campeão pelo Boavista que despontou no Vitória FC. Quem se lembra de Frechaut?
Frechaut despontou no Vitória antes de brilhar no Boavista
Jogador polivalente, capaz de
atuar como lateral direito e médio defensivo, foi um dos destaques do Boavista
campeão nacional em 2000-01. Na mesma altura o então selecionador nacional
António Oliveira fez dele um internacional A e, um ano depois, levou-o ao Mundial
da Coreia do Sul e do Japão.
Mas a vida e a carreira de Nuno
Miguel Frechaut Barreto, que ficou conhecido pelo apelido que herdou da bisavó
francesa, não se resumem a esse período. Filho de um serralheiro tubista e de
uma funcionária de uma escola, ambos moçambicanos, nasceu em Lisboa, mas foi
viver para Setúbal quando ainda tinha poucos meses de idade. À beira-Sado fez-se homem e…
futebolista. Cresceu no bairro dos Índios, ao lado da Bela Vista, e foi lá que
começou a jogar à bola. Depois foi jogar futebol de cinco no Ídolos
da Praça, mas por insistência de um vizinho, que jogava no Vitória,
fez captações no clube
mais representativo da cidade. Convenceu, ainda com seis ou sete anos, e só
saiu dos sadinos
já sénior, aos 22. Presença assídua nas jovens
seleções nacionais desde que se estreou pelos sub-15 em abril de 1993, começou
a treinar na equipa principal do Vitória
em 1995-96, então às ordens de Quinito,
mas só fez a estreia na época seguinte, pela mão de Mário Reis. A afirmação não
foi imediata, mas gradual, e coincidiu com o apuramento para a Taça
UEFA em 1999 – o primeiro do clube em 25 anos –, sob a orientação de Carlos
Cardoso.
Pelo meio, provocou uma fumarada
no hotel em que a equipa estagiava. “Eu ficava no quarto com o Mário Loja,
éramos os mais novos da equipa. Éramos brincalhões e um pouco inconscientes, e
após o almoço vínhamos a brincar no corredor e ele pegou no extintor do hotel e
ameaçou que ia disparar. Eu tirei-lhe aquilo das mãos, tirei a cavilha e
disparei. Só que eu não sabia que aquilo fazia tanta fumarada. Foi só um toque
pequeno no extintor, mas saiu imenso pó que encheu o corredor. Ficámos
apavorados, deixámos o extintor no sítio e fomos a correr para o quarto.
Passados alguns minutos, fui ao corredor e encontrei o Hélio,
que era nosso capitão, e o Mamede, e disse-lhes: ‘Alguém já fez asneira no
corredor’. O diretor do hotel, entretanto, chamou o treinador e houve reunião
de grupo para saber quem foi e assumimos a culpa. Na altura o mister Cardoso
virou-se para nós e disse: ‘Amanhã jogamos contra o Benfica
e a única coisa que vocês têm de fazer para se redimirem é serem os melhores
jogadores em campo’. E a verdade é que ganhámos esse jogo e estivemos os dois
bem”, revelou à Tribuna
Expresso em março de 2018. A ressaca da qualificação
europeia não correu bem ao Vitória,
que veio a ser despromovido à II
Liga em 2000. Contudo, Frechaut continuou a mostrar qualidade e deu o salto
para o Boavista
no verão desse ano, depois de um longo assédio por parte do presidente João
Loureiro e do treinador Jaime
Pacheco. “O mister Jaime
Pacheco, que sempre mostrou algum interesse em mim, fez-me chegar esse
interesse através do presidente do clube, o João Loureiro, com quem me cruzava
algumas vezes nas seleções porque fazia viagens connosco. Ele já me dizia que
um dia havia de ver-me de xadrez. Um dia, o mister Jaime
Pacheco chamou-me a uma casa que ele tinha, não sei se ainda tem, em
Palmela. No tempo de férias eu tinha feito um torneio de futebol de 7, em
Palmela, e ele chamou-me lá a casa. Ele disse que gostava de mim, que me
apreciava, perguntou se eu gostaria de trabalhar com ele. Disse obviamente que
sim. Entretanto as negociações seguiram via clube”, recordou. Ao Bessa chegou, viu e venceu. Alternou
entre a titularidade e o banco de suplentes durante a primeira metade da época
como um polivalente que podia atuar à direita da defesa ou no meio-campo, mas a
partir de abril de 2001 afirmou-se como lateral direito titular no onze de Jaime
Pacheco, aproveitando uma lesão de Rui Óscar, contribuindo para a conquista
do título nacional. “Foi uma época fantástica, foi uma época de muita luta, de
muito sofrimento, em que demos tudo. Tínhamos um grupo fantástico, éramos mais
do que as pessoas dizem. Muitas dizem que éramos uma equipa de sarrafeiros.
Éramos realmente uma equipa muito agressiva, era uma equipa que se calhar o
futebol português não estava à espera. Para além de ser uma equipa agressiva,
tinha qualidade e jogadores com muita qualidade e acabámos por conseguir chegar
ao final do campeonato na frente e foi muito merecido. Todos os jogadores
estiveram unidos, todos sabiam o que é que queriam fazer, qual era o objetivo.
E foi muito bom, muito bom”, lembrou.
Em junho de 2001 fez a estreia
pela seleção
nacional A logo no terreno da principal adversária na qualificação para o Mundial
2002, a República
da Irlanda, e a partir daí passou a figurar entre as escolhas habituais de
António Oliveira, que também o chamou para a fase final. No único jogo em que
participou no Campeonato
do Mundo, Portugal
goleou a Polónia
por 4-0. Entretanto, jogou na Liga
dos Campeões pelo Boavista
e ajudou os boavisteiros
a sagrarem-se vice-campeões nacionais em 2001-02.
Nos dois anos que se seguiram
somou mais quatro internacionalizações às ordens de Luiz
Felipe Scolari, mas acabou preterido das escolhas finais para o Euro 2004,
tendo como consolação a chamada aos Jogos
Olímpicos de Atenas, no mesmo verão. Em janeiro de 2005 foi um dos
muitos portugueses que se transferiu para o Dínamo Moscovo e nem por isso
desapareceu totalmente do radar da seleção
nacional, tendo somado as duas últimas internacionalizações da carreira em
novembro de 2005. Acabou por regressar a Portugal no
início de 2006, pela porta do Sp.
Braga, na altura um clube a querer cimentar-se como a quarta potência do
futebol nacional, apesar de um interesse (não efetivado) por parte do FC
Porto. “Sei que na altura o professor Jesualdo Ferreira, que estava a
treinar o Sp.
Braga, entrou em contacto comigo e disse que gostava muito que eu fosse
para o Sp.
Braga. Entretanto o presidente Salvador também me ligou e disse que gostava
muito que eu fosse para o Sp.
Braga. Eu nunca digo que não por respeito e porque nunca sabemos o dia de
amanhã. Disse só que precisava de refletir. Passaram-se uma ou duas semanas, as
coisas não evoluíam com o FC
Porto, continuava a haver interesse do Sp.
Braga e então decidi ir para Braga”, contou, tendo trabalhado às ordens de
Carlos Carvalhal, Jorge Costa, Jorge
Jesus e Domingos Paciência no emblema
minhoto.
No ocaso da carreira representou
ainda os franceses do Metz (2009 a 2011), a Naval na II
Liga portuguesa (2011-12) e o Boavista
na II Divisão B e no Campeonato de Portugal (2012 a 2014). Nesta sua segunda passagem pelo
Bessa voltou a ser falado nos jornais nacionais, mas pelas piores razões, pois
esteve envolvido num acidente com mais dois carros na A28, na zona do Freixieiro,
em Matosinhos, que culminou com a morte de outra pessoa. “Tinha saído do treino
e vinha para casa. Estava na faixa da esquerda porque ia fazer uma
ultrapassagem e a carrinha saiu da faixa da direita também para fazer uma
ultrapassagem, bate no meu carro e pronto. A carrinha entrou em despiste e
capotou e eu andei também em despiste. Eu posso até não me sentir culpado, mas
só o facto de ter morrido uma pessoa, já faz com que eu sinta... pesa muito,
independentemente de ser ou não culpado, não consigo esquecer... E depois,
ficou uma mulher, ficou um filho, uma filha... podia ter sido eu. A questão
aqui é que uma pessoa perdeu a vida e isso mexeu comigo; mexeu e mexe, nunca
irei esquecer”, confessou.
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