Chegou lesionado e sobreviveu à revolução de Artur Jorge. Quem se lembra de Paulo Bento no Benfica?
Paulo Bento somou 69 jogos e três golos pelo Benfica entre 1994 e 1996
Depois
de ter estado em bom plano ao serviço do Vitória de Guimarães naquela que
foi a sua terceira temporada no Dom Afonso Henriques, em 1993-94, despertou a
cobiça do Benfica.
Abílio Rodrigues, dirigente encarnado,
entrou em contacto com Pimenta
Machado com o objetivo de assegurar as contratações do lateral esquerdo Dimas
e dos médios Paulo
Bento e Pedro Barbosa.
Só Barbosa ficou mais um ano no
Minho, tendo depois saído para o Sporting
(onde haveria de reencontrar Bento
em 2000). O centrocampista que poucos anos antes jogava noutro clube da mesma
freguesia que militava na III Divisão Nacional, o Futebol
Benfica, cumpriu o sonho de assinar pelo clube
do coração. Paulo
Bento ainda jogou na partida de apresentação das águias
aos sócios, diante dos marroquinos do FAR Rabat, e noutro particular frente à Académica,
mas não conseguiu esconder uma lesão no tendão rotuliano que o haveria de
obrigar a uma cirurgia em agosto de 1994. O Benfica
ainda tentou renegociar o valor da transferência, considerando que a lesão é
anterior à assinatura do contrato, mas o Vitória
lá ficou com 180 mil contos (quase 900 mil euros). E nem esse percalço levou a
que o treinador Artur
Jorge prescindisse do médio, que só se haveria de estrear oficialmente de águia
ao peito em dezembro de 1994. “Eu até sou sócio do Benfica!
Por isso pode imaginar o que sinto nesse momento!”, disse aquando da assinatura
do contrato por três anos, que contemplava um salário anual de 25 mil contos
(124,7 mil euros) na primeira época, 27 500 (137 mil euros) na segunda e 30
mil (150 mil euros) na terceira. Paulo
Bento apanhou, em 1994-95, um plantel em transformação, com a permanência
de apenas 12 dos jogadores que haviam sido campeões na época anterior. Uma das cerca
de duas dezenas de caras novas era a do argentino Claudio Caniggia, visto de
fora como um dos maiores desestabilizadores do balneário. “O plantel era normal.
Havia uma sã convivência entre todos. (…) Caniggia tinha a sua personalidade e
o seu caráter, mas era um bom colega e acima de tudo um grande jogador”,
afirmou o médio no livro autobiográfico Paulo Bento: Um Retrato, de
Jorge Reis-Sá.
A estreia de Paulo
Bento pelo Benfica
aconteceu a 4 de dezembro de 1994 numa goleada por 12-0 ao Marinhense,
na Luz,
em jogo da Taça
de Portugal. Foi suplente utilizado, tal como nos dois jogos seguintes, em
Bruxelas diante do Anderlecht para a Liga
dos Campeões (1-1) e numa receção ao Boavista
para o campeonato (4-1). Depois agarrou a titularidade e não mais a largou. O terceiro lugar no campeonato e
a derrota na Supertaça
Cândido de Oliveira frente ao FC
Porto, na finalíssima de Paris, levou Artur
Jorge a prosseguir a revolução no plantel encarnado.
Num ápice, passaram a sobrar apenas quatro jogadores que haviam sido campeões
em 1993-94: Hélder,
Pedro
Henriques, Kenedy e João Vieira Pinto. A equipa levou nova vassourada, mas Paulo
Bento foi um dos seis resistentes que permaneceram no plantel em 1995-96. Apesar da substituição de Artur
Jorge por Mário Wilson no comando técnico a meio da época, Paulo
Bento esteve sempre de pedra e cal na equipa, tendo disputado 40 dos 46
jogos da temporada, todos como titular, e marcado três golos. Coletivamente voltou
a conquistar a Taça
de Portugal, repetindo o feito alcançado seis anos antes pelo Estrela
da Amadora. Porém, o triunfo sobre o Sporting
no Jamor ficou ensombrado pelo very-light lançado por adeptos benfiquistas
que atingiu e matou um apoiante leonino.
Numa digressão no final da época
ao Oriente, chegou a capitanear a equipa, tendo representado o plantel na
sessão de cumprimentos ao governador de Macau. Entretanto, Paulo Autuori
tornou-se treinador do Benfica
e dispensou o médio, cujo passe foi vendido aos espanhóis do Oviedo por 230
milhões de pesetas (cerca de 1,38 milhões de euros).
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