sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O central que viveu o céu e o inferno em 224 jogos pelo Benfica. Quem se lembra de Paulo Madeira?

Paulo Madeira esteve ligado ao Benfica entre 1987 e 2002
Tinha o rabo de cavalo mais famoso do futebol português. Para quem como eu começou a acompanhar futebol na viragem do milénio, Paulo Madeira era daqueles jogadores mais fáceis de identificar. Mas este antigo central internacional português era muito mais do que o dono de um penteado vistoso. Afinal, são poucos os que se podem gabar de ter disputado 224 jogos oficiais pelo Benfica e 24 pela seleção nacional A.
 
Nasceu em Luanda em 1970 e veio para Portugal em 1974, mais precisamente para São Paio do Mondego, concelho de Penacova, no distrito de Coimbra, onde viviam os avós paternos. Depois passou dois anos em Guimarães antes de se ter radicado no Algarve em 1980. Foi em Vila Real de Santo António, aos 13 anos, que entrou no futebol, para jogar nos iniciados do Lusitano VRSA, influenciado pelos colegas de escola que lá jogavam.
 
Foi médio esquerdo, depois passou para a zona central do miolo e só quando o mandavam recuar em fases dos jogos em que a sua equipa estava a ser dominada é que mostrou ter jeito para ser defesa central.
 
Ainda no Lusitano, deu nas vistas no torneio interassociações ao serviço da AF Algarve, o que lhe valeu a primeira chamada a uma seleção nacional, a de sub-16. Abordado pelos maiores clubes nacionais, e apesar de o pai ser um fervoroso adepto do FC Porto, decidiu-se pelo Benfica, clube ao qual chegou em júnior.
 
 
Campeão nacional de juniores nos dois anos em que esteve no escalão, ao lado de Paulo Sousa, foi convocado para o Mundial de sub-20 no início de 1989, esteve nos seis jogos de Portugal na Arábia Saudita e ajudou a jovem seleção das quinas orientada por Carlos Queiroz a sagrar-se campeã.
 
Em 1989-90 estreou-se pela equipa principal do Benfica, pela mão de Sven-Göran Eriksson, ganhou a Supertaça e fez parte da equipa que atingiu a final da Taça dos Campeões Europeus, apesar de não ter realizado qualquer encontro na competição – viu do banco o golo de Vata ao Marselha, com a mão, que apurou as águias para o jogo de atribuição do troféu.
 
Na época seguinte, marcada pela conquista do título nacional, reforçou o estatuto, tendo atuado em 12 partidas – contra as oito da temporada anterior –, uma das quais a famosa vitória nas Antas com bis de César Brito que praticamente decidiu o campeonato. Em fevereiro de 1991, apesar de há muito não ser titular nos encarnados, estreou-se pela seleção nacional A, entrando aos 67 minutos numa goleada sobre Malta (5-0) nas Antas, a contar para a fase de qualificação para o Euro 1992.
 
Em 1991-92 afirmou-se como titular indiscutível e esteve inclusivamente na famosa vitória sobre o Arsenal em Londres em novembro de 1991 (3-1), mas na época que se seguiu perdeu espaço, apesar da conquista da Taça de Portugal, o que o levou a ser emprestado ao Marítimo em 1993-94, uma temporada na qual as águias se sagraram novamente campeãs nacionais.
 
 
No regresso ao Benfica encontrou Artur Jorge, que no final da época 1994-95 lhe disse que não contava com ele para a próxima. “O Artur Jorge chamava jogadores com quem estava a pensar não contar na época seguinte e chamou-me também a mim. Eu fui ouvir o que ele tinha para dizer. Virou-se para mim e disse: ‘Eu sei que tu tens contrato e não sei quê, mas eu não quero que tu fiques aqui para o ano.’ Eu disse: ‘Mister, eu tenho contrato, você é que disse há seis meses para o Gaspar Ramos assinar contrato comigo, não faz muito sentido eu agora ser emprestado.’ Depois ele exaltou-se um bocado e disse: ‘Pá, mas se ficares aqui já sabes, vais treinar para a praia.’ Eu levantei-me e saí do balneário. E não houve mais conversa”, recordou ao Maisfutebol em outubro de 2022.
 
 
Paulo Madeira acabou por ser novamente emprestado, desta vez ao Belenenses e por dois anos. Afirmou-se, foi convocado por António Oliveira para o Euro 1996 e continuou nas escolhas do selecionador que se seguiu, nada mais nada menos do que… Artur Jorge.
 
 
O central acabou por voltar ao Benfica no verão de 1997 para se afirmar como titular indiscutível durante três anos e meio, mas a sua melhor fase do ponto de vista individual, na qual somou metade das 24 internacionalizações que amealhou pela seleção principal, coincidiu com aquele que terá sido o período mais negro da história dos encarnados. Esteve, por exemplo, na derrota por 0-7 com o Celta de Vigo em novembro de 1999 e, consequentemente, foi pressionado pela direção de Vale e Azevedo a sentar-se ao lado de João Vieira Pinto para ler um comunicado na sala de imprensa a pedir desculpa aos adeptos.
 
 
Apesar de ter atuado em oito dos dez jogos da fase de qualificação, tendo apenas falhado dois devido a lesão, ficou de fora da convocatória de Humberto Coelho para o Euro 2000. “Foi das maiores desilusões da minha vida não ter ido a esse Europeu. Nem que tivesse ido pela campanha que tinha feito no apuramento. Era mais do que merecido. Mas pronto, houve outros valores que se levantaram. Não fui e foi um grande murro no estômago que levei na altura. Mas pronto, o futebol funciona assim (…) Quando se faz uma campanha como a que eu tenho feito, em que se é apurado para a fase final de um Europeu que, muitas vezes, acontece um ou duas vezes, no máximo, na carreira de um jogador, e depois não se vai... É como, sei lá, como descascar um camarão e depois ser o vizinho ou o gato a comer o camarão”, desabafou à Tribuna Expresso em março de 2017. Na altura, o selecionador apenas convocou três centrais: Fernando Couto, Jorge Costa e Beto.
 
 
Na temporada seguinte, marcada pela pior classificação de sempre na I Divisão (6.º lugar), começou como titular e capitão, ainda com Jupp Heynckes, mas José Mourinho relegou-o para o banco após uma pesada derrota diante do Marítimo na Madeira (0-3). Ainda disputou alguns dos últimos jogos da época, às ordens de Toni, mas uma operação ao joelho precipitou-lhe a dispensa e, posteriormente, a proibição de entrar no balneário da equipa principal.
 
Depois de ano e meio sem jogar, aventurou-se no futebol brasileiro para vestir a camisola do Fluminense em 2003, mas não chegou a ser inscrito. Acabou por regressar a Portugal para representar o Estrela da Amadora na última temporada da carreira, em 2003-04, não conseguindo impedir a despromoção dos tricolores à II Liga. Depois pendurou as botas, aos 33 anos, e tornou-se agente de futebolistas.








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