O leão de Sines que marcou o primeiro golo da história da Taça dos Campeões Europeus. Quem viu jogar João Martins?
João Martins representou o Sporting entre 1946 e 1959
Avançado nascido em Sines, no
litoral alentejano, está na história como o autor do primeiro golo da história
das competições europeias, poucos meses depois de ter sido o desmancha prazeres
que tirou ao Belenenses
aquele que seria o seu segundo título nacional.
Com uma infância difícil,
trabalhou como corticeiro, mas foi através do seu talento para marcar golos,
patenteado ao serviço do Sport Lisboa e Sines em torneios populares e jogos
amigáveis (porque o clube não estava filiado na Associação
de Futebol de Setúbal e por isso não era federado), que conseguiu uma vida
melhor. Em 1946 foi para Lisboa pela mão
do amigo Alfredo Trindade, que o quis levar para o Sporting.
Mas consciente de que pouco jogaria na equipa dos cinco violinos, decidiu antes
tentar a sorte da CUF,
até para pedir um emprego em troca. Treinou e agradou, mas recusou-se a assinar
contrato enquanto o emprego não aparecia, continuando apenas a treinar. Na altura, os cufistas
treinavam ao lado do Sporting
no Lumiar, onde António Abrantes Mendes, um ex-jogador dos leões
que continuava a colaborar para o clube, lhe detetou o talento e recrutou-o.
João Martins jogou pouco nas
primeiras épocas de verde e branco, mas a retirada de cena de Peyroteo
em 1949 abriu-lhe as portas da frente de ataque, passando a ser o avançado
centro titular, embora também pudesse atuar como extremo ou interior esquerdo –
até chegou a jogar a guarda-redes em dois jogos, sem ter sofrido golos –, e o
habitual melhor marcador da equipa. Com naturalidade, estreou-se pela
seleção
nacional a 23 de novembro de 1952, num empate com a Áustria
nas Antas (1-1), tendo somado um total de onze internacionalizações até 1957. Melhor marcador da I
Divisão em 1953-54, com 31 golos em 26 jornadas, marcou o golo que decidiu
o campeonato da época seguinte, entregando o título ao… Benfica.
Quando o Belenenses
se preparava para se sagrar campeão nacional pela segunda vez na história e
batia o Sporting
por 2-1 nas Salésias na última jornada, Martins fez o 2-2 ao cair do pano e
permitiu a ultrapassagem das águias.
Meses depois, teve início a
edição inaugural da Taça dos
Campeões Europeus, mas os clubes convidados não foram necessariamente os
campeões de cada país, mas sim os mais populares e com um passado mais forte. O
jornal L’Equipe, que tomou as rédeas da competição com a bênção da UEFA,
decidiu então convidar o Sporting
e não o campeão nacional Benfica.
Como ainda não existiam jornadas europeias tal como hoje se apresentam, eram os
clubes que combinavam entre si os dias dos jogos, necessitando apenas de
informar a organização, tendo o Sporting
e o Partizan acordado a data de 4 de setembro de 1955 para a data da primeira
mão, que assim se tornou no primeiro jogo de sempre da Taça dos
Campeões Europeus e também das competições europeias. Com o Estádio
José Alvalade em obras, o encontro realizou-se no Jamor, tendo terminado
empatado 3-3. O primeiro golo foi da autoria de João Martins, que assim ganhou
lugar eterno na história da UEFA. Também por isso, o sineense é conhecido com o
sexto violino.
Deixou o Sporting
e a carreira de futebolista em 1959, encerrando assim um ciclo de 249 jogos, 157
golos, sete campeonatos nacionais (1947-48, 1948-49, 1950-51, 1951-52, 1952-53,
1953-54 e 1957-58) e uma Taça
de Portugal (1953-54) de leão ao peito.
Depois emigrou para França, onde
foi operário fabril. Viria a morrer em novembro de 1993, em Paris, vítima de
ataque cardíaco, quando tinha 66 anos.
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