quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Faz hoje 20 anos que Angola carimbou o apuramento para o Mundial 2006. Quem se lembra?

Akwá marcou o golo decisivo no terreno do Ruanda
8 de outubro de 2005 é, muito provavelmente, o dia mais marcante da história do futebol angolano. Nesta data, um golo solitário de Akwá no terreno do Ruanda valeu aos palancas negras a qualificação para o Mundial 2006, o único em que marcou presença, depois de uma intensa batalha com a mais conceituada Nigéria durante a fase de apuramento.
 
Essa fase de qualificação até começou de forma muito atribulada, com uma derrota no Chad, por 1-3, na primeira-mão da primeira eliminatória. Contudo, Angola deu a volta ao texto com uma vitória por 2-0 no Estádio da Cidadela, em Luanda, assegurando a passagem para a fase de grupos da qualificação graças à regra que valorizava os golos marcados fora.
 
Alojados no mesmo agrupamento de Nigéria, Argélia, Zimbabué e Gabão, os homens selecionados por Luís de Oliveira Gonçalves fizeram valer o fator casa, tendo vencido os cinco encontros disputados em solo nacional, com destaque para o triunfo sobre a concorrente direta Nigéria (1-0) a 20 de junho de 2004 em Luanda, com um golo de Akwá nos derradeiros minutos.
 
Fora de portas, os angolanos averbaram três empates e uma derrota nos primeiros quatro jogos. Mas no último e decisivo, em Kigali, capital do Ruanda, arrancaram a ferros o triunfo que garantiu a qualificação, com Akwá a responder com um cabeceamento certeiro a um calibrado cruzamento de Zé Kalanga a partir do corredor direito, aos 79 minutos. Esse resultado permitiu a Angola terminar o grupo em primeiro lugar, com os mesmos 21 pontos da Nigéria, mas com vantagem no confronto direto.
 
 
“Foi um dia super agitado para todos nós, a tensão de certeza que estava acima do normal, pela importância do jogo e porque pela primeira vez na história da qualificação para um Mundial, só dependíamos de nós. Tínhamos sido alertados para o jogo de bastidores que seríamos alvo, pois a Nigéria também estava à espreita e, no caso de um deslize nosso, eles seriam os beneficiados. Lembro-me que quando chegamos ao Estádio Amahoro, ao entrarmos, tivemos que ser revistados a pente fino, como se fossemos marginais. Tivemos que tirar a roupa toda e só passámos de roupa interior pelo aparelho do raio X que havia no campo. As nossas pastas foram altamente revistadas por pessoas com um tom ameaçador, coisa nunca vista durante todos os anos em que joguei futebol. Mas felizmente já estávamos preparados para tudo e aquele comportamento da polícia ruandesa não nos afetou em nada, muito pelo contrário, alertou-nos ainda mais para as dificuldades que iríamos encontrar. Quando fomos aquecer para o campo, vimos outra coisa que nos chamou atenção: o estádio estava super cheio, todo lotado, o que era estranho tendo em conta que o jogo não contava para nada para o Ruanda. Mas esse acabou por ser outro fator que acabou por pender a nosso favor”, recordou Akwá, em entrevista a O Blog do David, em julho de 2021.
 
Sempre que revê o golo que valeu a qualificação para o Campeonato o Mundo, o avançado que na altura representava o Al-Wakrah do Qatar diz sentir “a mesma alegria vivida no dia 8 de outubro de 2005”, mas considera que o estatuto de herói nacional se deve estender a “todos os que fizeram parte daquela brilhante campanha”.
 
 
“Esse foi o momento mais marcante da seleção angolana. Ninguém acreditava na nossa qualificação, mas, com um grande profissionalismo da parte dos jogadores e uma direção que tudo fez para que não nos faltasse nada, fizemos um jogo tranquilo, apesar de a Nigéria nos estar a pressionar. Querendo ou não, houve um incentivo para que o Ruanda nos travasse. Mas nós estávamos confiantes, sem pressão, não sentimos medo e depois do apito final houve alegria, choros… de tudo um pouco. O que mais nos marcou foi a chegada a Angola, onde fomos recebidos pelo Presidente da República, primeira-dama e todo aquele povo que se juntou para nos apoiar. Esse foi o momento mais marcante da nossa carreira a nível de seleção”, lembrou, por sua vez, André Macanga, também em entrevista a O Blog do David.
 
 
Na fase final do Mundial 2006, disputada na Alemanha, Angola começou por perder com Portugal na estreia (0-1), tendo depois empatado com México (0-0) e Irão (1-1), o que ditou a eliminação ainda na fase de grupos.
 
“Sabíamos que era difícil, mas não impossível, apesar de estarmos num grupo em que o favoritismo recaía sobre Portugal e México, mas mesmo assim tudo fizemos para passar à fase seguinte, o que acabou por não ser possível. Saímos de cabeça erguida da Alemanha, com a consciência de missão cumprida”, admitiu Akwá.
 
“Fizemos as coisas quase na perfeição, e penso que demos uma excelente imagem de Angola e em especial do futebolista angolano. O amargo de boca só tem a ver com a ambição, logicamente que ambicionávamos mais, mas penso que só temos que estar orgulhosos e vaidosos pelo que fizemos e, mais importante, o que proporcionámos a todos os angolanos. Isso sim fica registado para todo o sempre”, recordou também ao O Blog do David o antigo guarda-redes João Ricardo, o único de 736 jogadores que estiveram nesse Campeonato do Mundo que não… tinha clube.
 








 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...