Hoje faria anos o vice-campeão europeu de 1996 que defendeu a baliza do Beira-Mar. Quem se lembra de Srnicek?
Pavel Srnicek atuou em 64 jogos pelo Beira-Mar entre 2004 e 2006
Um daqueles casos de jogadores
com um belíssimo currículo e que caem quase de para-quedas em equipas médias do
futebol português. Pavel Srnicek representou a República
Checa em dois Campeonatos da Europa, tendo sido vice-campeão continental no
primeiro
(1996) ainda que sem jogar e o dono da baliza da sua seleção
no segundo
(2000), assim como numa edição da Taça das Confederações (1997). Somou
também 49 internacionalizações, 146 jogos na Premier
League e 29 na Serie
A. Mas entre 2004 e 2006, já na reta final da carreira, defendeu a baliza
do Beira-Mar,
sendo que em 2005-06 o fez na II
Liga.
Mas recuemos até aos primórdios
da carreira desde malogrado guarda-redes, filho de um lenhador e nascido em
Ostrava, ainda no tempo da Checoslováquia, a 10 de março de 1968. Estreou-se
como profissional em 1988 no clube local, o Baník Ostrava, de onde saltou
diretamente para o Newcastle
em janeiro de 1991. Rapidamente se estabeleceu como o
guarda-redes titular dos magpies,
então no Championship, tendo contribuído para a conquista do título do segundo
escalão e consequente promoção à Premier
League em 1993, numa temporada em que foi orientado por Kevin
Keegan. Em 1993-94 não só se estreou no patamar
maior do futebol inglês como contribuiu para um honroso 3.º lugar no
campeonato, embora tenha dividido a titularidade com Mike Hooper, proveniente
do Liverpool. Apesar de alguns deslizes como
uma expulsão numa vitória no terreno do Leicester
na jornada inaugural da Premier
League em 1994-95 e de um erro incrível que resultou num golo de Ian Rush
numa receção ao Liverpool
(1-1) em setembro de 1994, e da concorrência de Shaka Hislop, foi segurando e
justificando um lugar no onze.
Srnicek tornou-se mesmo, a meio
da década de 1990, o estrangeiro com mais tempo no Newcastle,
ultrapassando os quatro anos que os irmãos chilenos George e Ted Robledo
passaram no clube entre 1949 e 1953.
Durante a estadia em St. James
Park (1991 a 1998) tornou-se internacional A pela República
Checa, estreando-se num empate em Malta em outubro de 1994, e foi convocado
para o Euro
1996. Embora tivesse sido sempre suplente de Petr Kouba durante o torneio,
pode gabar-se de ter feito parte da seleção
que atingiu a final desse Campeonato
da Europa, que viria a ser ganho pela Alemanha. Após o Europeu
conquistou a titularidade da baliza checa, o que lhe permitiu contribuir
ativamente para a obtenção do terceiro lugar na Taça das Confederações em 1997.
Em 1998 voltou ao Baník Ostrava,
mas ao fim de poucos meses regressou a Inglaterra para defender as redes do
Sheffield Wednesday, tendo feito a estreia pelos owls precisamente
frente ao Newcastle,
a 14 de novembro de 1998. Em 1999-00 mostrou-se impotente para impedir a
despromoção ao Championship, mas esteve em destaque numa partida diante do Aston
Villa em dezembro de 1999, ao defender dois penáltis, um de Dion Dublin e
outro de Paul Merson.
No verão de 2000 deixou o
Sheffield Wednesday ao abrigo da lei Bosman e foi o titular da República
Checa no Campeonato
da Europa, numa campanha em que a seleção
que também tinha Pavel Nedved, Patrick Berger, Vladimír Smicer, Karel Poborsky
e Jan Koller não conseguiu ir além da fase de grupos, tendo sido superada por Países
Baixos e França.
A seguir ao torneio, assinou por
três anos pelos italianos do Brescia, clube pelo qual jogou na Serie
A. Em novembro desse ano foi protagonista de um incidente, ao ser atingido
por um artefacto pirotécnico num jogo diante do Reggina.
Após uma curta passagem pelo
Cosenza, voltou uma vez mais a Inglaterra para defender a baliza do Portsmouth
entre setembro de 2003 e fevereiro de 2004, quando se mudou para o West
Ham, mas não foi particularmente feliz em ambos os clubes, numa fase em que
já se tinha retirado da seleção. No verão de 2004, Srnicek treinou
à experiência no Coventry City e manteve a forma no modesto emblema checo Opava.
Foi neste contexto que acabou por reforçar o Beira-Mar.
Em 2004-05 atuou em 32 encontros e até manteve a baliza a zero numa vitória
sobre o Benfica
no Estádio
da Luz (2-0), mas não conseguiu impedir a despromoção à II
Liga.
Ainda assim, permaneceu em Aveiro
na época seguinte e ajudou os aurinegros
a conquistar o título de campeão do segundo
escalão e o consequente regresso à I
Liga, numa campanha em que sofreu apenas 16 golos em 32 jogos no
campeonato.
Após a subida de divisão, o
guarda-redes checo deixou o Beira-Mar
e esteve alguns meses sem clube. Inesperadamente, acabou por regressar ao Newcastle
a 29 de setembro de 2006, tendo assinado um vínculo de três meses numa altura
em que o habitual titular Shay Given estava lesionado. A 23 de dezembro do
mesmo ano, voltou mesmo a jogar na Premier
League, chegando a atuar por duas vezes no campeonato
inglês, o que lhe valeu a renovação de contrato até ao final da época.
Depois deste regresso aos magpies
decidiu pendurar as luvas, aos 39 anos. Entretanto, criou a sua própria escola
de guarda-redes na República Checa, tendo treinado jovens de todo o mundo e
estado envolvido em eventos de organizações de caridade. Entre 2012 e 2013 foi
também treinador de guarda-redes do Sparta
Praga. A 20 de dezembro de 2015 sofreu
uma paragem cardíaca enquanto corria em Ostrava, foi colocado em coma induzido e
acabou por morrer nove dias depois, aos 47 anos, quando os médicos desligaram as máquinas na
sequência de danos cerebrais irreversíveis.
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