quinta-feira, 1 de agosto de 2024

João Neves no PSG. Uma questão de potencial, momento e contexto

João Neves vai fazer 20 anos a 27 de setembro
Numa altura em que cada vez mais se procura o potencial e menos se espera pela confirmação do valor dos futebolistas, João Neves não aparecerá numa nova janela do mercado de transferências com apenas 19 anos. A cada mês que passa, a tendência será de desvalorização. Porquê? Porque não há nada mais caro hoje em dia no mercado do que um futebolista ainda adolescente a deslumbrar. A partir daí, tende a ser sempre a perder: deixa de ser adolescente e pode deixar de deslumbrar.

Quando um adolescente aparece na equipa principal o deslumbrar pode significar apenas mostrar talento, ser assertivo e aguerrido, mas à medida que a idade avança a exigência sobe. Os erros vão sendo menos tolerados. António Silva tem sofrido isso na pele. João Neves não chegou a senti-lo, mas talvez não tardasse a lamentar-se que o Benfica deveria ter naquela posição alguém mais forte nos duelos aéreos e/ou mais chegada á área e/ou participação em golos.
 
Estamos a falar de um médio que se tem exibido a muito bom nível, mas pelo qual não meto as mãos no fogo quanto a uma grande carreira. Nem para manter a titularidade no Benfica durante muitos e bons anos. Não estou a dizer que não seja possível, mas não vejo isso como um dado adquirido.
 
Para a sua posição não é alto nem forte nos duelos aéreos, tem pouca chegada à área para executar remates ou passes para finalização, o que se traduz em números modestos, e também não é alguém que se destaque a galgar metros a conduzir a bola. Por outro lado, embora aguerrido não tem a intensidade de um Kanté.
 
Dados de João Neves na Liga Portuguesa em 2023/24
Se tivermos em conta que João Neves soma seis participações em golos (quatro golos, duas assistências) em 75 jogos na equipa principal e que o seu antecessor, Enzo Fernández, amealhou 10 participações em golos (quatro golos, seis assistências) em 29 encontros de águia ao peito, é revelador do quão longe está o jovem médio português dos padrões da nata do futebol.

Neste caso, tal como no de João Félix ou Renato Sanches, todos eles titulares indiscutíveis do Benfica e ainda adolescentes no momento da transferência, a minha visão vai sempre num sentido: embrulhá-los, meter-lhes um laço e enviá-los para um poderoso clube europeu ao melhor preço possível.
 
Considero, por isso, que o Benfica faz bem em vendê-lo. O futebol é o momento. E o valor não me parece exagerado nem curto para o que se pratica no mercado. 60 milhões mais 10 por objetivos mais um empréstimo com opção de compra relativamente baixa de Renato Sanches não é coisa pouca.
 
O comprador também aparenta ser o melhor para o passo seguinte da carreira de João Neves. O Paris Saint-Germain de Luis Enrique utiliza um 4x3x3 com um trio de centrocampistas algo incaracterístico, pois os três (normalmente Vitinha, Fabián Ruiz e Zaire-Emery) fazem um pouco de tudo no miolo. Não há um 6 nem um 10 declarado. É como se fossem três 8. Vitinha muitas vezes aparece nos grafismos como 6, com um papel mais recuado na construção de jogo, mas depois também acaba por ser ele o que tem mais chegada à área. Se o objetivo do treinador espanhol for manter a ideia para a zona medular, é um contexto que favorece as características de João Neves, que também ainda não tem uma posição declarada – tem andado a meio caminho do 6 e do 8. 

Posições médias do meio-campo do PSG na final da Taça de França e nas meias-finais da Champions






 




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