Deco brilhou na final da Liga dos Campeões em 2003-04 |
Lembro-me de ter tido uma revista
da Liga
dos Campeões nos últimos meses de 2000 que falava sobre um jogo entre Sporting
e Mónaco
na fase de grupos da Champions
em 1997-98 e também de ter assistido a uma partida de pré-época entre leões
e monegascos
em julho de 2003, cerca de duas semanas antes de Cristiano
Ronaldo ter partido a loiça toda frente ao Manchester United na inauguração do
Estádio José Alvalade.
Mas, em termos de jogos oficiais
que me recordo de acontecerem, o primeiro entre Mónaco
e equipas portuguesas foi a final da Liga
dos Campeões em 2003-04. 26 de maio de 2004, um dia inesquecível. Embora
não fosse portista,
nesse dia estava pelo FC
Porto. Apesar da vitória, foi um dia doloroso para mim, uma vez que um
torcicolo me levou a assistir à segunda parte do encontro no hospital.
Os dragões,
orientados por José
Mourinho, pareciam inacreditavelmente ter na final um dos adversários menos
reputados do seu percurso até lá, pois tinham superado um grupo em que estavam
incluídos Real
Madrid (dos galácticos), Marselha
(finalista da Taça
UEFA nessa época) e Partizan e eliminado Manchester
United (campeão inglês em título, com Cristiano
Ronaldo, Van Nistelrooy e companhia), Lyon
(durante o seu período hegemónico) e Deportivo
da Corunha (uma das principais equipas espanholas da altura).
O Mónaco,
comandado por Didier Deschamps, até era uma equipa incapaz de ganhar o título
francês desde 1999-00 e não tinha propriamente um jogador que fosse titular
numa grande seleção mundial – Fernando Morientes era o principal nome na
altura, Patrice Evra e Ludovic Giuly viriam também a tornar-se futebolistas
reputados –, mas o que mais assustava na formação do Principado era o seu
percurso na Champions:
primeiro num grupo com Deportivo,
PSV
e AEK e besta negra de Real
Madrid e Chelsea
nos quartos e nas meias-finais, respetivamente.
No entanto, e apesar de alguns
sustos provocados pelos monegascos
na primeira parte, o FC
Porto impôs o espírito conquistador que já na época anterior o tinha levado
à conquista da Taça
UEFA. No final do primeiro tempo, na sequência de um cruzamento de Paulo
Ferreira e de um ressalto, a jovem promessa brasileira Carlos Alberto colocou
os portistas
em vantagem (39 minutos) em Gelsenkirchen, na Alemanha.
Depois de meia hora sem
alterações no resultado, a entrada de Dmitri Alenichev revelou-se decisiva para
que os azuis
e brancos dilatassem à vantagem. Aos 71’, o médio russo serviu Deco, que
através de um remate colocado fez o 2-0. Quatro minutos depois, Alenichev aproveitou
um ressalto num defesa no seguimento de um passe de trivela de Derlei para
fuzilar o guarda-redes italiano Flavio Roma e sentenciar a vitória portista.
“Dezassete anos depois, o futebol
português volta a estar no trono da Europa graças ao FC
Porto. Uma aventura gloriosa que teve a final mais feliz. Melhor só mesmo
de encomenda. Não foi o jogo empolgante da final de há um ano em Sevilha, mas o
título que estava em jogo foi um peso difícil de suportar. O FC
Porto soube, no entanto, estar à altura da responsabilidade e nos momentos
em que a sorte do jogo lhe sorriu não lhe virou as costas. E sobretudo soube
ser grato. O jogo foi quase sempre muito tático e só na reta final,
especialmente depois de Deco arrumar a questão, é que se abriu e se tornou mais
excitante. Até lá, houve demasiado rigor, alguns nervos e sobretudo a
consciência de que todos os detalhes eram importantes e que um pequeno erro
podia ser fundamental para fazer a diferença”, resumiu o Record.
“Portugal tem razões para estar
feliz. Sorri, chora, pula de satisfação. O Futebol
Clube do Porto é campeão europeu pela segunda vez na sua história e a festa
todos a merecem 17 anos menos um dia depois da valsa de Viena, o dragão
impôs um triunfo por números que não deixam dúvidas sobre quem foi, afinal, a
equipa mais forte no velho continente este ano. Esqueçam-se as amarguras da
vida, os problemas em casa, no trabalhou ou com o Governo. As lamentações de um
país pequeno. Somos grandes e não temos de o esconder. Pequenos na dimensão,
mas inultrapassáveis no feito e na atitude. Foi de escudo ao peito e com
apreciável atenção a todos os pormenores, que a equipa partiu para um jogo que
fica gravado a letras de ouro no álbum de recordações do futebol. O exemplo
está dado, agora resta-nos continuar a acreditar no talento nacional e esperar
festejar mais um grande título nos primeiros dias de julho. Mas esta vitória é,
em primeiro lugar, de todos os portistas.
Começando por José
Mourinho, o elemento mais importante e toda uma cadeia de sucesso, que
passa obviamente pelo talento de certos jogadores, como Carlos Alberto, Deco e Alenichev,
prodigiosos criativos que jamais sairão da galeria de ilustres do clube, pelo
facto de terem sido eles a marcar os três golos da vitória. O segredo está aí,
e na coesão de um grupo forte, extremamente bem preparado, não só taticamente,
mas também mental e fisicamente. Tudo bateu certo e teria mesmo de bater, pois
seria difícil enganar um destino traçado há cerca de dois anos e meio, quando
pela porta do departamento de futebol do Estádio das Antas caminhou um senhor
chamado Mourinho.
O ciclo terá terminado, é certo, mas haverá melhor maneira de dizer adeus senão
com a Taça dos Campeões Europeus nas mãos?”, escreveu o Maisfutebol.
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