segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A minha primeira memória de... jogos entre Lyon e equipas portuguesas

Deco entre Patrick Müller e Michel Essien no jogo do Dragão
A minha primeira memória de um jogo entre o Lyon e equipas portuguesas é digna de vergar uma lágrima aos adeptos do emblema francês mas também aos do FC Porto. Aos do Lyon porque significa recuar aos tempos áureos de um clube que conquistou de forma consecutiva os sete títulos nacionais da sua história, entre 2001-02 e 2007-08, e aos portistas porque é recordar a conquista da Liga dos Campeões em 2003-04, com José Mourinho no comando técnico.


O emblema gaulês, então orientado por Paul Le Guen, contava com vários jogadores de elevada qualidade nas suas fileiras, entre os quais se destacava o médio brasileiro Juninho Pernambucano, grande especialista em livres diretos. Mas havia muito mais: o médio ganês Michael Essien e o extremo francês Florent Malouda, que se transferiram para o Chelsea nas épocas que se seguiram; o central/médio defensivo brasileiro Edmilson, campeão europeu pelo Barcelona na temporada seguinte; o futuro médio do Real Madrid, o ganês Mahamadou Diarra; outros internacionais franceses em ascensão como o guarda-redes Grégory Coupet, o lateral Anthony Réveillère, o extremo Sidney Govou e o avançado Péguy Luyindula; e jogadores experientes como o lateral belga Éric Deflandre, o central suíço Patrick Müller, o médio ofensivo francês Vikash Dhorasoo e o avançado brasileiro Élber (ex-Bayern Munique). Era muito difícil jogar no Stade de Gerland naquela altura.

Ainda assim, o FC Porto de José Mourinho tinha razões para estar confiante. Tinha um treinador e uma equipa recheada de ambição, com vários jogadores em afirmação suportados pelos capitães Vítor Baía e Jorge Costa. Nos oitavos de final tinha deixado o Manchester United pelo caminho, na fase de grupos tinha vencido os franceses do Marselha em casa e fora e na época anterior tinha conquistado a Taça UEFA, numa caminhada em que deixaram pelo caminho equipas como os franceses do Lens, os gregos do Panathinaikos, os italianos da Lazio e, na final, os escoceses do Celtic.

A primeira-mão foi no recém-inaugurado Estádio do Dragão e os portistas aproveitaram o fator casa para dar um passo de gigante rumo às meias-finais. À beira do intervalo, um momento sempre crucial, os azuis e brancos colocam-se em vantagem: cruzamento a partir da direita de Carlos Alberto, remate cruzado ao segundo poste de McCarthy e desvio à boca da baliza por parte de Deco (44').

No segundo tempo Deco voltou a estar em evidência, desta vez ao apontar o livre lateral que serviu de cruzamento para o segundo golo, apontado de cabeça por Ricardo Carvalho, que saltou mais alto do que toda a gente na área francesa para deixar o FC Porto com um pé na próxima eliminatória (71').

“Um FC Porto pleno de confiança, que estudou minuciosamente o adversário e sabia exactamente os parâmetros em que o jogo se iria desenrolar, teve a arte e o engenho para ganhar tranquilamente ao Lyon e dar assim um passo de gigante rumo às meias-finais da Liga dos Campeões. Suportado em actuação de grande personalidade e numa segurança de processos absolutamente espantosa, o FC Porto fez ao Lyon aquilo que nenhuma equipa francesa consegue há mais de dois anos: reduzi-la a uma expressão menor, vulgarizando-a a quase todos os níveis”, escreveu o Record.


Na segunda mão, no Gerland, o FC Porto não se limitou a defender a vantagem. Empatou a dois golos mas nunca esteve a perder e muito menos com o apuramento em risco. Em mais uma noite de grande categoria da equipa de José Mourinho, Maniche brilhou ao marcar os dois golos da formação portuguesa.

O primeiro foi apontado logo aos seis minutos, já depois de ter sido anulado um golo a Luyindula por fora de jogo. Um remate de primeira a passe de Deco deixou o Lyon a precisar de marcar quatro golos e não sofrer mais nenhum para seguir em frente.

Os franceses empataram pouco depois Luyindula, a passe de Malouda, mas o FC Porto reentrou forte na segunda parte e recolocou-se em vantagem no jogo aos 47 minutos, mais uma vez através de um remate de primeira de Maniche a (grande) passe de Deco.

O melhor que os homens orientados por Paul Le Guen conseguiram foi reduzir já nos últimos minutos, por Élber, de cabeça, após mais um belíssimo cruzamento de Malouda (90'). Nessa altura, já jogavam reduzidos a dez, devido à expulsão de Edmílson por acumulação de amarelos.

“Para quem, na Europa, ainda não o conhece, ou conhece mal, Maniche ofereceu cartões de visita nos quais se podia ler que, apesar da grande genialidade, não faz parte da Selecção de Portugal, dado que Scolari não o convoca. Maniche marcou os dois golos que levaram os dragões para as meias-finais da Liga dos Campeões (os dois golos do Olympique, se quiserem, empatavam a eliminatória e o médio portista, com uma enorme ajuda de Deco, desempatou-a), mas fez ainda muito mais que isso: acertou as contas no meio-campo, desdobrando--se em funções; fez passes fantásticos, um deles a isolar McCarthy. E teve o prémio de terminar o jogo nas funções de patrão, o homem que, sem Deco em campo, decidia os ritmos do jogo, as opções para as saídas ofensivas, enfim, o pensador”, pode ler-se na crónica do Record.


À exceção de jogos particulares, o Lyon só voltou a defrontar equipas portugueses em 2010-11, batendo-se com o Benfica na fase de grupos da Liga dos Campeões. Já depois de ter perdido a hegemonia do futebol francês, mas ainda com jogadores de qualidade como Lloris, Réveillère, Pjanic, Cris, Gourcuff, Michel Bastos, Kallstrom, Lovren, Gomis, Lacazette ou os ex-portistas Cissokho e Lisandro López, a formação então orientada por Claude Puel venceu por 2-0 no Gerland e perdeu por 4-3 na Luz, num jogo em que os encarnados chegaram a estar com quatro golos de vantagem.


















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