Rafa Fonseca representou o Recreio de Águeda em 2020-21 |
Ainda a digerir a despromoção do Recreio
de Águeda aos distritais da AF Aveiro, diz que “é a pior sensação que um
jogador pode ter”, logo num clube que “é um dos melhores do distrito”, numa
fase em que vai remetendo as propostas para 2021-22 para o empresário.
Em entrevista, Rafa Fonseca passa
em revista os largos anos que passou na Oliveirense,
clube em que fez quase toda a formação e que ajudou a chegar à final four da Taça
da Liga em 2017-18, e recorda as passagens por um Bustelo onde se sentiu “em
casa” e por uma Sanjoanense
com “adeptos calorosos”. No entanto, diz que foi no Algarve
que encontrou o melhor que clube que representou, “sem dúvida alguma”.
RUI COELHO - Embora o Rafa Fonseca tivesse apontado quatro golos em 16
jogos no Campeonato
de Portugal, não conseguiu impedir a queda do Recreio
de Águeda aos distritais da AF Aveiro. Que balanço faz da temporada 2020-21
em termos individuais e coletivos?
RAFA FONSECA - Na minha opinião,
esta temporada desenrolou-se de forma atípica devido à situação pandémica em
que vivemos. Ao longo da temporada houve sempre alguns problemas, até ao ponto
de chegarmos a parar durante 15 dias devido a termos casos positivos de covid-19
dentro do plantel. Ficámos inseridos na melhor e mais competitiva série do Campeonato
de Portugal, na minha opinião, e sabíamos que não havia grande margem de
erro, todos os pontos seriam importantes e houve momentos em que não
conseguimos manter ou até mesmo reagir a resultados. O Recreio
de Águeda é uma enorme instituição, com capacidade para lutar com os
melhores do distrito, mas esta época foi mal planeada desde o primeiro dia e
houve coisas que não correram bem. A nível individual também não foi a época
que planeei, tive uma lesão que me retirou da competição por um período longo e,
num campeonato tão curto, foi difícil recuperar a boa forma que tinha antes da
lesão.
O que correu mal para que o desfecho fosse a descida de divisão e como
é que o Rafa Fonseca tem estado a digerir a despromoção?
Ser despromovido é a pior
sensação que um jogador pode ter, ninguém quer ter no currículo uma descida de
divisão. O facto desta paragem entre o fim da última época e o início desta ser
tão longa custa mais a qualquer jogador digerir. Queremos iniciar uma nova
etapa o mais rápido possível, queremos mostrar que somos capazes de fazer
melhor do que fizemos na última temporada. Resta treinar e focarmo-nos na
próxima época, para sermos melhor do que fomos na anterior. É o que tenho
feito.
Já sabe onde vai jogar na próxima temporada?
Neste momento sou um jogador
livre e deixo ao meu empresário todas as propostas que me possam surgir, mas
para já ainda é cedo para tomar decisões.
“O Recreio de Águeda é um dos melhores clubes do distrito”
Rafa Fonseca joga habitualmente no ataque |
O Recreio
de Águeda é um clube histórico português, que inclusivamente já esteve na I
Divisão. O que achou do clube?
O clube é um dos melhores do distrito,
sem dúvida nenhuma, dispõe de condições de treino muito boas e proporciona aos
seus jogadores boas condições para praticar futebol. Tem lacunas como muitos
outros clubes, mas sei perfeitamente que a direção do clube está certamente a
trabalhar para devolver o clube aos campeonatos nacionais.
O que achou dos métodos do mister Tonau?
Cada treinador tem os seus
métodos e os seus princípios. Aprendi coisas com o professor Tonau, tal como
aprendi com todos os treinadores que tive até hoje. Todos me enriqueceram como
jogador e como pessoa.
Voltando atrás no tempo… o Rafa nasceu em Oliveira de Azeméis. Como é
que foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Desde de criança que acompanhei o
meu padrinho, que foi jogador de futebol. O bichinho começou aí. Foi também o
meu padrinho que me inscreveu na escola de formação da Oliveirense,
onde fiz toda a minha formação. Uma vez que cresci numa pequena aldeia, era
possível estar sempre com os meus colegas a jogar futebol, quer em casa uns dos
outros ou até mesmo em ruas pouco movimentadas. Mas sem dúvida que o principal
impulsionador foi o meu padrinho.
“Gostei imenso do meu percurso na formação da Oliveirense e nunca quis sair do clube”
Foi na Oliveirense
que fez toda a sua formação. Quais são as melhores memórias que guarda desses
tempos?
Gostei imenso do meu percurso na
formação da Oliveirense.
Nunca quis sair do clube, sempre tive bons treinadores e que me motivavam
imenso e sempre fui feliz. Acho que enquanto somos crianças o que realmente é
importante é sermos felizes por praticar desporto e sentirmo-nos realizados, e
foi sempre assim que me senti. O que mais me recordo e mais me enriquece foi
ser acompanhado pelos meus pais em todos os jogos, sempre que eu jogava eles
estavam lá. Sentir que os meus pais me apoiavam e me acompanhavam é a melhor
memória que tenho do futebol de formação.
Em 2012 cumpriu um sonho de menino ao jogar pela equipa principal da Oliveirense.
Qual foi a sensação?
O sonho de qualquer jogador é
chegar à equipa principal do clube que o formou, eu tive essa oportunidade e
tentei sempre agarrar. É lógico que o futebol de formação é muito diferente do
futebol sénior e na altura em que cheguei à equipa sénior da Oliveirense,
o clube estava muito bem cotado na II
Liga. Lembro-me que no meu primeiro ano de sénior chegamos às meias-finais
da Taça
de Portugal, sendo eliminados pela Académica,
que nesse ano conquistou a Taça.
Não era fácil naquele tempo,
sendo jovem, jogar na equipa. Mas foram os anos em que mais aprendi no futebol
porque tive a oportunidade de jogar com jogadores muito experientes e que
sempre me ajudaram a crescer, sempre me tentaram indicar o melhor caminho.
“O Bustelo foi o clube onde me senti em casa”
Rafa Fonseca jogou pela Oliveirense na II Liga |
Não teve o tempo de jogo esperado na sua primeira época enquanto sénior
e surgiu depois a hipótese de jogar no Bustelo, então na III Divisão. Como
correu essa experiência?
Como já tinha referido, não era
fácil entrar numa equipa com a qualidade da equipa da Oliveirense.
Então em janeiro surgiu a oportunidade de ir para o Bustelo, que naquela época
funcionava quase como uma equipa satélite da Oliveirense.
Desde já digo que o Bustelo foi dos melhores clubes onde já joguei, foi a
melhor oportunidade que tive na carreira, uma vez que com 19 anos consegui a
minha primeira subida de divisão enquanto sénior. É importante referir que o
Bustelo nunca tinha chegado à II Divisão B, como era designada antigamente.
Tive a oportunidade de jogar muito mais tempo do que teria na Oliveirense
e é muito importante para os jogadores jovens terem minutos para que possam
evoluir mais.
A época no Bustelo culminou numa inédita subida à II Divisão B. O que
representou essa conquista para si e para as gentes do Lugar de Bustelo e qual
foi o sentimento de ter representado o clube?
Foi o clube onde me senti em
casa, onde me senti acolhido e acarinhado por todo o grupo de trabalho, sem
esquecer a direção do clube que nessa época desenvolveu um enorme trabalho. Só
quem esteve em Bustelo nessa época sabe o que representou para a vila aquela
subida de divisão, um clube com tantos anos de história nunca tinha alcançado
tal feito, foi inexplicável.
Em 2014 regressou à Oliveirense
para procurar a afirmação na II
Liga. Imaginamos que os anos que se seguiram tenham sido os melhores da sua
carreira, ainda que com uma descida e uma subida de divisão pelo meio…
Quando regressei à Oliveirense
sentia-me com mais capacidade para jogar, sentia-me mais jogador. Ter feito
tantos jogos pelo Bustelo ajudou imenso ao meu crescimento. Sem dúvida que
jogar na II
Liga e ter a oportunidade de defrontar jogadores que hoje são de seleção é
a melhor experiencia do futebol. Desci de divisão e achei que tinha de ficar no
clube para ajudar a equipa da minha cidade a subir novamente. Com um grupo de
jogadores incríveis conseguimos subir novamente à II
Liga.
Em 2017-18 contribuiu para a caminhada até às meias-finais da Taça
da Liga, numa altura em que já havia o formato de final four. Que memórias tem dessa campanha e como é que a equipa
lidou com tanto mediatismo?
A final four foi o melhor momento da minha carreira até hoje, foi o
ponto mais alto da minha carreira. Só quem assistiu aos jogos é que poderá
confirmar o quanto merecíamos estar na final da Taça
da Liga.
“Adeptos da Sanjoanense são calorosos”
Rafa Fonseca na Sanjoanense em 2018-19 |
No verão de 2018 assinou pela vizinha Sanjoanense,
então no Campeonato
de Portugal. Como correu a temporada em São João da Madeira e o que achou
do clube e dos seus adeptos?
Tomei a decisão de pôr fim a um
ciclo bonito na Oliveirense,
foi uma época em que não tive os minutos que desejava e decidi aceitar a
oportunidade da Sanjoanense.
Recém-adquirida por uma SAD, em reunião com o presidente da SAD senti que a Sanjoanense
contava mesmo com o meu contributo. Há pessoas que nos convencem pela vontade
de vencer e, naquele momento, o presidente convenceu-me. No que diz respeito
aos associados da Sanjoanense
posso dizer que são incríveis, é importante realçar que a Força Negra é uma
claque incansável e que sempre nos acompanhou. Em resumo os adeptos sanjoanenses
são calorosos.
Na Sanjoanense
foi orientado pelo experiente técnico Filipe Moreira. O que mais o impressionou
nele e o que acha que o torna num treinador tão conceituado no contexto de Campeonato
de Portugal?
O mister Filipe Moreira é um
verdadeiro conhecedor do Campeonato
de Portugal, para mim um dos melhores treinadores. Merece por completo todos
os resultados que tem obtido. Pela sua competência e principalmente pelo amor
que tem ao jogo não me surpreende as subidas que tem no Campeonato
de Portugal. É um verdadeiro conhecedor do jogo por completo.
“Louletano foi o melhor clube que representei, sem dúvida alguma”
Rafa Fonseca com a camisola do Louletano |
Em 2019 saiu pela primeira vez do distrito de Aveiro e rumou a sul para
representar o Louletano.
O que o levou a mudar de ares, como correu a temporada em Loulé e o que achou
do clube algarvio?
Loulé é uma história bonita da
minha carreira. Surgiu-me o convite por parte da direção do Louletano
e era impossível recusar tal convite. Posso dizer que até hoje o Louletano
foi o melhor clube que representei sem dúvida nenhuma. As melhores condições de
trabalho, a melhor organização quer em termos da direção quer em termos de
staff e uma cidade linda para se viver. Foi uma ótima experiência que só não se
tornou ainda mais especial porque fomos obrigados a parar devido à pandemia que
surgiu no país. Estávamos a quatro pontos dos dois primeiros lugares e numa
fase de vitórias na qual me fazia acreditar que iriamos estar a lutar pela
subida de divisão.
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogadores com os
quais tenha jogado.
Guarda-redes: Bruno Vale;
Defesas: Diego Galo,
Ângelo Meneses, Bruno Sousa e Mário Mendonça;
Médios: Hélio Pinto, Rui
Lima e Filipe Gonçalves;
Avançados: Bryan Riascos,
Clemente Ventura e Diogo Valente.
E que treinadores mais o marcaram e porquê?
Pedro Miguel foi o meu primeiro
treinador, o treinador que me lançou na equipa principal com 19 anos e com quem
comecei a aprender muitas coisas sobre o futebol. João de Deus, um treinador
que me desenvolveu muito, treinador muito rigoroso e com métodos de trabalho
que para mim foram os melhores. Não posso esquecer o mister Miguel Oliveira que
me treinou no Bustelo e que me ensinou muitas coisas, mas a que mais quero
realçar é que me ajudou a crescer como homem, com valores que ainda hoje carrego.
Filipe Moreira marcou-me imenso pelo
amor que deposita no jogo e pela capacidade de lidar de uma maneira muito boa
com tantas personalidades diferentes e culturas diferentes em prol de um grupo
de trabalho forte.
Além do futebol, tem outro tipo de atividade?
Sou licenciado em Educação Física
e Desporto e neste momento estou a tirar um TeSP [Cursos Técnicos Superiores
Profissionais] em Sistemas Mecatrónicos. Gosto muito de estudar, por isso ainda
continuo.
Entrevista realizado por Rui Coelho
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