Lampard desarma Costinha no jogo de Stamford Bridge |
Os sorteios são isso mesmo:
sorteios. Mas por vezes, parecem ser manipulados pelo além. O que dizer da Nigéria,
que em cinco das seis participações em Campeonatos do Mundo ficou alojada no
mesmo grupo que a Argentina? E o que dizer do Sporting,
que em
2000-01 defrontou o Real Madrid e em 2006-07 o Inter de Milão na fase de
grupos da Liga
dos Campeões, equipas com as quais já tinha jogado meses antes na pré-época?
E o que dizer do Benfica,
que na
primeira década do século XXI ficou alojado no mesmo grupo que Manchester
United em duas épocas consecutivas?
E também há os reencontros: Portugal
no Mundial
2018 frente ao Irão de Carlos Queiroz, Sp.
Braga na Liga
Europa frente ao Shakhtar Donetsk de Paulo
Fonseca em 2016-17, Benfica
na pré-eliminatória da Liga
dos Campeões frente ao PAOK de Zivkovic em 2020-21, Benfica
na Champions
frente ao Besiktas de Talisca em 2016-17 e frente ao Mónaco
de Bernardo
Silva e companhia em 2014-15, entre tantos e tantos outros.
Um desses casos de reencontros
por capricho do sorteio aconteceu na fase de grupos da Liga
dos Campeões em 2004-05, quando um FC
Porto recém-coroado campeão europeu ficou integrado no mesmo agrupamento
que o treinador que o guiou a esse título europeu, José
Mourinho, recém-contratado como técnico do Chelsea.
Numa questão de quatro meses, o Special
One passava de treinador do FC
Porto a treinador adversário, apesar de ter mudado de país. E não era só Mourinho
a reaver os dragões,
mas também toda a sua equipa técnica e os jogadores Ricardo Carvalho e Paulo
Ferreira.
O primeiro duelo entre FC
Porto e Chelsea
realizou-se na 2.ª jornada da fase de grupos, em Stamford
Bridge, depois de os
portistas terem empatado em casa com o CSKA Moscovo (0-0) e de os londrinos
terem vencido confortavelmente no terreno do Paris Saint-Germain (0-3).
O 4x4x2 losango com meio-campo
preenchido que levou o FC
Porto ao sucesso na Champions
em 2004 era agora o sistema tático do Chelsea,
que preencheu o miolo com Makélélé, Smertin, Lampard e Duff, este último com
liberdade para jogar mais aberto no corredor esquerdo. Na frente de ataque
estavam Drogba e Gudjohnsen, ambos com os olhos postos na baliza de Vítor Baía.
Atrás, o guarda-redes Cech era a última barreira dos blues,
cujo quarteto defensivo era por uma belíssima dupla de centrais composta por
Ricardo Carvalho e John Terry e por dois laterais com características bem
distintas: Paulo Ferreira à direita, com liberdade para atacar; Gallas à
esquerda, mais posicional, como que um terceiro central.
Já os azuis
e brancos orientados pelo espanhol Victor Fernández, embora desfalcados
pelas saídas de Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Deco e Pedro Mendes e pela
lesão de Nuno Valente, apresentava um onze recheado de craques, ainda que nessa
temporada quase todos estivessem a ter um rendimento intermitente: Vítor Baía
na baliza; Bosingwa (na altura um médio adaptado excecionalmente a lateral),
Jorge Costa, Pepe
e Ricardo Costa na defesa; Costinha, Maniche e o brasileiro Diego no meio-campo;
e Quaresma,
Derlei e (o nada fabuloso no Dragão)
Luís Fabiano no ataque.
Logo aos sete minutos, o Chelsea
inaugurou o marcador através do patinho feio do onze titular, o médio russo Aleksey
Smertin, que rematou de primeira após um cruzamento de Gudjohnsen a partir da
esquerda.
No início da segunda parte, Duff
bateu um livre da direita e Drogba ganhou nas alturas aos defesas portistas
e antecipou-se a Vítor Baía para cabecear para o 2-0 (50’).
Aos 68’, Cech defendeu para a
frente um remate violento de Carlos Alberto de fora da área e McCarthy foi mais
rápido do que os defesas londrinos
para fazer a recarga e reduzir a desvantagem.
Contudo, o Chelsea
fez o 3-1 dois minutos depois, com Terry a responder com um cabeceamento
certeiro a um livre lateral de Lampard pela direita.
“A história do jogo resume-se a
isto: o Chelsea
entrou praticamente a ganhar, o FC
Porto equilibrou, ganhou alento e quando se preparava para voltar à carga
com novo fôlego sofreu o 2-0. O FC
Porto não baixou os braços, insistiu e foi finalmente premiado com um golo.
O golo que dava novo impulso à vontade do dragão
em cair em cima do Chelsea.
Azar. O Chelsea
voltou a marcar. Isto é, cada vez que o FC
Porto ameaçava a vantagem, os ingleses marcavam. Suprema ironia? Estrelinha
de campeão? Terá sido tudo isso, mas pelo meio houve erros defensivos que
custaram caro e que abalaram a confiança da equipa. Cada livre do Chelsea
era como se fosse um... penalty. Assim marcaram os ingleses dois golos e até
marcaram um terceiro que o árbitro anulou (e bem)”, escreveu o Record.
Quando o FC
Porto e o Chelsea
se voltaram a defrontar, na sexta e última jornada da fase de grupos de Liga
dos Campeões, os londrinos
partiram para o jogo com o primeiro lugar já garantido, enquanto os dragões
tanto podiam seguir em frente na Champions
(em 2.º lugar) como ficar de fora da Europa (em 4.º).
Os blues
apresentaram-se no Dragão
com um onze muito próximo do ideal, talvez apenas à exceção de Wayne Bridge e
Scott Parker, prometendo dificultar ao máximo a vida do FC
Porto, que estava obrigado a ganhar para alcançar o apuramento para os
oitavos de final da Liga
dos Campeões.
Pouco depois da meia hora de
jogo, o extremo irlandês Damien Duff inaugurou o marcador através de um remate
de fora da área, num lance em que o guarda-redes portista
Nuno Espírito Santo pareceu mal batido.
Na segunda parte, porém, os dragões
deram a volta ao texto. O médio ofensivo brasileiro Diego, que acabou por ter
uma passagem discreta pela Invicta, apontou um golo fantástico, com um remate
de primeira de fora da área que deixou Cech sem reação (61’).
Já bastante perto do fim do
encontro, um raro cruzamento de pé esquerdo por parte de Quaresma
– que geralmente prefere utilizar a trivela do que o pior pé – encontrou a
cabeça do sul-africano McCarthy, que apontou o golo da vitória (87’).
“Foi um jogo de imensas e
contraditórias emoções que tiveram o seu momento mais expressivo ao minuto 86.
Nesses 60 segundos, o Chelsea
esteve à beira de fazer um golo que atirava o FC
Porto para fora da Europa. Nuno conseguiu evitar que Kezman provocasse essa
terrível desilusão aos portistas.
No contra-ataque, Ricardo
Quaresma foi à linha de cabeceira, cruzou largo e lá apareceu McCarthy a
rematar de cabeça para o fundo das redes de Cech. O Dragão
explodiu com a vitória que manteve o FC
Porto na Liga
dos Campeões”, podia ler-se no Record.
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