Fonseca tem dado ao SC Braga o 'upgrade' que procurava |
O SC Braga conheceu os seus
tempos áureos com Domingos Paciência e Leonardo Jardim, entre 2009 e 2012. Foi
durante esses anos que terminou por duas vezes no pódio da Liga (2.º em 2009/10
e 3.º em 2011/12), chegou à final da Liga Europa (2010/11) e ainda bisou em
presenças na fase de grupos da Liga dos Campeões (2010/11 e 2012/13). Algo sem
paralelo para aqueles lados.
Os
guerreiros eram, essencialmente, uma equipa fortíssima em transições, que
explorava bastante os passes em profundidade – Hugo Viana era especialista -
para jogadores rápidos na frente como Alan, Hélder Barbosa, Mossoró, Lima ou
Matheus. Mas com a notoriedade conquistada, os seus responsáveis entenderam que
tinha chegado a hora de fazer um upgrade
no estilo de jogo, para que a equipa se parecesse definitivamente com uma
equipa grande e não com a maior das mais pequenas.
O
primeiro a tentar tornar os minhotos numa equipa essencialmente de posse controlo
de bola foi José Peseiro, ainda que mantendo a estrutura de 4x2x3x1 deixada por
Jardim – realce-se que tática e modelo de jogo não são a mesma coisa. Até
venceu a Taça da Liga, mas terminou em 4.º no campeonato, atrás do Paços de
Ferreira, e foi substituído por Jesualdo Ferreira no final da época.
Mas os
resultados também não foram os melhores – os bracarenses falharam pela primeira
vez em dez anos a qualificação para as competições europeias – e surgiu no
comando técnico Sérgio Conceição, depois de Jorge Paixão se ter revelado um
autêntico flop durante alguns meses.
Curiosamente,
com Conceição, a equipa voltou um pouco atrás no tempo, apostando
essencialmente no ataque rápido e nas transições. Os velocistas Pardo, Rafa e
Salvador Agra e um meio-campo mais combativo do que tecnicista relegaram Alan
para personagem secundária, mas os arsenalistas voltaram a fazer uma boa época:
ficaram em 4.º na Liga (apenas atrás dos três grandes) e chegaram à final da
Taça de Portugal, perdida milagrosamente para o Sporting.
O tal 4x2x2x2 ou o falso 4x4x2 |
Sérgio
Conceição também não resistiu à exigência do presidente António Salvador e eis
que entra em ação Paulo Fonseca, depois de duas excelentes temporadas no Paços
de Ferreira e de pelo meio se ter revelado uma desilusão no FC Porto.
Fonseca
sim, deu continuidade ao upgrade estilístico
do SC Braga, Olhou para os seus jogadores e encaixou-os num 4x4x2, o mesmo
sistema que tinha experimentado com algum sucesso nos pacenses na temporada
passada. Um 4x4x2, no entanto, que apenas o é no papel. Na verdade, atrevo-me a
chamar-lhe de 4x2x2x2, pois na prática os alas – habitualmente Alan e Rafa –
passam a maior parte do tempo em zonas interiores.
Essencialmente,
o modelo de jogo de guerreiros do Minho caracteriza-se ofensivamente pela
preocupação em controlar e dominar os encontros através da posse de bola, com
os dois laterais projetados no ataque, os tais dois extremos a funcionarem
precisamente como falsos-extremos e os dois avançados com muita liberdade de
movimentos.
Tudo
somado, o resultado é uma desordem… organizada. Organizada por Paulo Fonseca. Ao
trabalhar os seus (falsos) flanqueadores para aparecerem na zona central e os
avançados para surgirem um pouco por todo o lado no último terço, vai retirar
referências de marcação aos defesas adversários.
Rafa a aparecer no meio e Goiano marcado pelo lateral |
Os
laterais contrários ficam baralhados ao terem de manter a posição mas ao mesmo
tempo verem o suposto alvo de marcação em zonas que supostamente que não são as
suas. Os centrais não se podem fixar num avançado pois quem pode cair no seu
lado é o outro. Os próprios extremos adversários não sabem se devem acompanhar
os alas bracarenses para o meio ou se devem vigiar os laterais.
Alan arrasta o lateral com Wilson sozinho na direita |
Ao
causar tanta confusão no processo defensivo de quem está pela frente, há mais
possibilidade de aparecer um atacante livre e com espaço. E aparecendo um
atacante livre e com espaço, aumentam as possibilidades de se criar uma
oportunidade de golo. E quem cria oportunidades, está mais perto de… marcar. Explicado
de forma simples e sem recurso a palavrões futebolísticos, é isto que pretende
Paulo Fonseca.
E
apesar do upgrade na forma de atacar,
há que realçar a consistência defensiva dos minhotos: têm a segunda melhor
defesa do campeonato (oito golos sofridos em quinze jogos), apenas superada
pela do Sporting (sete).
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