Contratado aos espanhóis do Almería
por 24 milhões de euros, Darwin Núñez não só se tornou no jogador mais caro da
história do Benfica
como passou a ser na passada terça-feira, em Salónica, o oitavo jogador uruguaio a jogar por equipas dos encarnados.
Embora a seleção celeste tenha conquistado os seus dois
títulos mundiais em 1930 e 1950, foi necessário esperar até ao século XXI para
encontrar pela primeira vez futebolistas naturais do Uruguai a jogar de águia
ao peito.
Apesar da demora, no verão de
2007 surgiram de uma assentada na Luz
dois jogadores uruguaios. Curiosamente, ambos fizeram a estreia com a camisola encarnada
na mesma partida, tiveram uma passagem positiva pelo clube e haveriam de rumar
ao rival FC
Porto quando deixaram o Benfica,
embora com percursos distintos.
Cristián Rodríguez jogou um ano no Benfica |
Comecemos pelo que passou menos
tempo em Lisboa, o médio ofensivo/extremo Cristián
Rodríguez, que reforçou o Benfica
em 2007-08 por empréstimo do Paris Saint-Germain, depois de ter iniciado a
carreira no Peñarol e de se ter tornado uma presença assídua nas convocatórias
da seleção uruguaia.
Na única temporada que passou na Luz
foi uma das poucas notas positivas de uma equipa que não foi além de um quarto
lugar no campeonato, que foi surpreendentemente eliminada da Taça
UEFA pelos espanhóis do Getafe e afastada da Taça
de Portugal com uma derrota pesada em Alvalade
(3-5).
El cebolla [o cebola], alcunha que herdou do pai, que adorava
cebolas, apontou sete golos em 36 jogos oficiais de águia
ao peito.
“Precisava de jogar, de ter
minutos e a liga portuguesa pareceu-me muito bem. Fiz uma época bastante boa,
havia até a possibilidade de continuar na Luz,
mas as coisas não andavam e, entretanto, fui abordado pelo FC
Porto. O Benfica
era um clube… confuso. Toda a gente reclamava muito. Ficámos no quarto lugar, trocámos
de treinador logo no início da época [Fernando Santos por Camacho] e senti que
era no FC
Porto que podia ser feliz e ganhar tudo”, recordou ao Maisfutebol
em outubro de 2019.
Na altura da mudança para o Dragão
proferiu uma frase que ficou lapidada na história do futebol português: “Assinei
pelo FC
Porto em cinco minutos.”
Maxi Pereira |
O primeiro jogo de Cristián
Rodríguez pelo Benfica
aconteceu a 2 de setembro de 2007, numa vitória sobre o Nacional
na Choupana (3-0) que também marcou a estreia de águia
ao peito de Maxi Pereira. Na realidade,
Maxi até acabou por começar a jogar com a camisola encarnada
mais de uma hora antes de Rodríguez, que só entrou em campo aos 63 minutos.
Na altura um médio que atuava preferencialmente
pelo corredor direito, chegou à Luz
proveniente do Defensor Sporting, o único clube que tinha conhecido até então. “Sofri
muito no meu primeiro ano no Benfica.
Foi uma mudança brutal na minha vida. Eu já tinha 23 anos, mas o Benfica
necessitava desesperadamente de bons resultados e a exigência era altíssima. O
treinador era o José António Camacho. Tive de trabalhar muito e acho que evoluí
bastante logo no primeiro ano”, recordou ao Maisfutebol
em 2020.
Já uma presença habitual nas
convocatórias da seleção uruguaia, um estatuto que reforçou após chegar ao Benfica,
foi adaptado com sucesso à lateral direita por Quique Flores em 2008-09 e foi
titularíssimo nessa posição na equipa benfiquista até 2015.
Em oito anos nos encarnados
disputou um total de 333 jogos oficiais – é o segundo estrangeiro com mais encontros
pelo Benfica
e o 20.º no total –, apontou 21 golos e conquistou três campeonatos, seis Taças
da Liga, uma Taça
de Portugal, uma Supertaça Cândido de Oliveira e chegou a duas finais da Liga
Europa. Pelo meio venceu a Copa América pelo Uruguai em 2011.
Jogador raçudo, com mais vontade
do que talento, terminou contrato com o Benfica
em 2015 e acabou por rumar ao FC
Porto, tal como… Cristián Rodríguez. “Estive oito anos no Benfica
e na última época, quando estava prestes a terminar o contrato, não fizeram
muito para o renovar. Se queriam tanto um jogador – como diziam – esperavam que
terminasse o contrato? Afinal, não sei se me queriam assim tanto”, lamentou em
outubro de 2015 em declarações ao diário uruguaio Ovácion.
Jonathan Urretaviscaya |
Um ano depois de Maxi Pereira e
Cristián Rodríguez chegou à Luz
outro uruguaio, Jonathan Urretaviscaya, mais conhecido por Urreta. Jogador capaz de atuar em várias posições no ataque,
aterrou em Lisboa aos 18 anos, proveniente do River Plate do Uruguai, e com o
rótulo de uma das maiores promessas do futebol uruguaio, mas não conseguiu
cumprir o que tanto prometeu de água ao peito.
A temporada de maior utilização
até foi a primeira, em 2008-09, quando disputou 17 jogos e marcou um golo às
ordens de Quique Flores, tendo vencido a Taça
da Liga. A partir da chegada de Jorge
Jesus foi perdendo espaço, ao ponto de só ter somado mais dez encontros (e
dois golos) pela equipa principal até 2014, quando terminou a sua ligação aos encarnados.
Ainda assim, foi campeão e venceu a Taça
da Liga em 2009-10.
Durante o tempo em que o amadorense
esteve no comando técnico, o sul-americano acabou até por ser mais utilizado
nos bês, pelos quais atuou em 27 encontros e faturou por quatro vezes. Pelo
meio esteve cedido ao Peñarol, ao Deportivo da Corunha e ao Vitória
de Guimarães.
“A verdade é que no Benfica
joguei muito pouco. Porquê? Não posso responder a essa questão. O mister Jorge
Jesus é quem pode responder a isso. Treinei-me sempre a 100 por cento”, atirou
Urreta em novembro de 2014, numa fase em que já era jogador do Paços
de Ferreira. Porém, meses antes mostrou-se agradecido aos encarnados,
durante uma entrevista concedida ao zerozero:
“Joguei muitos anos no Benfica
e estou muito agradecido. Aprendi muito e deixei lá muitos amigos. Estou feliz
porque o clube deu-me a possibilidade de jogar na Europa. Nunca me vou esquecer
disso.”
Embora não tenha atingido um
nível muito elevado na sua carreira, o extremo viveu o ponto alto da carreira
em 2017 e 2018, quando se estreou pela seleção uruguaia e foi convocado para o Campeonato
do Mundo.
Rodrigo Mora |
O senhor que se seguiu foi Rodrigo Mora, um jogador com um percurso
interessantíssimo na América do Sul – embora nunca tenha chegado a jogar pela
seleção uruguaia –, apesar de não ter conseguido vingar na Luz.
Contrato no verão de 2011 ao
Defensor Sporting, não deu boas indicações na pré-época e acabou por disputar apenas
três jogos oficiais, dois dos quais na Taça
de Portugal.
Sem espaço no plantel de Jorge
Jesus, regressou ao seu país para representar o Peñarol, voltando a
apresentar bons números. Em 2012-13 chegou a fazer a pré-temporada no Benfica,
mas depois foi emprestado aos argentinos do River Plate, acabando depois por
assinar em definitivo pelo emblema de Buenos Aires. “Tinha de me apresentar [no
Benfica],
mas não sabia qual seria o meu futuro. Fiz toda a pré-temporada, mas não falei
com o técnico [Jorge
Jesus] em nenhum momento, apesar de ter participado em quatro jogos e de
ter marcado cinco golos”, revelou o avançado em agosto de 2012.
Nos millonarios viveu o período de maior fulgor da carreira: venceu uma
Copa Sul-Americana (2014) e duas Libertadores
(2015 e 2018).
Gianni Rodríguez |
No início de 2013 surgiu na Luz
outra promessa do futebol uruguaio, o lateral esquerdo Gianni Rodríguez, internacional jovem pelas seleções celestes e
vice-campeão mundial de sub-17 em 2011 – feito que viria a repetir na categoria
de sub-20 em 2013.
Durante o primeiro ano e meio de
contrato no Benfica
não foi além de 24 jogos na equipa B, tendo sido depois emprestado ao Peñarol
em 2015 e 2016, ainda que a cedência não tenha colhido grandes frutos. “É muito
difícil jogar no Benfica.
Custa-me não jogar no clube e querem-me na equipa B”, afirmou, em janeiro de 2015.
Entretanto assinou em definitivo
pela formação de Montevideu, mas acabou por não vingar, rodando depois em
clubes de menor dimensão no Uruguai.
Elbio Álvarez |
No arranque de 2015 o Benfica
contratou mais dois jovens uruguaios. Mais discreto, o médio de características
ofensivas Elbio Álvarez foi a tempo
de disputar oito jogos pela equipa B em 2014-15 e mais cinco na época seguinte.
Proveniente do Peñarol, também
foi vice-campeão mundial de sub-17 em 2011 e até chegou a ser comparado a Cristiano
Ronaldo, mas não passou de uma promessa adiada, tendo depois voltado ao seu
país para atuar pelo Fénix. Desde 2018, quando representou o Uruguay Montevideo,
que está sem clube.
Jonathan Rodríguez |
Elbio Álvarez foi levado para a Luz
no mesmo pacote de Jonathan Rodríguez,
avançado que já tinha o estatuto de internacional “A” pelo Uruguai. Emprestado
pelo Peñarol, partiu atrás de jogadores como Jonas, Lima, Gonçalo Guedes e
Derley e por isso foi relegado para equipa B, tendo tido impacto imediato.
Em seis jogos pela formação secundária
apontou sete golos e chegou a estrear-se pela equipa principal do Benfica
às ordens de Jorge
Jesus. Ainda assim convenceu o selecionador uruguaio a chamá-lo para a Copa
América 2015.
Na época seguinte fez a pré-temporada
já com Rui Vitória como treinador, mas não convenceu e por isso acabou por ser
emprestado ao Deportivo da Corunha.
“Sei que será muito difícil ficar
no Benfica.
Gostaria de continuar a jogar na Europa, numa equipa onde possa ser titular e
jogar mais tempo”, afirmou ao jornal A
Bola no verão de 2016, pouco antes de se vincular a título definitivo aos mexicanos
do Santos Laguna. Desde então que joga no México.
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