O casamento entre o Vitória
de Guimarães e Ivo Vieira chegou ao fim e a principal causa terá sido o não
cumprimento do objetivo de apuramento para as competições europeias. Para os
mais desatentos, pode parecer um falhanço uma vez que os vimaranenses
terminaram o campeonato
no 7.º lugar, duas posições abaixo relativamente à época anterior; não
conseguiram compensar essa menor regularidade na Taça
de Portugal, sendo até humilhantemente eliminados pelo modesto Sintra Football;
e tinham um plantel equilibrado, competitivo e de qualidade.
Porém, olhando para os jogadores
valorizados, os números e o histórico do Vitória,
talvez houvesse motivo para estender o casamento pelo menos por mais um ano, da
mesma forma que no passado o Benfica
o fez com Jorge
Jesus e o FC
Porto com Sérgio
Conceição após temporadas em que os objetivos não foram cumpridos.
Embora não tivesse ido além do sétimo lugar, Ivo Vieira só fez menos
dois pontos do que Luís Castro na temporada anterior – 50 contra 52. Ou
seja, se o Vitória
tivesse vencido na sexta-feira o Santa
Clara, numa altura em que o apuramento europeu já não seria possível, o treinador
madeirense tinha igualado pontualmente o antecessor, que conseguiu concluir o campeonato
na quinta posição e se valorizou ao ponto de dar o salto para o crónico campeão
ucraniano Shakhtar Donetsk. Se nos cingirmos apenas à I
Liga, a diferença não esteve no Vitória,
mas sim no Rio
Ave e no Famalicão.
Depois, há outros indicadores a
ter em conta. O bom futebol praticado
pela formação
vitoriana esta temporada rendeu 53 golos no campeonato,
algo que já não acontecia desde 1998-99, numa época em que os minhotos
tiveram dois treinadores, Zoran Filipović e Quinito. Agora recorde-se alguns dos
técnicos que passaram pelo banco vimaranense
desde então: Augusto Inácio, Jorge
Jesus, Manuel Machado, Manuel Cajuda, Rui Vitória, Sérgio
Conceição, Pedro
Martins e José
Peseiro. Luís Castro ficou-se pelos 46.
Relativamente à diferença de golos, o saldo é de 15 (positivos). Para
encontrar um registo igual não é preciso recuar assim tanto, apenas aos tempos
de Rui Vitória (2014-15), mas para encontrar melhor é necessário retroceder até
1995-96, quando Vítor Oliveira, Jaime Pacheco e Manuel Machado estiveram no
comando técnico (+16). Luís Castro terminou a época com +12 e Pedro
Martins em 2016-17 com +11.
E Ivo Vieira consegue ter esses registos aos quais até podemos mesmo
chamar de históricos numa temporada superdesgastante, em que o Vitória
fez 52 jogos – só em 1987-88 esse número foi superior (53) e resultou num
14.º lugar na I
Divisão.
Além dos números de golos, pontos
e jogos, convém falar também de valorização de futebolistas. O central burquinense Edmond Tapsoba precisou
de apenas meio ano para se tornar (de longe) na venda mais volumosa da história
do clube – 18 milhões de euros, pagos pelo Bayer
Leverkusen –, mas o extremo inglês Marcus Edwards ameaça bater esse recorde
em breve. E o que dizer da grande época de João
Carlos Teixeira, do promissor desempenho de Bruno Duarte e do bom fim de temporada
de Mikel?
Por muito que Ivo Vieira não
tivesse cumprido os objetivos classificativos, urge analisar o passado recente
dos minhotos,
que desde a década de 1990 não conseguem
qualificar-se para as competições europeias em anos consecutivos. O técnico
de 44 anos tornou-se apenas mais um a falhar esse objetivo, mas o facto de este
ser um problema crónico em Guimarães
deveria ser tido em linha de conta.
Mas há mais. O histórico dos
vimaranenses
no século XXI está repleto de oscilações classificativas, que tantas e tantas
vezes não estão proporcionalmente relacionadas com orçamento e qualidade de
plantel e treinador. Basta recordar os 9.º e 10.º lugares com Rui Vitória em 2012-13 e 2013-14,
o 9.º com Pedro
Martins e José
Peseiro em 2017-18, o 10.º com Sérgio
Conceição (e Armando Evangelista) em 2015-16 ou o mais longínquo
14.º com Jorge
Jesus (e Augusto Inácio) em 2003-04, ou mesmo a despromoção
em 2005-06 (Jaime Pacheco e Vítor Pontes), com um plantel recheado de
jogadores que conseguiram ser internacionais pelos seus países e construir boas
carreiras.
Desde que voltou da II Liga, em 2007-08, o Vitória
terminou no Top-5 da I
Liga apenas por cinco vezes: 5.º lugar com Manuel Machado (2010-11),
Rui Vitória (2014-15) e Luís Castro (2018-19), 4.º com Pedro
Martins (2016-17) e 3.º com Manuel Cajuda (2008-09). E os obreiros dessas
façanhas, à exceção de Rui Vitória que rumou ao Benfica
e de Luís Castro que saltou para o Shakhtar, não saíram do D.
Afonso Henriques propriamente pela porta grande.
Se é verdade que olhamos para o emblema
vimaranense como um histórico do nosso futebol, que tem uma massa adepta
que não encontra paralelo fora do círculo dos três grandes e que
desportivamente se pode considerar a quinta força em Portugal, também o temos
que encarar como um clube instável, em que os bons resultados não encontram
sequência. E prova disso foi um arranque
de temporada marcado por eleições antecipadas, com Júlio Mendes a bater com a
porta e Miguel Pinto Lisboa a tornar-se no novo presidente.
Assim sendo, como é possível
criar alicerces para uma maior consistência classificativa? Será garantidamente
melhor para o projeto do Vitória
o treinador que virá a seguir de Ivo Vieira? O técnico madeirense não merecia
continuar no clube?
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