Apitou o Sporting na final da Taça na véspera de viajar com os leões para a China. Quem se lembra de Mário Luís?
Mário Luís ficou para sempre conhecido como o "chinês"
Árbitro internacional, foi o
protagonista de um caso que fez correr muita tinta: apitou a polémica
finalíssima da Taça
de Portugal em 1977-78, na qual o Sporting
bateu o FC
Porto, e no dia seguinte acompanhou os leões
numa digressão à China. Ficou, para sempre, conhecido como o “chinês”.
Natural de Santarém e afiliado na
associação desse distrito, Mário Luís apitou na I
Divisão entre 1976 e 1986 e foi internacional na reta final da carreira. Já com alguma experiência em
jogos grandes, até porque havia dirigido o Benfica-Sporting
(2-1) do campeonato nacional em 1976-77, apresentou-se no Jamor para apitar a
finalíssima da prova
rainha, que opunha o FC
Porto de José
Maria Pedroto, que havia acabado de quebrar um longo jejum de 19 anos sem
ganhar a final o título nacional e procurava a segunda dobradinha da segunda
história (depois de 1956), ao Sporting
de Rodrigues Dias. Em condições normais, a sua nomeação seria incontestada. O
problema é que as condições não eram… normais. Na final, disputada a 17 de
junho, leões
e dragões
empataram 1-1, com o golo do empate dos verde
e brancos, apontado de penálti por Paulo Menezes, a ser bastante contestado
pelos portistas,
uma vez que o árbitro Francisco Lobo apontou para a marca dos onze metros com
base numa indicação do fiscal de linha Arlindo Rodrigues, que o chamou a
atenção para uma eventual falta do guarda-redes Fonseca sobre o avançado
leonino Salif
Keita no limite da área. Para apitar a finalíssima,
agendada para 24 de junho, foi escolhido Mário Luís, que já estava de malas
aviadas rumo à China, para acompanhar… o Sporting
numa digressão de final de época. Se já havia um clima de suspeição, imagine-se
o quão irrespirável ficou o ar do futebol português com essa nomeação. “É daquelas coisas que não deviam
acontecer. Se calhar, é por isso que ainda se fala muito no sorteio dos
árbitros. É normal que existam desconfianças e uma dose elevadíssima de
suspeição. Enfim, as discussões de hoje são as mesmas de há 25, 30, 35 anos! A
sociedade portuguesa já mudou muito, mas não se fez a renovação com atitude.
Mas também é preciso ver esse jogo num enquadramento especial. Portugal era um
país que vivia momentos complicados, pós-revolucionários, com tensão elevada,
luta de classes. Isso no campo notava-se e, depois, as nomeações dos árbitros.
Mário Luís ia com o Sporting
para a China! Porque é que o escolheram? Havia outros, com certeza!”, recordou anos
mais tarde o capitão do FC
Porto naquele tempo, Octávio
Machado. Como se não bastasse, a finalíssima,
que o Sporting
venceu por 2-1, foi polémica, com o FC
Porto a queixar-se da arbitragem. Em causa o primeiro golo dos leões,
da autoria de Vítor Gomes, que tirou partido de um fura de jogo posicional de
Ademar num lance em que a defesa azul
e branca ficou estática. “O árbitro entregou a Taça
ao Sporting”,
comentou o portista Seninho. Um jogo que também Fernando Gomes não esqueceu: “Ah!
Esse jogo em que o árbitro Mário Luís foi infeliz nalgumas decisões, sempre a
favor deles, e recebeu pouco depois a alcunha de chinês porque seguiu viagem
com o Sporting
numa digressão à China, um dia depois.”
Para sempre conotado como próximo
do Sporting,
voltou a estar no centro da polémica numa receção dos leões
ao Belenenses
na jornada inaugural do campeonato em 1981-82. Os azuis
do Restelo, então comandados por Artur
Jorge, empataram em Alvalade
(2-2), mas terminaram o jogo reduzidos a apenas oito unidades, devido às
expulsões de Padrão (guarda-redes), Alexandre Alhinho e Pinto da Rocha – também
o suplente não utilizado João Cepeda viu o cartão vermelho –, devido a
protestos contra a marcação de um segundo penálti a favor dos verde
e brancos, que resultou no golo que estabeleceu o resultado final.
Caricatura de A Bola após polémico Sporting-Belenenses de 1981
Retirado da arbitragem em 1986,
Mário Luís veio a morrer a 7 de outubro de 1998, quando tinha apenas 57 anos.
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