O canhoto portuense que tem três títulos europeus no currículo. Quem se lembra de Mário Silva?
Mário Silva ganhou tudo pelo FC Porto após ter despontado no Boavista
Foi futebolista profissional
durante 14 anos e dez deles foram passados na cidade do Porto, onde nasceu,
tendo até alcançado a única internacionalização A que tem no currículo em pleno
Estádio do Bessa.
Mário Silva nasceu na maternidade
Júlio Dinis, em Massarelos, a 24 de abril de 1977. A mãe Norberta era empregada
de escritório e o pai Artur serralheiro mecânico nos STCP, ambos igualmente
portuenses. Começou por viver na zona da Circunvalação, mas desde os cinco anos
que cresceu perto do Bairro do Bom Pastor, onde conheceu um futuro companheiro
de equipa e até de seleção
nacional, Petit. Portista desde tenra idade e fã
de outro esquerdino, Paulo
Futre, começou por jogar nas camadas jovens do Núcleo Desportivo do Bairro
Bom Pastor, de onde saiu para o Boavista
ainda com idade de infantil, em 1988, na companhia de… Petit. Enquanto evoluía nos escalões de
formação dos axadrezados
foi fazendo parte das seleções jovens, tendo somado um total de 49
internacionalizações desde os sub-15 aos sub-21,
tendo conquistado o título europeu de sub-18 em 1994 e a medalha de bronze no
Campeonato do Mundo de sub-20 em 1995. Lançado na equipa principal dos boavisteiros
por Manuel José em 1995-96, este lateral esquerdo com forte pontapé foi ganhando paulatinamente o
seu espaço. Nessa época só atuou em seis jogos, mas na temporada seguinte foi
utilizado em 27 partidas, tendo cumprido os 90 minutos na vitória sobre o Benfica
na final da Taça
de Portugal (3-2).
A afirmação prosseguiu nos anos
que se seguiram, com a conquista da Supertaça
Cândido de Oliveira em 1997, o segundo lugar no campeonato em 1998-99 e a
participação na Liga
dos Campeões em 1999-00, sempre com bastante utilização, apesar de uma fratura
renal sofrida em outubro de 1999 que lhe chegou a colocar a carreira em risco.
Paralelamente, fez parte das escolhas da seleção
de sub-21 nas fases de qualificação (malsucedidas) para os Europeus de 1998
e 2000.
No verão de 2000 transferiu-se
para o Nantes, o que fez com que não fizesse parte da equipa do Boavista
campeã nacional em 2000-01. Porém, nessa mesma época sagrou-se campeão francês
e jogou com regularidade, o que lhe valeu três internacionalizações pela
seleção nacional B entre agosto de 2000 e janeiro de 2001, embora tenha
demorado a adaptar-se a um novo país e a um novo idioma.
O interesse do FC
Porto levou-o a regressar a Portugal após somente um ano em França
e a desvincular-se do empresário José Veiga, que estava de relações cortadas
com os dragões,
tendo assumido desde logo a titularidade no lado esquerdo da defesa, com Octávio
Machado como treinador. Depois manteve o lugar no onze nos primeiros meses
às ordens de José
Mourinho, o que lhe valeu a única internacionalização A que tem no currículo,
uma derrota com a Finlândia
num particular disputado no Estádio do Bessa a 27 de março de 2002 (1-4).
As duas épocas que se seguiram
foram passadas na sombra de Nuno
Valente. Porém, pode gabar-se de ter vencido dois campeonatos (2002-03 e
2003-04), uma Taça
de Portugal (2002-03), uma Taça
UEFA (2002-03) e uma Liga
dos Campeões (2003-04). “Nesses dois anos com o José
Mourinho, o titular era o Nuno
Valente, com muito mérito, era um excelente jogador, com provas dadas que
toda a gente conhece e eu se calhar até estava num segundo plano, mas foram sem
dúvida os melhores [anos da carreira] porque sentia-me bem, sentia-me feliz
apesar de não jogar. Muitas vezes não jogamos e não estamos felizes, mas eu
sentia-me feliz porque sentia que fazia parte de algo único. Hoje reconheço que
se calhar na altura nem dei o devido valor às coisas. Para mim foi sem dúvida o
maior e melhor momento da minha carreira, não só pelos títulos conquistados
porque isso depois fica na vitrine e é um orgulho grande dizer o que está ali e
que ganhei, mas porque fiz parte de algo que foi único”, recordou à Tribuna
Expresso em dezembro de 2018. Num período em que o concorrente
direto estava lesionado, Mário Silva participou em jogos importantes como o
duplo confronto com o Panathinaikos nos quartos de final da Taça
UEFA, em março de 2003, o que lhe valeu nova chamada à seleção
nacional A, já com Scolari
como selecionador, mas lesionou-se e foi dispensado.
Após a saída de Mourinho
no verão de 2004, o FC
Porto comunicou-lhe que o sucessor, o italiano Luigi Del Neri, não contava
com ele, o que fez com que fosse emprestado ao Recreativo de Huelva, então na
II Liga Espanhola. Durante esse empréstimo foi pai de trigémeos a 22 de
fevereiro de 2005, numa gravidez de risco que contemplou “duas ou três ameaças
de aborto” e deixou a mãe dos filhos à beira da morte após o parto, por ter
desenvolvido o síndrome de Hellp. Só em 2005-06, quando representou
o Cádiz na I
Liga Espanhola numa altura em que já não tinha qualquer ligação contratual
aos dragões,
é que conseguiu voltar a focar-se no futebol. Mas jogou pouco e não conseguiu impedir
a descida de divisão. “A equipa que subiu de divisão estava muito rotinada e o
treinador, um uruguaio, Víctor Espárrago, acreditava muito naqueles jogadores.
Eu e outros jogadores, como o Eduardo Berizzo, que foi recentemente treinador
do Sevilha,
jogámos pouco. Eu acho que não foi por falta de qualidade nossa, mas porque o
treinador acreditava naquela equipa que o levou à I
Liga”, justificou. Após a despromoção rescindiu
contrato e voltou ao Boavista,
numa altura difícil para os axadrezados,
que viviam momentos financeiramente complicados e acabaram por ser
despromovidos administrativamente em 2008 na sequência do caso Apito Dourado.
A seguir a essa descida de
divisão esteve seis meses sem clube, até que em janeiro de 2009 foi para Chipre
vestir a camisola do DOXA. Porém, não gostou do que encontrou e passados poucos
meses foi embora, encerrando a carreira quando tinha apenas 32 anos. Entretanto tornou-se treinador,
tendo vivido o momento alto deste novo percurso profissional em 2018-19, quando
ao leme da equipa de juniores do FC
Porto venceu o título nacional da categoria e sobretudo a UEFA Youth League.
Dessa geração faziam parte jogadores como Diogo Costa, Diogo Leite, Fábio Vieira,
Romário Baró, João Mário, Fábio Silva, Vitinha e Gonçalo Borges, entre outros. Também já orientou Rio
Ave e Santa
Clara na I
Liga, mas sem grande sucesso, tendo ficado associado a descidas de divisão
nos dois clubes. Presentemente comanda o Al-Najma, da Segunda Liga da Arábia
Saudita, e está à beira da promoção.
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