Hoje faz anos o diabo loiro que bisou na estreia pelo Benfica e depois apagou-se. Quem se lembra de Paulo Nunes?
Paulo Nunes marcou dois golos em oito jogos pelo Benfica em 1997
Um dos avançados da moda no
futebol brasileiro em meados da década de 1990, formou uma dupla infernal com
Mário Jardel que fez do Grêmio
vencedor da Libertadores
em 1995, foi melhor marcador do Brasileirão em 1996 e tinha acabado de vencer a
Copa América pelo Brasil
quando foi contratado pelo Benfica
no verão de 1997, protagonizando aí a maior venda de um clube brasileiro (10
milhões de dólares).
“Estive três meses em negociações.
O meu empresário era o Gilmar Veloz, mas o dono do meu passe era um espanhol
que comandava o Barcelona
na época, que agora não lembro o nome… Estava a negociar com o Benfica
e com o Deportivo
da Corunha, mas eu queria muito ir para Portugal. O Benfica
é dez vezes maior do que o Deportivo”,
recordou ao Maisfutebol
em outubro de 2016. A receção em Lisboa foi “maravilhosa”.
“Senti-me em casa, senti-me muito bem tratado, num clube que já tinha uma
estrutura fenomenal que não tinha nada a ver com o Grêmio
da época. Senti-me muito querido pelos adeptos. Estava a viver um sonho,
naquele momento”, prosseguiu aquele que era conhecido no Brasil como o “diabo
loiro”. A contratação desta avançado
móvel e de baixa estatura (1,73 m) parecia ser inatacável. E Paulo Nunes até
arrancou a todo o gás a sua aventura no futebol português, ao bisar na jornada
inaugural do campeonato, numa receção ao Campomaiorense
(4-0). “Fiz um golo de bicicleta e outro de calcanhar. Nunca tive estreia assim
em qualquer outro clube. Tinha tudo para correr bem”, lembrou.
A partir de então, disputou mais
sete encontros e não voltou a faturar, acabando por regressar ao Brasil no
início de 1998 para vestir a camisola do Palmeiras.
“O que me deixa mais triste no tempo que estive no futebol foi não ter ficado
mais tempo no Benfica.
Infelizmente o futebol traça coisas que às vezes não conseguimos levar da forma
como queríamos. (…) A principal explicação é simples: eu não recebia… (…) Comecei
logo por não receber os 20 por cento a que tinha direito na transação e depois
também não fui recebendo. Fizeram muitas cartas do banco, com promessas, mas
dinheiro não vinha. Chegou a uma altura em que nem o meu salário completo
recebia. Os direitos de imagem, por exemplo, não recebia”, lembrou o avançado
brasileiro, que no pouco tempo em que esteve na Luz
apanhou dois presidentes: Manuel Damásio e Vale
e Azevedo. E foi precisamente Vale
e Azevedo quem lhe anunciou que Paulo Nunes não podia ficar muito tempo no Benfica:
“Podem dizer o que quiserem, mas comigo foi muito honesto. Disse logo: ‘gostava
que ficasses, mas não posso pagar este salário. O presidente anterior fez uma
besteira e não podemos honrar um compromisso destes’. Tinha de abdicar de
metade do meu salário e isso deixou-me logo chateado. Tinha um contrato de
cinco anos e nem cinco meses depois já queriam mudar tudo. Não aceitei. E o Vale
e Azevedo disse logo: ‘podes ficar, mas não vais receber’.”
Além dos incumprimentos salariais
e da quebra de rendimento, a relação entre o atacante internacional canarinho e
o treinador Manuel José tornou-se instável. “Talvez tenha sido um erro meu, mas
ninguém me explicou direitinho como eram as coisas no Benfica.
Ora, parece que não podia estar fora de casa a partir das 22:30 e houve um dia
em que fui jantar e fiquei até à 1:30… cobraram-me uma multa de 25 mil dólares.
Eles entregavam um regulamento interno aos jogadores, mas aquilo era enorme.
Sou sincero: nem li, era muita coisa. Mas, quer dizer, eu já não estava a
receber e ainda me aplicavam uma multa? Era o que mais faltava. Disse logo que
não pagava. Alguém deveria ter-me dito que não poderia estar na rua a partir
das 22:30…”, afirmou. “Um treinador tem de ser
inteligente. Se há um problema pequeno no grupo, mas o grupo está bem, vou
querer complicar? Ele complicou. Um dia antes do jogo com o Rio
Ave, meteu-me à frente de todo o mundo e conta o meu caso. Explodiu o
balneário um dia antes de um jogo. Nunca vi isso na minha vida… ficou toda a
gente a olhar uns para os outros e ele disse-me que se eu quisesse nem ia para
o jogo. Mas eu disse que ia, claro. Ao intervalo já perdíamos 3-0”, prosseguiu.
“Estragou tudo. Acabou com um grupo que estava a ficar unido”, lamentou. Na altura, falava-se que um dos
problemas da sua passagem pelo Benfica
era uma relação algo tensa com João Vieira Pinto, mas Paulo Nunes não só
desmente essa ideia como elogia o antigo internacional português. “Amei Lisboa, amei o Benfica.
Achava o estádio lindo, o emblema, a águia… Até a cor, que era a cor do rival
do Grêmio,
o Inter, eu achava linda! Fiz muitos amigos e continuo a torcer pelo Benfica
porque merece todo o meu respeito”, garante o atacante, que anos depois teve
uma proposta do Boavista
para voltar a Portugal.
Paulo Nunes, que se formou e
despontou no Flamengo
e conquistou um campeonato brasileiro (1992) e uma Taça do Brasil (1990) pelo mengão,
entre outros troféus, viveu a fase mais gloriosa da carreira no Grêmio
entre 1995 e 1997, tendo conquistado dois campeonatos gaúchos, uma Libertadores
(1995), um campeonato brasileiro (1996), uma Recopa Sul-americana (1996) e uma
Taça do Brasil (1997). No regresso ao Brasil no pós-Benfica,
ganhou uma Taça do Brasil (1998), uma Taça Mercosul (1998) e uma Libertadores
(1999) pelo Palmeiras
e um campeonato paulista pelo Corinthians
(2001). No ocaso da carreira passou ainda
pelo Gama, pelos sauditas do Al Nassr e pelo Mogi Mirim, tendo pendurado as
botas de forma algo precoce, em 2003, quando tinha apenas 32 anos, depois de cinco
cirurgias aos joelhos. Entretanto tornou-se comentador
desportivo em canais de televisão e chegou a participar num reality show
brasileiro, A Fazenda 6, em 2013.
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