A velha raposa que acabou com o jejum do Benfica. Quem se lembra de Trapattoni?
Trapattoni guiou o Benfica ao título nacional em 2004-05
Obviamente que é demasiado
redutor resumir Giovanni Trapattoni ao treinador que acabou com o jejum de 11
anos do Benfica
sem conquistar o campeonato nacional. Afinal, foi um futebolista de topo na
década de 1960 e um dos técnicos mais titulados de sempre.
É também um dos poucos
treinadores a ter vencido quatro ligas europeias (italiana,
alemã,
portuguesa
e austríaca), o único a ter conquistado Taça
dos Campeões Europeus, Taça
UEFA, Taça das Taças, Supertaça Europeia e Taça Intercontinental e um dos
poucos que ergueu Taça
dos Campeões Europeus, Taça das Taças e Taça Intercontinental como jogador
e treinador. Um antigo defesa natural de uma
localidade nos arredores de Milão, representou as camadas jovens e a equipa
principal do AC
Milan, clube pelo qual conquistou tudo o que havia para conquistar entre
1957 e 1971. Após pendurar as botas começou a
trabalhar como treinador na formação dos rossoneri,
acabando por assumir interinamente o comando da equipa principal em 1973-74, tendo
sido convidado para se tornar no treinador definitivo em 1975. A primeira aventura como técnico
não correu propriamente bem, mas redimiu-se quando assumiu a rival Juventus
em 1976-77. Combinando o velho rigor defensivo italiano com uma liberdade de
movimentos inspirada no “futebol total” neerlandês, arrebatou tudo o que havia
para ganhar ao longo de uma década em Turim. Além dos troféus internacionais já
citados, venceu ainda seis campeonatos e duas taças. Seguiram-se cinco anos também
gloriosos no Inter de Milão: uma Taça
UEFA, um campeonato e uma supertaça. Haveria ainda de regressar à Juventus
para vencer a Taça
UEFA, conquistar a Alemanha
ao leme do Bayern
Munique e passar pela Fiorentina
e pela seleção
italiana antes de ser convidado para treinar o Benfica
no verão de 2004.
Pragmático, manteve a estrutura
da equipa construída e oleada pelo espanhol José Antonio Camacho nos dois anos
anteriores, com Moreira na baliza, Luisão e Ricardo Rocha no eixo defensivo, Miguel
e Fyssas nas laterais, Petit e Manuel Fernandes no duplo pivot do meio-campo,
Zahovic atrás do ponta de lança, Geovanni e Simão Sabrosa nas alas e Nuno Gomes
na frente de ataque. Depois, a dinâmica da época fez com que Quim passasse a
ser o guarda-redes titular, Manuel dos Santos maioritariamente escolhido para a
lateral esquerda e Zahovic preterido ao ponto de até ter rescindido quando Nuno
Assis foi contratado. Perante a concorrência de um FC
Porto instável e que havia batido no teto depois de conquistar a Liga
dos Campeões e de um Sporting
irregular, o treinador italiano guiou o Benfica
ao primeiro título nacional desde 1993-94. Nessa época, 65 pontos em 34 jogos
bastaram, num dos mais emocionantes campeonatos de sempre. Para a conquista desse campeonato
muito contribuíram a magia de Simão, os golos ao cair do pano da arma secreta
Mantorras, os desempenhos menos conseguidos dos rivais, a vitória na penúltima
jornada sobre o Sporting
na Luz
com golo de Luisão e um empate no jogo do título, no Bessa. Uma semana após o fim da I
Liga, Trapattoni teve a possibilidade de levar o Benfica
à dobradinha, mas perdeu a final da Taça
de Portugal para o Vitória
de Setúbal. Depois voltou a Itália, para estar mais perto dos netos.
“Era uma pessoa muito simpática,
mas, digamos, já com alguma idade, o que se notava no trabalho. Falava com os
jogadores mais como pai do que como treinador. Mas lá conseguiu… há muitos
caminhos para se conseguir ter sucesso. Ele escolheu o dele e o que é certo é
que teve”, recordou Zahovic ao Maisfutebol
em março de 2017. “Às vezes o Trapattoni mandava-me
aquecer para acalmar os adeptos, quando as coisas não estavam a correr bem. Foi
uma coisa do outro mundo. Jogar no Benfica
é completamente diferente. Ser campeão no Benfica,
com aquele grupo, foi incrível”, lembrou Mantorras à BTV em março de
2020. “Muito mérito ao Trapattoni, que
soube gerir os bons momentos e os maus durante a época. Ele tinha uma relação
extraordinária connosco, as palestras eram muito engraçadas, eu era capaz de ir
contra um muro por ele”, afirmou Ricardo Rocha na mesma altura. “Era um treinador diferente, até
pela idade. Já tinha passado por muita coisa. Sabia levar os jogadores com ele.
Tínhamos um grupo pequeno, mas muito unido. Raramente o vi chateado. Estava
sempre na palhaçada”, contou Nuno
Assis ao Diário
de Notícias em junho de 2017.
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