Benfiquista Karadas luta pela bola com um defesa do Penafiel |
A minha primeira memória de um
jogo entre o Benfica
e Penafiel
faz-me recuar até à época 2004-05, a edição mais louca do campeonato
português que alguma vez vivenciei. À entrada para a 15.ª jornada, a do Benfica-Penafiel
da primeira volta, as águias
de Giovanni Trapattoni ocupavam o quarto lugar na I
Liga – com os mesmos pontos do Sporting,
que era 3.º –, a dois pontos do líder Boavista
e a um do vice FC
Porto, e com dois pontos de vantagem sobre Vitória
de Setúbal e Sp.
Braga, que se mantinham na perseguição. Tudo em aberto.
Já o Penafiel
de Luís Castro ocupava o 12.º lugar, com 17 pontos, a oito do Benfica
e com cinco de vantagem sobre as primeiras equipas em zona de despromoção, Moreirense
e Nacional.
Ou seja, não se podia falar de aflição, mas também não se podia falar de um
campeonato sem sobressaltos, até porque os durienses
haviam trocado de treinador logo no início da época, com Manuel
Fernandes a ser sacrificado.
Quando as duas equipas se
defrontaram na Luz, a uma semana do Natal, o Benfica
vinha de uma pesada derrota no Restelo (4-1) que havia de marcar uma mini
reviravolta na equipa – Moreira cedeu a titularidade na baliza a Quim, enquanto
Zlatko Zahovic saiu da equipa para não mais voltar (pelo menos no campeonato).
A exibição encarnada
diante dos nortenhos
não foi brilhante, mas bastou um golo de Argel – seguida de um beijo do central
brasileiro na testa de Trapattoni –, de cabeça, aos 22 minutos, na sequência de
um livre apontado por Petit a partir da direita, para garantir o triunfo.
“Se o jogo tivesse terminado à
meia hora, poderia dizer-se que o Benfica
teria conquistado uma vitória tão justa – pela superioridade inquestionável em
relação a um opositor que se acampou na defesa – como escassa – tal o caudal
ofensivo produzido pela formação
encarnada. O golo de Argel, aos 23’, teria garantido os três pontos, e os
adeptos, vestidos de Pai Natal, sairiam satisfeitos do Estádio da Luz, porque
teriam comprovado que a equipa havia recuperado os índices físicos e
psicológicos, qual redenção após vários pecados capitais. Contudo, e mesmo não
estando em causa o triunfo dos encarnados
no balanço da totalidade do tempo de jogo, os pupilos de Giovanni Trapattoni
criaram escassas oportunidades claras de golo, pecaram na finalização e
revelaram alguma tremedeira final, perante um Penafiel
que não chegou realmente a ser incómodo. Ainda assim, valeu o cabeceamento
oportuno do tão criticado e assobiado central brasileiro, que colocou justiça
no marcador”, escreveu o jornal O Jogo.
Uma volta depois, o cenário era necessariamente
diferente. A três jornadas do fim, o Benfica
liderava o campeonato com três pontos de vantagem sobre o Sporting
e quatro sobre o FC
Porto. Já o Penafiel
estava a salvo, dez pontos acima da zona de despromoção quando havia apenas
nove pontos em disputa.
Descomplexada, a equipa
duriense mostrou que a vitória em Alvalade
(0-2) não tinha sido fruto do acaso e voltou a bater o pé a um grande, tendo
vencido o Benfica
por 1-0, com o único golo encontro a ser apontado pelo senegalês Ousmane N’Doye
à passagem da hora de jogo, após grande passe de Clayton.
“Uma exibição preocupante para
quem jogava em Penafiel
grande parte dos privilégios na luta pelo título, conduziu o Benfica
a uma derrota cujo significado excedeu a simples aritmética dos três pontos
perdidos. Num estádio cheio, apoiada por milhares de adeptos entusiastas,
empurrada pela motivação geral de uma conquista que nos últimos dez anos nunca
esteve tão perto, a equipa
encarnada assinou prestação absolutamente desastrosa, assente na
dificuldade em perceber como queria levar a água ao moinho e na quebra evidente
de algumas das suas unidades mais brilhantes e decisivas. Foi um conjunto
amorfo e sem chama aquele que abordou a contenda; foi uma equipa indiferente à
desinspiração aquela que veio para o segundo tempo, mesmo trazendo Mantorras;
por último, foi um coletivo desconexo, sem cabeça e à espera de qualquer ajuda
divina, aquele que reagiu sem nexo ao golo do Penafiel
– e quando N’Doye assinou o lance que decidiu a partida, ao contrário do que
sucedera em Vila do Conde, por exemplo, desta vez ainda havia meia hora para retificar”,
resumiu o Record.
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