Passou pela formação do
Belenenses, despontou no Fabril, foi orientado por Kenedy e Secretário, brilhou
no Campeonato de Portugal, chegou a sonhar com a seleção angolana, mas desde
dezembro de 2018 que voltou ao Seixal Futebol Clube para retribuir o que o
clube lhe deu no início do seu trajeto do futebol.
Em entrevista, Pedro Barros explica
a alcunha "Banana", revela o nome dos clubes das ligas profissionais que
estiveram interessados nele e promete voltar forte em 2020-21 depois de em
novembro do ano passado ter sofrido uma rotura do ligamento cruzado anterior do
joelho esquerdo.
ROMILSON TEIXEIRA - Na época passada jogou pelo Seixal apenas até
novembro. O que se passou para estar tanto tempo parado?
BANANA - Antes de começar,
gostaria de agradecer o convite e desejar o maior sucesso a vocês. Respondendo à
pergunta, o que me afastou dos relvados foi uma lesão. Fiz uma rotura do
ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo que me afastou dos relvados até
agora.
Ainda assim, ajudou o Seixal a subir à I Distrital. Qual o significado desta promoção?
Significa muito para mim e para o
clube, foi com este objetivo que voltei ao Seixal. É um orgulho pertencer a
esta instituição, que muito fez por mim quando era mais novo.
Já anunciou que na próxima época vai continuar no clube, pelo que
não desistiu de jogar futebol. Quais vão ser os principais objetivos
individuais e coletivos para 2020-21?
O principal objetivo individual é
recuperar bem da lesão, voltar aos relvados e depois ajudar a equipa. Os
objetivos coletivos passam por jogar jogo-a-jogo e fazer uma boa classificação.
Sabemos que é um campeonato com adversários difíceis, mas vamos trabalhar bem
para darmos o nosso melhor.
O Seixal é um emblemas histórico, que já jogou na I Divisão e defrontou os maiores clubes do futebol português. O que este clube
tem de especial?
O que tem de especial é que a
maior parte dos jogadores do clube são da terra, os adeptos são fantásticos e
as pessoas que estão à frente do clube são sérias, organizadas e responsáveis.
Acompanhou a transformação do clube de Seixal Futebol Clube para
Seixal 1925. Como viu este renascimento?
Fiquei super feliz com o renascimento
do clube. As pessoas do Seixal merecem porque fizeram de tudo para o clube não
morrer por completo e isso deixa-me contente.
Durante o seu percurso passou pela formação do Belenenses. Como descreve essa experiência?
Foi uma experiência boa. Tinha
vindo de uma realidade muito diferente e aprendi muito, não só a nível futebolístico,
mas também como pessoa.
“Passei quatro anos de muitas alegrias no Fabril”
Avançado luso-angolano esteve ao serviço do Fabril entre 2011 e 2015 |
Ainda assim, foi no Fabril que iniciou o seu trajeto no futebol sénior. Como correram os quatro
anos no clube do Lavradio?
Foram de grande aprendizagem,
joguei com jogadores muito experientes e ensinaram-me muito. Era um pouco
rebelde e fizeram-me ver que não era a postura indicada para estar no futebol. Foram
quatro anos de muitas alegrias também.
Quais são as melhores memórias que tem do Fabril?
Sem dúvida a subida de divisão
[em 2013-14], o percurso que fizemos na Taça
de Portugal no meu primeiro ano como sénior [2012-13] e a
conquista da Taça do Barreiro [2014], que até ao momento é a única que o Fabril
tem.
No Fabril foi companheiro de equipa do seu atual treinador, Tiago Correia. Como
é a vossa relação?
É uma relação boa. Nessa altura o
pai dele [Manuel
Correia] era o treinador e eu dizia que ele era filho do mister. Agora o
filho é o meu treinador e não sou irmão dele, sou filho [risos].
Sei que tem uma história engraçada com o mister Conhé e que envolvia
um Mercedes. Pode recordar?
Posso sim. Foi num jantar de
equipa, estávamos a comer e, entretanto, o mister vira-se e diz que daqui a uns
anos eu ia andar rua de Mercedes, de óculos escuros e que ia fingir que não o
conhecia quando o visse. E eu, anjinho, comecei logo a encher o peito todo
contente, mas ele vira-se e diz: vais ser taxista. Foi muito engraçado, é uma
história para contar aos filhos e aos netos.
No Vitória de Sernache foi orientado por Daniel Kenedy, antigo jogador
de Benfica e FC Porto. Como foi ter como treinador uma figura bem conhecida do futebol
português?
Foi ótimo para crescer ainda mais.
Tem uma bagagem carregada de conhecimento e ter uma pessoa com o estatuto que
ele tem no futebol é bom para qualquer jogador. Foi pena não ter ficado mais
tempo, mas a política do clube era complicada.
“A minha melhor época foi no Aljustrelense. Fiz muitos golos”
Pedro Barros em ação na receção do Aljustrelense ao Tondela |
Seguiu-se uma aventura no Aljustrelense, clube pelo qual marcou 11 golos em jogos oficiais em 2016-17. Foi a
melhor época da carreira? Com que opinião ficou sobre o clube alentejano?
Sim posso dizer que foi a melhor
época a nível pessoal, joguei muito minutos e fiz muitos golos para um extremo.
É um clube
que vou levar para a vida e ainda hoje costumo falar com as pessoas de lá. É um
clube
acolhedor e que não falha com o que promete. Em breve vou visitar a vila, fiz
muitos amigos lá.
Na edição de 2016-17 o Pedro defrontou o Tondela,
da I
Liga, pelo Aljustrelense,
e mostrou-se a bom nível. O que sentiu durante o jogo em termos de ritmo e de
realização pessoal? No final algum adversário lhe deu a camisola ou o
congratulou?
Fui um jogo muito importante para
o clube e para todos os jogadores. Durante o jogo sentimos que podíamos ganhar,
estivemos por cima praticamente o jogo todo e não fomos a prolongamento porque
o árbitro não assinalou um penálti para nós perto dos 90 minutos. Sim, o Miguel
Cardoso deu-me a camisola e outros disseram que jogava muito à bola, fui um
jogo especial e com uma motivação muito grande.
No Cesarense foi orientado por um antigo internacional português,
Carlos Secretário. Como correu a experiência?
A nível pessoal não correu como
esperado, não joguei o que pretendia. Treinava bem, mas não jogava. No final da
primeira volta não estava satisfeito, disse ao mister que queria sair e saí
para o Mortágua, onde joguei com mais regularidade até ao fim da época.
Jogou durante quatro temporadas no Campeonato de Portugal, sempre com
muitos minutos de utilização. Porque é que em 2018-19 voltou aos distritais
para jogar pelo Oriental Dragon na I Divisão da AF Setúbal e depois pelo Seixal na II Distrital?
Como não há campeonato nas férias,
ninguém recebe. Então decidi arranjar um trabalho e, como estava bem no
trabalho, decidi ficar por cá [margem sul]. Tinha propostas para ir para o
norte e para sul do país, mas achei que não havia mais necessidade de estar
longe de casa.
“Houve a possibilidade de ir para o Gil Vicente em 2017”
Banana dedica um golo ao filho ainda bebé |
Quando jogava no Campeonato de Portugal chegou a sonhar com o
profissionalismo? Recebeu alguma proposta de um clube de uma liga profissional?
Tive uma do Chipre, mas o
dinheiro não compensava. Na altura do Mineiro
Aljustrelense, o Leixões mostrou-se atento e no final da época houve a
possibilidade de ir para o Gil
Vicente, mas por motivos extrafutebol não fui.
Daquilo que conhece do Oriental Dragon, até onde acredita que este recente clube vai chegar?
Financeiramente tem condições
para ir muito longe, mas ainda é cedo. É um clube em construção, mas acredito
que no futuro tenha uma palavra a dizer no futebol profissional.
“Sonhei com a seleção angolana”
Não. Falei por alto com alguns
treinadores e empresários, mas nada em concreto. Foi um sonho que tive na
altura.
Não acompanho muito, mas sempre
que a seleção joga costumo fazer os possíveis para ver. O Fredy é um amigo que
conheci no Belenenses
e que é aqui da minha zona e gosto de ver os meus amigos jogar. A seleção
tem muitos jogadores com qualidade, têm é de saber aproveitar as características
deles.
Quem é Pedro Fula Filipe Soares Barros? Como se define?
Sou um jovem ambicioso, que gosta
de ajudar os seus, adquirir conhecimento e ser imprevisível. Não sou a melhor
pessoa para me definir por incrível que pareça [risos].
Quais são as suas raízes em Angola?
A minha mãe é angolana.
Tenho o desejo de conhecer Angola.
Espero em breve puder ir lá e levar a minha mãe.
Alcunha veio dos desenhos animados Donkey Kong
Banana com a camisola do Arrentela num dérbi frente ao Seixal |
Como surgiu a alcunha de Banana?
Surgiu quando era miúdo, porque era
viciado nos desenhos animados Donkey Kong.
Para não ficar com a alcunha de macaco, ficou banana.
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Nasci em Oeiras, onde a minha mãe
conheceu o meu pai. Entretanto fui morar para o bairro da Jamaica, no
Fogueteiro, e uns anos depois para a Arrentela. Foi uma infância boa. Não posso
dizer que passei por grandes dificuldades. Passei por algumas, mas a minha mãe
sempre fez de tudo para não me faltar nada, crescer bem e ser bem-educado.
Sempre sonhou em ser futebolista? O que faz além do futebol?
Sempre tive esse sonho. Mesmo com
27 anos neste momento, tenho esse sonho. Já não é como quando era miúdo, mas tenho.
Trabalho como rececionista numa IPSS.
Já alguma vez se sentiu vítima de racismo? O que é para si o racismo?
Já e a pior vez que isso
aconteceu foi em campo, até hoje sinto ódio do jogador e nunca mais me vou
esquecer das palavras dele e da cara. Para mim o racismo é algo que nunca vai
acabar, por mais que qualquer ser humano lute contra ele. É uma praga que está
em todo lado do mundo.
Quais são os seus maiores sonhos no futebol e na vida?
O meu maior sonho a nível
futebolístico neste momento é jogar num campeonato nacional pelo o Seixal. Em
termos pessoais é que o projeto que estou a desenvolver tenha sucesso.
Do que conhece e vai vendo neste mercado de transferências, quais são
os clubes favoritos à conquista do título da I Distrital da AF Setúbal em 2020-21?
Do que tenho visto o favorito é o
Barreirense,
que está a reforçar-se bem e que pela história que tem merece estar em outro
patamar. Mas acho que União
de Santiago vai surpreender este ano.
Entrevista realizada por Romilson Teixeira
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