sexta-feira, 13 de setembro de 2019

A aberração das repescagens na Taça de Portugal (e não só...)

21 clubes foram repescados para a 2.ª eliminatória da Taça
Pese o excelente trabalho da Federação Portuguesa de Futebol para melhorar as condições para as seleções nacionais, para aumentar as oportunidades para os jovens atletas e para introduzir o vídeo-árbitro, nem tudo é perfeito no organismo liderado por Fernando Gomes.

Além da inércia para combater verdadeiramente o clima de crispação e suspeição em que o futebol português está mergulhado, há que salientar algumas aberrações nos modelos competitivos das várias provas. Na Taça de Portugal, desde 2015-16 que vigora um sistema de repescagem, que tem permitido que algumas mãos cheias de equipas derrotadas na primeira eliminatória possam reaparecer na segunda ronda.

Nesta época, foram 21 as que foram bafejadas por essa sorte. Entre elas, o Eléctrico de Ponte de Sor, que depois de ter sido alvo da goleada mais pesada da primeira eliminatória, um 0-7 em casa aos pés do Benfica de Castelo Branco, vai receber o Arouca. Por outro lado, equipas que foram afastadas nas grandes penalidades, como Oleiros, Juventude de Évora, 1º Dezembro, Ponte da Barca, Oliveira do Hospital e Paredes, não viram a sua combatividade premiada pelo capricho do sorteio.

No limite, pode dar-se o caso de uma equipa derrotada na 1.ª eliminatória vir a vencer a competição, o que talvez seria inédito a nível mundial. Em certos jogos da segunda ronda, até estarão frente a frente equipas derrotadas na primeira, como o Coruchense-Olímpico do Montijo, o que garante desde logo que uma equipa repescada vai estar na eliminatória em que vão entrar os clubes de I Liga. Não seria inédito, basta recordar que na temporada passada o Lusitano Vildemoinhos arrancou na Taça com uma derrota em casa com o Beira-Mar e mais à frente foi brindado com uma receção ao Sporting. E vá lá que esta época se colocou um ponto final na participação de equipas satélites, porque na temporada transata poderiam ter-se defrontado no Jamor o Desp. Chaves e o… Desp. Chaves Satélite.

Se antes já parecia injusto que uma equipa ficasse isenta, este novo formato faz-nos sentir saudades desses tempos, até porque não aparenta ser muito complicado resolver esta aberração. A medida mais simples, que poderia servir como atenuante, passaria por decidir os emblemas repescados tendo em conta a combatividade mostrada na primeira eliminatória e não por sorteio puro, mas ainda assim é possível fazer melhor.

É possível fazer regressar as isenções ou até mesmo alargar a prova. Atualmente são 144 as equipas participantes, mas não assim há tanto tempo, quando havia III Divisão, chegavam a superar as 170. E há cerca de década e meia eram mais de 200.  Em 2019-20, para que não houvesse repescagens ou isenções, teriam de ser 186, ou seja, 144 mais 42 que dariam origem a outras 21 equipas apuradas para a segunda ronda.

Tendo em conta que são 22 as associações distritais, três das quais dos Açores, as contas até ficariam simplificadas, pois seriam praticamente mais duas equipas por associação a entrar na prova rainha do futebol português. E essas vagas não teriam de ser exclusivamente apuradas através do mérito desportivo, mas também poderia entrar em campo a premiação do fair play, como já aconteceu na Taça UEFA/Liga Europa entre 1995 e 2015.

O presente envenenado do Campeonato de Portugal

Em meados de maio deste ano, já se conheciam 16 dos 18 clubes que iam competir na II Liga em 2019-20. Esses 16, os três que desceram da I Liga e 13 que permaneceram no segundo escalão, foram construindo os respetivos plantéis tendo em conta a competição em que iam jogar na nova época, calendarizando os estágios e os jogos de pré-temporada.

Só um mês depois é que Casa Pia e Vilafranquense garantiram a subida do Campeonato de Portugal à II Liga, sendo que a cerca de uma semana do arranque dos trabalhos de pré-época em grande parte dos clubes, a 23 de junho, ainda tinham de disputar uma final. Como são dois estreantes nas ligas profissionais, tiveram de se reorganizar para aprovar a constituição de uma sociedade com os direitos desportivos da equipa sénior (SDUQ ou SAD), garantir que jogariam como visitados num estádio com as condições exigidas para a II Liga e ainda construir uma equipa talhada para as exigências do segundo patamar do futebol nacional numa altura em que os concorrentes já tinham o plantel muito bem composto. E isto sem férias e a contrarrelógio.

Como seria de prever, estão a sentir bastantes dificuldades neste arranque de temporada. A necessitar de casas emprestadas, o Casa Pia tem jogado em Mafra e o Vilafranquense em Rio Maior e ambos os conjuntos estão nos quatro últimos lugares da tabela classificativa. Onde mora a verdade desportiva?

Também aqui é possível fazer melhor. Se pensarmos que atualmente os dois primeiros classificados das quatro séries do Campeonato de Portugal se apuram para a fase de promoção, apurar apenas os vencedores das séries anteciparia as decisões em duas semanas, o que seria bem mais aceitável. E promover diretamente os vencedores das séries à II Liga faria com que o todos os futuros concorrentes terminassem a época e começassem a nova temporada sensivelmente na mesma altura. 















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