Hoje faz anos o Esposende. Quem se lembra de quando os lobos do mar chegaram às meias-finais da Taça?
Esposende eliminou o Boavista nos quartos de final da Taça em 1998-99
A Associação
Desportiva de Esposende é um clube relativamente jovem, fundado a 27 de
novembro de 1978, mas que atingiu o seu período de maior fulgor pouco após ter
atingido a maioridade, quando participou na II
Liga em duas épocas consecutivas (1998-99 e 1999-00) e atingiu as
meias-finais da Taça
de Portugal em 1998-99.
Às portas do Jamor ficou uma
equipa na qual pontificavam o guarda-redes Jorge Vital, hoje treinador dos guardiões
do Manchester
United, o futuro médio internacional português Petit e filhos da terra como
Vale, Rossi, Tiago Marques ou Paulinho Cepa.
Os lobos
do mar entraram prova na 3.ª eliminatória e, sob a orientação de Luís
Campos, venceram pela margem mínima (0-1) do Águias da Graça, equipa do
concelho de Braga que na altura militava na III Divisão Nacional, graças a um
golo tardio de José Carlos Barbosa ao minuto 90+2.
“O Águias da Graça caiu perante o
Esposende,
já em tempo de compensação, quando a formação local, em termos físicos já pouco
mais tinha para dar. Na primeira parte, o jogo foi equilibrado, apesar do Esposende,
em certos períodos conseguir fazer valer o seu estatuto de equipa mais forte. A
formação comandada por Luís
Campos apresentou-se em campo disposta a resolver a eliminatória, mas pela
frente encontrou uma equipa determinada a vender cara a derrota. Apresentando
um futebol mais forte que o do seu opositor, a equipa de Esposende
dominou, mas a sua defesa não teve uma tarde tranquila. Muito seguros a
defender, os jogadores do Águias ripostavam ao melhor futebol do adversário com
rápidos contra-ataques, não permitindo que a defesa do Esposende
facilitasse. Na segunda parte os jogadores da casa começaram a denotar algum cansaço,
mas o guarda-redes Marco, com um punhado de excelentes defesas, foi adiando o
golo do Esposende.
Porém, mais preocupados em defender o nulo, as ‘águias’ sempre que dispunham de
uma oportunidade para lançar a contraofensiva não se faziam rogados. Quando já
todos esperavam pelo prolongamento, José Carlos Barbosa acabou com o sonho do
Águias da Graça”, escreveu o jornal O Jogo na edição do dia seguinte, a
2 de dezembro de 1998.
Na quarta ronda, mais uma visita
a uma equipa da III Divisão, neste caso o Loures,
e mais uma vitória tangencial por 1-0 graças a um golo tardio. Desta feita o
herói foi o nigeriano Augustine, que saltou para, de imediato, decidir a
eliminatória aos 87’ a favor da equipa então já comandada por José Luís.
“A formação
de Loures dominou todo o primeiro tempo e a turma visitante defendeu–se
bem, sem nunca deixar de responder com contra-ataques rápidos e bem urdidos. No
entanto, as grandes oportunidades de golo neste período do encontro pertenceram
à turma
de Loures, com Nelito (duas vezes) e Paulinho a perderem claras
oportunidades para fazer funcionar o marcador. Na segunda parte, a equipa de
José Luís não só equilibrou a partida como se tornou agressiva na área dos
visitados. O resultado desse ímpeto atacante concretizou-se num golo obtido por
Augustine, acabado de entrar, quando pouco faltava para terminar o encontro”,
podia ler-se no jornal O Jogo na edição de 11 de janeiro de 1999. Na quinta eliminatória, o nível
de dificuldade, pelo menos em teoria, subiu, com a receção à Naval, outra
equipa da II
Liga. Mas, curiosamente, o Esposende
até alcançou um resultado mais dilatado do que nas duas rondas anteriores,
tendo vencido por 2-0, com golos de Petit aos 22 minutos e de Bambo aos 55’. “No encontro entre o Esposende
e a Naval 1º de Maio, ambos os técnicos optaram por utilizar um onze diferente
do habitual, deixando de fora alguns dos jogadores considerados titulares. Por
isso, pese embora o esforço despendido pelos atletas, o certo é que o encontro
decorreu de forma cinzenta numa tarde excelente para a prática do futebol. E
não fora as excelentes exibições de Pedro Maciel e Petit, nos locais, e Raquete
e Vítor Covilhã, pelos forasteiros, quase se poderia dizer que estávamos a
assistir a um jogo de um qualquer campeonato amador”, escreveu o jornal O Jogo
no dia seguinte, a 17 de fevereiro de 1999.
Nos oitavos de final o sonho do
Jamor começou a ganhar forma. É que os três grandes já tinham sido eliminados e
o sorteio colocou o Esposende
a visitar uma equipa da II Divisão B, os Caçadores
das Taipas. Tiago Marques adiantou os lobos
do mar aos seis minutos e Telmo Pinto aumentou a vantagem para 0-2 no final
da primeira parte (41’), ao passo que o conjunto visitado reduziu ao cair do pano,
por intermédio de Martinho (90’). “A licença para caçar caducou no
dia em que mais precisavam dela. Depois de caça grossa nas anteriores eliminatórias,
em que afastou o União
de Lamas e o Felgueiras,
o Caçadores
das Taipas cedeu perante uma equipa mais experiente e que soube tirar
partido das falhas naturais do adversário. O sonho de chegar ao Jamor, tantas
vezes apregoado pelo seu treinador, Fernando Faria, ruiu quando a meta estava
próxima e ganhou força para o Esposende.
Com os grandes fora da competição, é legítimo que a formação comandada por José
Luís, pense em algo mais que não a simples permanência na II
Divisão de Honra, tarefa que passou a rivalizar no lote de objetivos da equipa
com a Taça
de Portugal”, escreveu o jornal O Jogo no dia seguinte, a 8 de março
de 1999.
Nos quartos de final, cumpriu-se
o desejo do treinador José Luís: o Boavista
no Estádio Padre Sá Pereira. Os axadrezados,
então comandados por Jaime
Pacheco, até viriam a sagrar-se vice-campeões nacionais nessa época, mas
não passaram em Esposende.
Nuno Sousa marcou o golo solitário do encontro aos 23 minutos, apurando os lobos
do mar para as meias-finais. Uma das maiores surpresas numa edição da Taça
de Portugal das mais surpreendentes de sempre. “O Esposende
passou ontem, pela primeira vez no seu ainda curto historial, às meias-finais
da Taça
de Portugal através de um triunfo justo, embora tangencial e custoso, sobre
o Boavista,
que confirmou estar a atravessar um claro declínio de rendimento, após ter
cumprido três quartos de época a um nível verdadeiramente notável. Para os
do Bessa, não foi o fim do mundo, mas apenas o de um sonho: a conquista de
um troféu, no qual tem pergaminhos, e que este ano estava quase ali à mão de
semear, dadas as eliminações - precoces à luz da lógica futebolística - dos
três grandes. Era, pois, natural que os responsáveis boavisteiros, incluindo os
jogadores, tivessem já assumido o propósito claro de acrescentar mais um ‘Caneco’
aos seus já vários troféus, numa época em que o segundo lugar no Campeonato, a
sete jornadas do final, lhes permite acalentar perspetivas importantes na luta
pelos lugares cimeiros da tabela e, em particular, no do acesso à
multimilionária Liga
dos Campeões. Toda a concentração reside agora neste objetivo”, podia
ler-se na edição de 12 de abril de 1999 do jornal O Jogo.
Nas meias-finais, mais uma vez no
Estádio Padre Sá Pereira, o Esposende
recebeu o Campomaiorense,
da I
Liga. Ambas as equipas procuravam a primeira presença no Jamor, mas, desta
feita, prevaleceu a lei do mais forte, com os alentejanos,
orientados por José Pereira, a vencer por 2-0, graças a golos dos brasileiros Isaías
(37 minutos) e Demétrius (67’). “Num estádio completamente cheio,
o Esposende
tentou realizar o sonho de chegar à final da Taça
de Portugal, mas não o conseguiu. Pela frente encontrou um Campomaiorense
moralizado por um empate conseguido na Luz,
mas a jogar um futebol de fraca qualidade. No fim do encontro, a festa
pertenceu aos alentejanos,
que pela primeira vez na história do clube vão marcar presença na final do
Jamor”, escreveu o Diário de Notícias na edição de 6 de maio de 1999.
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