quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Sócrates Pedro: “Objetivo do Lusitano Évora é ficar nos cinco primeiros lugares”

Sócrates Pedro voltou no início desta época ao Lusitano Évora SAD
Filho de angolanos, o extremo Sócrates Pedro nasceu em Lisboa, cresceu na margem sul, evidenciou-se em clubes como Beira-Mar Almada e Cova da Piedade, brilhou intensamente no Casa Pia, mas esta época está novamente ao serviço do Lusitano Évora SAD com o intuito de levar o emblema alentejano aos cinco primeiros lugares da Série H.
 
Em entrevista, o jogador “tecnicista, trabalhador e irreverente” fala do sonho de jogar por Angola e passa em revista um percurso que teve paragens no Girabola e no campeonato da Índia.
 
ROMILSON TEIXEIRA - Comecemos esta entrevista por um momento recente de grande brilho individual, o fantástico golo de livre direto que deu a vitória ao Lusitano Évora SAD sobre o Louletano. O que lhe passou pela cabeça nos instantes antes de pontapear a bola?
SÓCRATES PEDRO - É curioso que, mal a falta foi marcada, um colega deu-me logo a bola e disse 'marcas tu Sócrates'. normalmente sou eu que marco os livres, mas nesse momento tive uma motivação extra pela confiança que foi depositada pelo meu colega. na altura só pensei 'vou fazer golo', e a verdade é que correu bem. marquei e felizmente acabámos por ganhar o jogo.
 
O Sócrates considera-se um especialista na conversão de livres diretos? Em que grandes executantes do futebol mundial se inspira?
Não me considero especialista, mas acho que bato bem. Nos melhores, Cristiano Ronaldo, Messi e Ronaldinho são os que gosto mais de ver a bater livres diretos. Mas mais no Ronaldinho.
 
 

Essa vitória sobre o Louletano permitiu ao Lusitano ascender ao quinto lugar da Série H do Campeonato de Portugal, posição que dá acesso à futura III Liga. Quais são os objetivos do clube para esta temporada?
Os objetivos do Lusitano passam por ficar entre os cinco primeiros classificados, mas primeiro vamos pensar jogo a jogo.
 
Vem aí um jogo com o Estoril, um dos primeiros classificados da II Liga, para a Taça de Portugal. Com que perspetivas é que o Lusitano vai entrar para o jogo e por onde pode passar a estratégia coletiva para bater um adversário que teoricamente terá argumentos mais fortes?
Vamos entrar no jogo como entramos em qualquer outro jogo, sempre para ganhar. Respeitando o adversário, mas sem temer. Teoricamente o Estoril é mais forte, mas dentro de campo nem sempre ganha quem é teoricamente melhor. Vamos explorar os pontos menos fortes deles e tentar aproveitar todas as situações que conseguirmos criar.
 
Na temporada passada o Lusitano sentiu bastantes dificuldades para se manter afastado da zona de despromoção. O que sente que esta época tenha mudado para melhor?
A época passada foi um ano de aprendizagem, pois o clube vinha de uma divisão inferior. Nesta temporada já houve mais investimento e temos uma equipa claramente superior, o que nos faz almejar coisas maiores.
 

“Diferendo entre clube e SAD? Adeptos são poucos, mas bons”

Sócrates Pedro é extremo e tem 28 anos
O que está a achar dos métodos do mister José Bizarro?
Estou a gostar de trabalhar com o mister. Transmite-nos muita confiança e tem métodos muito eficazes e diretos no que toca a todas as variantes do jogo.
 
E o que está a achar dos companheiros de equipa? Há algum que o esteja a surpreender mais pela positiva?
Temos um plantel muito equilibrado, muito trabalhador, e muito talentoso também. Um dos jogadores que mais me tem surpreendido é o Mauro Andrade, um autêntico craque.
 
O Lusitano vive num diferendo entre clube e SAD. Como vê esta situação? Sente que os adeptos do clube estão convosco?
Não estou muito dentro desses problemas entre clube e SAD, sou jogador e é nisso que me tenho focado. Em relação aos adeptos só tenho a dizer que podem ser poucos, mas são bons.
 

“Sou tecnicista, trabalhador e irreverente”

O Sócrates Pedro é um extremo. Como se descreve como jogador? Quando uma equipa o contrata, com o que pode contar?
Sou um jogador muito tecnicista e que gosta não só de jogar colado à linha, mas também ir para dentro para poder finalizar. Sou trabalhador e irreverente. Que marca golos e assiste os companheiros. Uma equipa que me contrata pode contar acima de tudo com muito trabalho em prol da equipa.
 
Voltemos atrás no tempo. Como foi a sua infância? Onde nasceu e cresceu?
Eu nasci em Lisboa, mas cresci no outro lado da ponte, na margem sul, em Almada e posteriormente no Miratejo. Posso dizer que tive uma infância muito feliz, sempre vivi com a minha irmã e a minha mãe, nunca nos faltou nada pois a minha mãe sempre trabalhou muito para que eu e a minha irmã tivéssemos as condições necessárias para não nos preocuparmos com nada, e sempre tive o prazer de poder jogar futebol. A minha mãe sempre foi muito liberal, então sempre pudemos fazer um pouco de tudo sem nenhum stress.
 

“Fiz muitos amigos e cresci muito como pessoa no Beira-Mar Almada

Sócrates Pedro nos tempos em que atuava no Beira-Mar Almada
Começou a jogar futebol no Beira-Mar Almada. Que memórias guarda desses tempos no emblema de Cacilhas?
As melhores memórias possíveis. Fiz muitos mais amigos e principalmente foi lá que cresci muito enquanto pessoa, sendo que também fui campeão duas vezes.
 
Na formação do Beira-Mar Almada jogou ao lado de Lucas João, que chegou a internacional português. Ele já se destacava naquela altura? Sentiam que ele podia chegar tão longe?
O Lucas é um grande amigo. Já nessa altura era um autêntico craque, toda gente sabia que podia chegar muito longe apesar de ser um pouco preguiçoso [risos]. Ele sempre teve uma enorme qualidade que mais tarde veio a ser reconhecida. Para mim hoje é um dos melhores pontas de lança em Inglaterra.
 
Depois passou pelos seniores do Olímpico Montijo, onde foi orientado pelo antigo lateral esquerdo internacional português Fernando Mendes. Que memórias guarda dessa aventura e com que impressão ficou do treinador?
Não guardo muitas memórias do tempo do Olímpico Montijo porque fiquei lá pouco tempo. Não jogava muito, então decidi sair dois meses depois de ter chegado.
 

“Era uma questão de tempo o Cova da Piedade chegar às ligas profissionais”

Sócrates Pedro com a camisola do Cova da Piedade
Entretanto rumou ao Cova da Piedade, que na altura estava nos distritais da AF Setúbal. Como correu a estadia no clube? Naquela altura parecia-lhe possível ver os piedenses em tão breve prazo nas ligas profissionais?
Rumei ao viva Cova da Piedade dando dois passos atrás, mas foi o melhor que fiz, pois tive um impacto muito grande na equipa mesmo tendo apenas 18/19 anos. O Cova da Piedade sempre teve boas condições, era uma questão de tempo até atingirem esse patamar.
 
Em 2012 saiu do Cova da Piedade para o Oriental e conseguiu ajudar o clube de Marvila a subir à II Liga. Quais as principais memórias que guarda dos dois anos que passou no emblema lisboeta?
Lembro que tínhamos um grande plantel, um dos melhores em que já joguei. A nível coletivo, a época que subimos foi a melhor época para mim.
 
Em 2014 voltou ao Cova da Piedade, mas poucos meses depois transferiu-se para os angolanos do Interclube. Como correu a aventura e o que achou do clube e do Girabola?
Em 2015 rumei ao Interclube, mas no último jogo antes da minha ida para Angola, pelo Cova da Piedade, sofri uma lesão que me deixou fora dos relvados quase dois meses. Então cheguei lesionado e isso dificultou a minha integração no plantel e no futebol angolano. Tive também dificuldades a tratar dos documentos para ser inscrito, então às coisas não correram como esperava e não cheguei a estrear-me no Girabola. Mas o clube tinhas boas condições e sempre fui bem tratado.
 

Girabola está ao nível da II Liga portuguesa

Sócrates Pedro esteve no Interclube em 2015
Quais são para si as principais diferenças entre o futebol angolano e o português? Com que divisão de Portugal compara o Girabola?
Na minha opinião o futebol angolano é um pouco mais físico, mais de contacto, enquanto o futebol português é mais técnico e tático. O Girabola para mim está ao nível de uma II Liga portuguesa.
 
Em 2015-16 regressou a Portugal pela porta do Tourizense, onde foi orientado por um seguidor habitual deste blogue, Pedro Paiva, então um jovem treinador de 23 anos. Como correu a aventura em Touriz e como foi para o Sócrates ser orientado por um treinador com a mesma idade?
O Tourizense foi uma ótima experiência, éramos todos bastantes jovens, até o treinador. Foi uma grande surpresa para mim ser treinado por alguém tão novo, mas também uma grande surpresa porque o mister Pedro é um exemplo de ambição. Apesar de ser muito novo, sempre deu mostras de grande competência e profissionalismo.
 
Depois transitou para o Casa Pia e viveu a melhor temporada carreira em termos de números, tendo apontado 15 golos. Essa foi mesmo a época em que vimos o melhor Sócrates Pedro? O que tem faltado para voltar a apresentar registos idênticos?
Sim a verdade é que tive uma ascensão considerável de um ano para o outro, penso que foi porque estava num plantel bastante experiente e com muitos jogadores que jogavam juntos há alguns anos. Juntando a isso, tínhamos um treinador [Tiago Zorro] que privilegiava muito o jogo interior e eu jogava muito por dentro, podendo estar mais próximo da baliza. Nessa altura tínhamos equipa para lutar para subir de divisão, uma realidade um pouco diferente da realidade que encontrei nos clubes por onde passei posteriormente.
 
Em 2017-18 representou o Pinhalnovense. Como correu essa temporada?
No Pinhalnovense vivemos uma época com duas caras, porque até meio da época estávamos em primeiro lugar do campeonato, pois tínhamos um plantel bastante equilibrado. Mas em janeiro saíram alguns jogadores importantes. Essas saídas não foram colmatadas e acabámos por cair de rendimento, mas no geral penso que foi uma época bastante positiva.
 

“Defrontar o Benfica foi uma das melhores experiências que vivi”

Sócrates Pedro em ação diante do Benfica
Depois passou pelo Sertanense e teve a oportunidade de defrontar o Benfica na Taça de Portugal. Como viveu esse momento?
Foi uma das melhores experiências que vivi, jogar contra um Benfica que na altura estava numa excelente forma. Não só pelo jogo em si, mas por todo o ambiente que foi gerado à volta do mesmo. Foi um jogo de emoções fortes.
 
Em 2019-20 começou a época no Lusitano, mas a meio mudou-se para os indianos do Churchill Brothers. O que o fez rumar à Índia e como correu a experiência não só a nível desportivo? Como foi a adaptação a um clima, uma cultura e uma gastronomia completamente diferentes?
A minha ida para a Índia para mim foi mesmo a melhor experiência da minha vida, não só profissional, mas também pessoal. Falando de futebol, foram surpreendentes a organização e o profissionalismo que envolve cada jogo naquele país. Muito bom. Muitas pessoas pensam que o futebol indiano não tem qualidade, mas é exatamente o oposto, há muita qualidade quer coletiva quer individual. Foi uma boa surpresa.
Relativamente ao resto, fui super bem-recebido não só pelas pessoas do clube, mas também pelas pessoas de Goa, uma cidade super humilde e com pessoas bastante simpáticas e atenciosas. O único senão era mesmo a gastronomia e o clima. Relativamente à gastronomia, normalmente as refeições eram muito picantes e com muitas especiarias também. O clima era muito quente, tínhamos que treinar às 7 da manhã porque às 9.30 já estavam quase 30 graus.
 
 
Quais são as suas raízes em Angola?
Os meus pais são angolanos, a minha mãe do Bié e o meu falecido pai era de Luanda.
 

“Um dos meus sonhos é representar Angola

Sócrates Pedro em grande estilo ao serviço do Pinhalnovense
Representar a seleção angolana faz parte dos seus planos? Já foi contactado pela FAF em algum momento da sua carreira?
Claro que sim, um dos meus sonhos é representar a seleção de Angola. Nunca tive o prazer de ser abordado por ninguém ligado diretamente à Federação Angolana, mas caso venha a acontecer irei com enorme orgulho.
 
Tem acompanhado o futebol angolano? Que opinião tem e quais são os atletas angolanos que mais admira?
Hoje em dia já não acompanho muito. Vejo mais os resultados, os jogos não costumo ver. Mas a seleção tem grandes valores, hoje em dia olhamos para a seleção e vemos muitos jogadores de renome e muitos já atuam na Europa, e a nível exibicional também têm melhorado muito, o que ajuda a valorizar o jogador angolano em geral. Admiro muito o Ary Papel e o Gelson Dala.
 
Alguma vez foi alvo de insultos racistas? O que é para si o racismo?
Normalmente não gosto de dar muito protagonismo ao racismo, no sentido em que tento sempre ignorar esses atos. Claro que há situações que não conseguimos ignorar e é mesmo difícil de compreender, mas no que toca a mim ignoro sempre qualquer tipo de comportamento racista que se direcione a mim. O racismo deriva de pessoas ignorantes que acham que são superiores por causa do tom de pele.
 
Também é inevitável falar da pandemia de Covid-19. Sente-se seguro ao estar sem máscara perto de tantas pessoas que não são regularmente testadas?
Nem penso muito nisso quando estou em treino ou em jogo. No dia a dia claro que me tento sempre proteger, evitando aglomerados de pessoas ou colocando sempre a máscara. Mas não sou paranoico.
 
O público começa agora a regressar aos estádios em Portugal. A DGS tem referido que o público do futebol se comporta de maneira diferente em relação ao público das touradas e dos espetáculos. É da mesma opinião ou sente que é preconceito?
Não consigo mesmo perceber o porquê de o futebol não poder ter espectadores aquando que as touradas têm lotação esgotada e a Fórmula 1 em Portimão foi igual. É incompreensível estádios tão grandes estarem completamente vazios. Não pedimos lotação total, mas que estabeleçam uma percentagem de ocupação, como por exemplo no jogo da Juventus frente ao Ferencvaros na Hungria, que teve bastante público. Em Portugal só nos Açores. Mas vamos ver como vai ser daqui para a frente.
 
Tem alguma outra ocupação além do futebol ou dedica-se a esta atividade a 100%?
Dedico-me a 100% ao futebol.
 
 
Entrevista realizada por Romilson Teixeira










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