Chama-se Bruno Martinho, é
conhecido por Bruninho no mundo do futebol, mas a fisionomia, o estilo, os
golos em catadupa e a camisola verde e branca do Fabril têm motivado comparações
com o avançado holandês do Sporting.
É líder isolado da lista de marcadores da
I Distrital da AF Setúbal, com 17 golos em outras tantas jornadas, mas só
participou em quinze. A média impressionante de golos não é de agora e a
vontade de dar o salto para um patamar superior existe, mas a falta de convites
que financeiramente o permitam deixaram o emprego de distribuidor de móveis
leva-o a continuar a brilhar apenas nos distritais.
Passou pelo futebol de
Macau, foi campeão na época passada pelo Amora e está bem encaminhado para
repetir a façanha ao serviço do emblema do Lavradio, pelo qual admite
estrear-se no Campeonato de Portugal.
Leva 17 golos em 15 jogos na I Distrital, prova da qual é o melhor
marcador. Qual o segredo para tantos remates certeiros?
O segredo é trabalhar forte
durante a semana, sem brincar. E depois ao fim de semana temos o fruto do
trabalho.
Destes 17 golos, há algum que considere o melhor?
Foi o do último fim-de-semana
[vitória por 4-1 na visita a O
Grandolense], um pontapé de bicicleta. Nunca me tinha acontecido. Calhou e
entrou, foi golo. Também tive outros golos quando era mais pequeno, mas este
foi o que recentemente me marcou mais.
Com 17 golos ao cabo de 17 jornadas, tem alguma meta para cumprir até
ao fim do campeonato?
A meta é ir jogo a jogo e fazer
sempre a diferença e continuar a trabalhar para que apareçam mais golos. Por
época, o mínimo que estipulo é 15 golos. Depois de chegar aos 15, tudo o que
vier é sempre bom.
O Bruno é um ponta de lança de 1,90 m, mas não se esgota no jogo aéreo.
Como se define enquanto avançado?
Sou alto e gosto sempre de jogar
forte, agressivo. Não gosto de jogar para brincar. Jogo sempre para ganhar.
Tem algum goleador de renome para o qual procura olhar para se inspirar
nas movimentações, no posicionamento ou na técnica de remate?
Sou fã de grandes jogadores, mas
por acaso… tratam-me por Bas Dost
do Lavradio. Neste jogo em Grândola,
o árbitro [Pedro Ferreira, do Núcleo de Setúbal] até me chamou ‘Bas Dost,
tem lá calminha!’. Até pensei: ‘Bas Dost!?
Mas confianças é que são essas!?’. Mas também gosto muito de Hazard,
Lewandowski e de outros grandes jogadores.
Esta comparação com o Bas Dost também tem a ver com a fisionomia…
Exatamente. Tem a ver com a forma
de jogar, de estar no campo… Mas o Bas Dost
é mais de ataque, e eu defendo e ataco.
É primo de um jogador que chegou longe no futebol, o Carlitos, que foi
internacional sub-21 português e jogou no Estoril, Benfica, Vitória de Setúbal,
Basileia, Hannover 96 e Sion. Ele dá-lhe alguns conselhos?
Ele é meu primo, falamos quando
nos vemos, mas não conversamos muito sobre futebol. É raro ele estar cá, mas no
ano passado ele foi ver alguns jogos do Amora e no final ficávamos a falar um
bocadinho.
Bruno Martinho chegou ao Fabril no início da época após ter sido campeão pelo Amora |
O Bruno, além de futebolista em horário pós-laboral e ao fim de semana,
tem um emprego…
Gostava de viver só da bola, mas
infelizmente não tive aquela estrelinha que alguns jogadores têm. Sou
distribuidor de móveis.
Nas entrevistas levadas a cabo n’O
Blog do David no início da época aos treinadores das equipas da I
Distrital, muitos apontavam o Fabril
como candidato ao título e questionavam como era possível o Bruninho não estar
num patamar superior. Que justificação há para marcar golos época após época e
ainda estar nos campeonatos distritais?
Nem todos temos a sorte de ter um
empresário ou grandes conhecimentos. Nesse aspeto, faço tudo sozinho. Se
calhar, se tivesse alguém… Basicamente, ninguém nos vê nos distritais. Só se
formos campeões e mesmo assim… Eu gostava de ter uma oportunidade noutro clube
maior, mas nem sempre temos hipótese. E também é verdade que ando na I
Distrital porque me permite não largar o trabalho.
Mas o Bruno no ano passado jogava numa equipa que agora está no
Campeonato de Portugal, o Amora, onde marcou muitos golos e foi campeão. Porque
não ficou na Medideira?
Porque o dinheiro que eles me
propuseram não compensava deixar o meu emprego. Tenho dois filhos, casa e carro
para pagar. Não podia largar o trabalho para ganhar 600 ou 700 euros e treinar
de manhã. Temos de olhar para os prós e para os contras.
Aos 29 anos, sente que passou ao lado de uma carreira profissional?
Acredito que ainda possa haver
uma oportunidadezinha.
A subida do Fabril
está bem encaminhada. Poderá ser o Fabril
a dar-lhe a oportunidade de jogar no Campeonato de Portugal?
A julgar no que me dizem, que vai
no sentido de os treinos continuarem às 19.30, se subirmos se calhar fico pelo Fabril.
Mas se mudarem para de manhã, torna-se complicado. Não me compensa largar o
trabalho por causa de 600 ou 700 euros. E depois quem é que me paga as
despesas?
O campeonato não começou bem para o Fabril,
com uma derrota caseira ante O
Grandolense e um empate em Santiago
da Cacém. Mas daí para cá, somaram 15 vitórias consecutivas e já são 14
pontos sobre o segundo classificado, o Sesimbra.
Esperavam chegar a esta fase com tantos pontos de avanço?
Fisionomia motiva comparações com Dost |
O Fabril
é um clube com uma grande história e tem um grande estádio, que por um lado é
grande e mítico, mas que dá sempre a ideia de estar demasiado vazio e afastado
do relvado. Como é jogar no Fabril
e no Estádio Alfredo da Silva?
É muito bom entrar naquele campo
e pensar no aspeto que teria se estivesse cheio. Acho que qualquer jogador que
entrasse naquele estádio cheio iria sentir mais o peso da camisola. Acho que
podia encher mais um bocadinho. Agora que estamos em primeiro vou-me
apercebendo que tem ido cada vez mais gente ao estádio. Já se vão vendo umas
quantas pessoas, não 10 ou 15 como no início da época. Mas se enchesse, seria
um estádio espetacular.
A época do Fabril
ficou marcada pela surpreendente saída do treinador
Jorge Prazeres no final de janeiro, devido a um conflito com um diretor
durante o almoço antes da visita ao Beira-Mar
Almada, a 27 de janeiro, quando a equipa liderava confortavelmente o
campeonato. Como é que o Bruno e o restante plantel reagiram à mudança?
Até demos boa resposta nesse
aspeto. Ninguém estava à espera, fomos para o jogo sem treinador e o adjunto é
que fez a equipa. Depois o treinador apareceu no campo, despedimo-nos dele e
não sabíamos o que fazer mais. São assuntos da direção.
Já lhe tinha acontecido algo do género?
Não, nunca me tinha acontecido.
Foi a primeira vez.
O Bruno passou pelo futebol de Macau entre 2013 e 2015, para
representar o Benfica de Macau e o Windsor Arch Ka I. Como é que surgiu a
oportunidade e como foi a adaptação ao clima, gastronomia e cultura?
Surgiu num torneio de futebol 7
em Paio Pires. Estava um senhor de Macau a assistir, a observar jogadores, e
falou comigo e outros dois colegas. Mas só eu é que acabei por ir, eles não
quiseram. Lá o campeonato tem dez equipas: cinco boas e cinco muito más. Cinco
equipas têm dinheiro, outras não. As condições até são boas, não falta nada,
mas são clubes que acho que nem na II Distrital jogavam. O clima lá é muito
quente e húmido, faça chuva ou faça sol. Não foi fácil respirar lá durante os
primeiros dias. Em termos de gastronomia e cultura não tive grande choque. Só
quando tivemos um torneio no interior da China é que não foi fácil com a comida,
mas em Macau havia comida portuguesa.
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