quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Évora, Mamona e dois 'outsiders'. Os portugueses candidatos a medalhas

Nélson Évora e Patrícia Mamona são as principais esperanças
Os atletas de triplo salto Nelson Évora, campeão em 2015 e 2017, e Patrícia Mamona, prata em 2017, são as principais esperanças portuguesas para chegarem aos lugares mais altos no pódio nos Europeus de pista coberta de atletismo que vão decorrer em Glasgow, na Escócia, entre esta sexta-feira e domingo.

Se no triplo salto estão os favoritos para trazerem medalhas para Portugal, no lançamento do peso estão os principais outsiders, ambos do Benfica. Francisco Belo chega ao Reino Unido com a 7.ª melhor marca europeia da época (20,90 metros), mas é Tsanko Arnaudov o recordista nacional - lançou 21,27 metros em fevereiro do ano passado, em Pombal.


É neste quarteto que residem as maiores expectativas de Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo. "Levamos 13 atletas, representantes de várias áreas da modalidade, e obviamente que para esses 13 atletas temos diferentes expectativas. Para uns há a expectativa de pódio, enquanto outros, que conseguiram as marcas de qualificação, esperamos que passem a primeira ronda, o que é sempre uma boa experiência para aqueles que são menos qualificados e estão a fazer a sua preparação para o alto nível. Estou na expectativa de ter bons resultados", começou por dizer ao DN.

"Há mais esperanças em relação aos atletas que têm ambição, realismo e que já estão experimentados no pódio, como são os casos de Nelson Évora e Patrícia Mamona. Depois temos os dois lançadores de peso [Francisco Belo e Tsanko Arnaudov], que são dois atletas com marcas de grande nível internacional e espero que sejam finalistas e depois logo se vê o que pode acontecer. E há outros atletas que espero que possam chegar a finais e passar a primeira eliminatória, e aí não refiro nomes, porque seria um abuso estar a fazer previsões desse tipo, mas dentro do realismo é isto que posso dizer", aditou o líder federativo.

Se Portugal leva mais três atletas do que nos Europeus de há dois anos, em Belgrado, também existe a esperança em melhorar os resultados obtidos na Sérvia, que se traduziram na conquista de duas medalhas, o ouro de Évora e a prata de Mamona. "Fazer melhor era a Patrícia conquistar a medalha de ouro. É possível os dois vencerem", acrescentou o líder federativo. "Todos querem medalhas, vamos esperar pelos resultados, mas penso que vamos ter resultados bons e interessantes para o nosso país", completou José Santos, diretor técnico nacional.


Nelson à procura do tri

Campeão nos Europeus de pista coberta de Praga (2015) e Belgrado (2017), assim como nos de ar livre de Berlim (2018), nos Mundiais ao ar livre de Osaka (2007) e nos Jogos Olímpicos de Pequim (2008), o sportinguista Nelson Évora poderá tornar-se o primeiro português a conquistar o ouro de uma disciplina em três Europeus de pista coberta consecutivos, aos 34 anos.

Filho de cabo-verdianos, nascido na Costa do Marfim, mas a residir em Portugal desde os 5 anos, causou furor em outubro de 2016 quando trocou o Benfica pelo rival da Segunda Circular. Após recuperar de uma lesão que o afastou das pistas entre finais de 2011 e meados de 2014, ainda não conseguiu bater o recorde pessoal de 17,74 metros ao ar livre, mas no ano passado estabeleceu 17,40 m como melhor marca nacional em pista coberta. Para esta competição, parte com a sétima melhor marca europeia da temporada. "O Nelson é um atleta que, não estando no seu melhor em termos de marca, é extremamente competitivo e que se supera nos momentos de competição", considerou Jorge Vieira, que ainda não vai poder contar com o triplista cubano naturalizado português Pedro Pablo Pichardo: "Ele está disponível para a seleção a partir de 1 de agosto e a partir daí é que falamos dele. Mas será um atleta para os grandes momentos, isso é indiscutível."

Mamona embalada pelo recorde

Nascida há 30 anos em Lisboa, mas com ascendência angolana, Patrícia Mamona começou no Juventude Operária de Monte Abraão, mas foi de leão ao peito que se consagrou, tendo conquistado a medalha de ouro dos Europeus de Amesterdão em 2016. Depois de ter desiludido nos Europeus ao ar livre de Berlim, no ano passado, ao não se qualificar para a final, Patrícia Mamona surge no início de 2019 num grande momento de forma, tendo batido a 8 de fevereiro, em Madrid, o recorde nacional (14,44), que é também a quarta melhor marca europeia do ano, apenas atrás da russa Yekaterina Koneva (14,81), da alemã Kristin Gierisch (14,59) e da espanhola Ana Peleteiro (14,51).
Mamona pretende, no mínimo, igualar o segundo lugar de 2017

"O meu objetivo é fazer um segundo lugar ou melhor. É uma competição em que estão todas muito fortes. O ranking europeu está muito forte", assumiu a triplista antes da partida para a Escócia, nesta quarta-feira.

"A Patrícia bateu o seu recorde pessoal há pouco tempo, está em bom estado de forma. A Susana Costa [outra atleta de triplo salto] também está a progredir comparativamente ao ano passado e por isso temos bons resultados em vista. Tudo é expectável", considerou Jorge Vieira, fazendo alusão à atleta da Academia Fernanda Ribeiro - a única que não pertence a Sporting (nove atletas) ou Benfica (três) -, que tem a 9.ª melhor marca europeia da época (14,13).

23 medalhas em 34 edições

Em 19.º lugar na tabela do medalheiro de todos os tempos dos Europeus de pista coberta, que é liderado pela URSS, Portugal já conseguiu obter 12 medalhas de ouro, oito de prata e três de bronze. O primeiro ouro foi alcançado por Fernanda Ribeiro, nos 3000 metros de Paris 1994, que repetiu a façanha em Estocolmo 1996, Europeus em que a comitiva lusa conseguiu a proeza inédita de trazer duas medalhas de ouro, sendo a outra alcançada por Carla Sacramento nos 1500 metros.

Dois anos depois, iniciou-se o reinado de Rui Silva, o único atleta luso três vezes campeão europeu de pista coberta. Fê-lo nos 1500 metros de Valência 1998, Viena 2002 e Turim 2009, tendo pelo meio alcançado a medalha de prata nos 3000 metros de Gent 2000.

Também na década passada, Naide Gomes venceu no salto em comprimento em Madrid 2005 e Birmingham 2007, tendo ainda sido vice-campeã em 2002 e em Paris 2011. Mais recentemente, além do bis de Nelson Évora, Francis Obikwelu alcançou o ouro nos 60 metros em 2011 e Sara Moreira nos 3000 metros em Gotemburgo 2013.

O português com mais presenças em Europeus de pista coberta é o velocista Luís Cunha, que soma sete, seguido por quatro atletas com cinco participações: Carlos Cabral, Mário Silva, Carlos Calado e Rui Silva.

A elite de 13 disciplinas

Ainda que muitos atletas possam vir a guardar o pico de forma para os Mundiais ao ar livre, que se disputam em Doha (Qatar) entre 27 de setembro e 6 de outubro, vão estar presentes em Glasgow os melhores europeus de 13 disciplinas: 60 m, 400 m, 800 m, 1500 m, 3000 m, 60 m barreiras, salto em altura, salto à vara, salto em comprimento, triplo salto, lançamento do martelo, 4x400 m e heptatlo.
Évora procura revalidar os títulos conquistados 2015 e 2017

No salto com vara masculino, por exemplo, espera-se uma luta tremenda entre o sueco Armand Duplantis, campeão da Europa no ano passado, e o francês Renaud Lavillenie, recordista mundial (6,16). No entanto, quem tem a melhor marca do ano é o polaco Piotr Lisek (5,93). Pode ser a grande competição destes campeonatos. Na vertente feminina, a campeã olímpica, mundial e europeia, a grega Katerina Stefanidi (4,74 como melhor marca do ano) terá como principais concorrentes a russa a competir como neutral Anzhelika Sidorova (4,91) e a campeã britânica Holly Bradshaw (4,81).

Outra disputa que se prevê acesa é nos 60 m barreiras. O britânico Andrew Pozzi defende o título em casa, mas terá pela frente os dois atletas europeus com a melhor marca em 2019: o espanhol Orlando Ortega (7.49) e o francês Pascal Martinot-Lagarde (7.52). Pozzi, para que conste, tem 7.67 como melhor marca do ano e 7.43 como recorde pessoal. Mais atrás parte o português Rasul Dabo (7.88).

No salto em altura, a bicampeã mundial Mariya Lasitskene, que vai competir como neutral, apresenta-se com 2,04 como melhor marca do ano. As britânicas Katarina Johnson-Thompson (1,93) e Mogan Lake (1,97) e a ucraniana Yuliya Levchenko (2,00) serão as principais concorrentes. Nos homens, perspetiva-se uma intensa batalha entre o bielorrusso Maksim Nedasekau e o italiano Gianmarco Tamberi.

Entre os vários duelos empolgantes, há um que vai acontecer em duas disciplinas. A britânica Laura Muir, duplamente campeã em 2017, e a alemã Konstanze Klosterhalfen, que tem a melhor marca de 2019 (8:32.47), vão estar frente a frente tanto nos 1500 m como nos 3000 m.

Nos 4x400 m, a Polónia defende o título tanto em masculinos como femininos, com as britânicas e os belgas como principais adversários.

Quem também vai defender o ouro alcançado não só em 2017 mas também em 2015 e 2013 nos 400 m é o checo Pavel Maslák, que tem a melhor marca europeia desde 1988 (45.24 em 2014). Conquistou ainda o ouro nos mundiais de pista coberta em 2014, 2016 e 2018 e nos europeus ao ar livre de 2012. A sua principal ameaça deverá ser o norueguês Karsten Warholm, campeão mundial de 400 m barreiras e detentor da melhor marca europeia do ano (45.56).

Por falar em defesas de título, o britânico Richard Kilty pretende alcançar o terceiro ouro consecutivo nos 60 m dos Europeus de pista coberta. No entanto, tem pior marca este ano (6.63) do que o sueco Austin Hamilton (6.62) e o turco Emra Zafer Barnes (6.55) - mais atrás partem os portugueses Ancuian Lopes (6.72) e Carlos Nascimento (6.69). Na vertente feminina, a também britânica Asha Philip vai procurar revalidar o ouro diante da detentor da melhor marca europeia da época, a polaca Ewo Swoboda (7.08), numa competição que contará com a portuguesa Lorene Bazolo (7.30).













2 comentários:

  1. E o Pichardo não vai aos Europeus, porquê ?! Está lesionado ou 'deixou' de ser tão português como o Évora ?!

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    1. "(...)considerou Jorge Vieira, que ainda não vai poder contar com o triplista cubano naturalizado português Pedro Pablo Pichardo: "Ele está disponível para a seleção a partir de 1 de agosto e a partir daí é que falamos dele. Mas será um atleta para os grandes momentos, isso é indiscutível.""

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