António Gomes é presidente e treinador |
Grande parte deste sucesso passa
por António Gomes, que acumula os cargos de presidente e treinador. “Há muitos
anos que sou presidente e treinador. Já tive cá vários treinadores, mas as
coisas não correm bem, acabo por assumir, as coisas começam a melhorar e
acabamos por ficar entre os cinco primeiros. Não sei o que se passa: a equipa é
a mesma e os jogadores são os mesmos. Isto já é assim há muito tempo. Tenho 42
anos de atividade desportiva. Joguei até aos 39 anos como federado e depois
comecei a treinar e entrei no dirigismo. Em todo este tempo, só estive dois
anos afastado, entre 2003 e 2005. Desde 1995/96 que estou n’O Grandolense”,
começou por contar a O Blog do David.
Em Grândola, o acumular de
funções não incomoda sócio algum, bem pelo contrário. “No início, houve algumas
situações, mas como os resultados apareceram… Noutro caso, diriam ‘ele é
presidente e quer ser o treinador’. Já foram três ou quatro vezes que larguei o
comando técnico, mas agora até já tenho medo, porque dizem ‘está lá o gajo…
mais dia ou menos dia o treinador vai sair’. É por isso que já cheguei ao ponto
de ter complexos”, desabafou aquele que esta época é o técnico mais velho da I
Distrital, com 63 anos, e o que tem mais jogos na competição.
“Dizem-me: ‘Se tu saíres O Grandolense acaba’”
Sem se querer comparar a Alex
Ferguson, que esteve 26 anos ininterruptos ao leme do Manchester United, o
técnico alentejano admite que não lhe cobram tanto como aos outros treinadores
que têm passado pelo emblema da Vila Morena. “Na última vez, estava saturado e
trouxe o Carlos Neves [2015/16], mas as coisas não estavam a correr bem e as
pessoas diziam-me para mandar o homem embora e para assumir eu. Quando sou eu,
ganho e perco e ninguém me diz nada”, confessou.
O Grandolense está apurado para a próxima fase da Taça AFS |
“Ficámos no terceiro lugar na
época seguinte, já ganhámos uma Taça AFS [2012/13] e já fomos à Taça de
Portugal [2013/14]”, acrescentou, assegurando que o acumular de funções tem
muito aceitação por parte dos atletas. “Os jogadores chamam-me mister e não presidente,
sentem-me um amigo deles e estou presente quando falta alguma coisa. O segredo
é o bom entendimento que nós temos. Já tive e tenho jogadores do Monte de
Caparica e do Barreiro aqui durante vários anos, é sinal que nunca falhávamos e
que as coisas correram sempre bem e gostaram de cá estar, porque é uma viagem
grande”, narrou, garantindo que o fim está próximo: “Dizem-me: ‘se tu saíres O
Grandolense acaba’. Mas não acaba. Não pode acabar. Há de chegar o dia em que
outra pessoa pegará nisto e eu estarei cá para observar.”
“Todos os anos digo que quero deixar
isto e descansar. Ando aqui por gosto e amor à camisola. Os meus filhos já
passaram por cá e já deixaram de jogar, vejo aqui miúdos que treinei nos
juniores e que agora têm 40 e tal anos, e eu ainda aqui ando”, desabafou, durante
uma manhã de sábado em que estava a dar apoio aos escalões de formação.
Melhores resultados com… menos treinos
António Gomes diz que os seniores
d’O Grandolense fazem “dois ou três treinos durante a semana”. “Se treinássemos
mais, as coisas poderiam ser diferentes”, crê o líder do clube, que ainda assim
viu a sua equipa melhorar os resultados na época passada quando… reduziu o
número de sessões. “Na parte final, começámos a fazer só um treino por semana e
tivemos seis vitórias consecutivas, depois tivemos uma derrota e mais uma
vitória. Em oitos jogos, tivemos sete vitórias e uma derrota, ninguém entende
isto. As pessoas não acreditavam”, contou, referindo-se à série entre a 24.ª e
30.ª jornada, que catapultou o conjunto alentejano do 9.º para o 5.º lugar.
João 'Karadas' Jesus foi o artilheiro da I Distrital em 2017/18 |
“Nunca seremos uns candidatos,
pela distância que temos. Os nossos juniores quando chegam a seniores vão
estudar para fora e não dá para virem todos os dias treinar. Estamos em
desvantagem relativamente às equipas mais a norte. Apostamos muito na formação,
mas depois não temos retorno quando eles chegam a seniores”, lamenta António
Gomes, que ainda assim deixa o aviso: “O objetivo é andar sempre nos lugares
cimeiros. O que digo aos nossos atletas é que não estamos à espera de tentar subir,
mas vamos jogo após jogo tentar melhorar a classificação de ano para ano. Não
andamos no campeonato só por andarmos, vamos tentar fazer o melhor possível.”
Os resultados inesperados e o plantel curto
Questionado sobre se O
Grandolense seria um outsider,
António Gomes diz que “talvez não”, justificando-se com a irregularidade da
equipa. “Fazemos resultados inesperados: tão depressa vamos ganhar ao primeiro
classificado como depois temos em casa empatamos com uma equipa mais fraca do
que nós. Perdemos muitos pontos nesses jogos que poderíamos fazer melhor. Não
encontro muita explicação para isso. O campo é muito grande e podem estar aqui
150 pessoas que parece que não está ninguém, e às vezes não jogamos tão bem em
casa como queremos. Houve um ano em que ganhámos os jogos quase todos fora, mas
em casa perdíamos e empatávamos”, explicou, revelando que esta época o plantel
foi reduzido.
“Temos um plantel muito curto por
causa do orçamento. Pagamos alguma coisa, mas não pagamos muito. Só temos 18
inscritos. Se tivermos 20 e tal, mesmo
que paguemos menos, o valor sobe, por isso preferimos ter qualidade do que
quantidade”, contou, garantindo que o plantel, que sofreu “muito poucas alterações”,
ainda não se encontra fechado. O melhor marcador da I Distrital na época
passada com 23 golos, João Jesus - também conhecido por Karadas -, é um dos
elementos que se mantém.
Maior ambição é a Taça de Portugal e… um grande em Grândola
Precisamente por não ter o
plantel fechado, António Gomes não esconde a felicidade pelo grupo em que está
inserido na Taça AFS, com Quinta do Conde, Alcacerense, Estrela de Santo André,
Monte de Caparica e Oriental Dragon. “Ainda bem que nos calhou uma série só com
uma equipa da I Distrital”, soltou, admitindo que a prova “tem muita
importância”.
“Começámos a pré-época tarde, a
27 de agosto, e passadas duas semanas já estávamos a competir. Estes jogos
servem muitas vezes para fazer uma pré-época a sério”, começou por explicar. “E
depois, se ganharmos ou formos à final da Taça, vamos representar o distrito na
Taça de Portugal. Já nos sucedeu isso e fomos até à 3.ª eliminatória. Ganha-se
algum dinheiro para o orçamento, uma verba interessante, e com um pouco de
sorte apanhamos algum dos grandes em casa, o que já tem acontecido a algumas
equipas dos distritais. Era ouro sobre azul. Vamos tentar ir o mais longe
possível, porque para mim é mais importante ganhar a taça do que ficar em
terceiro ou quarto lugar no campeonato. Já ganhámos uma vez e pode ser que este
ano as coisas voltem a correr pelo melhor”, rematou, bem-disposto e já apurado para a fase a eliminar da Taça AFS.
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