quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Neste dia em 1921, a seleção disputou o seu primeiro jogo, em Madrid, apesar da… guerra Lisboa-Porto

A primeira seleção portuguesa, a 18 de dezembro de 1921
Foi a 18 de dezembro de 1921 que, pela primeira vez, a seleção nacional portuguesa disputou um jogo. Foi uma esperada derrota às mãos da vizinha Espanha (1-3), em Madrid, depois de a escolha dos jogadores ter originado muita polémica.
 
Esse primeiro dérbi ibérico esteve para se realizar em 1912, mas houve falta de acordo, pois os espanhóis queriam que os portugueses suportassem todas as despesas da partida. Oito anos depois, e já com a Federação Portuguesa de Futebol, então denominada União Portuguesa de Futebol, fundada (a 31 de março de 1914), as negociações foram retomadas. Depois de alguns adiamentos, o tão esperado encontro foi disputou-se na capital espanhola.
 
Outro problema na antecâmara do jogo de estreia foi a escolha de jogadores. Augusto Sabbo, na altura treinador do Sporting, ficou responsável pela convocatória e decidiu chamar Francisco Pereira, do Belenenses, o que muito questionado pela imprensa. O atleta acabou por renunciar, originando uma onda de solidariedade entre os azuis que levou também às renúncias do irmão Artur José Pereira, considerado o melhor jogador português naquele tempo, e Alberto Rio.
 
Entretanto, Sabbo demitiu-se e os dirigentes da União Portuguesa de Futebol nomearam uma comissão formada por Carlos Vilar, Pedro Del Negro, Reis Gonçalves, Virgílio Paula, Plácido Duro e Júlio de Araújo, que pertenciam à Associação de Futebol de Lisboa. Quem não gostou dessa opção foram os clubes da Associação de Futebol do Porto, nomeadamente o FC Porto, até porque a nova convocatória só incluiu um jogador de emblemas nortenhos, Artur Augusto, que pertencia precisamente aos portistas. E, mesmo nesse caso, os dragões defendiam que o futebolista em causa tinha sido chamado por ter nascido em… Lisboa. À revelia dos dirigentes portuenses, que haviam decretado a ausência dos seus atletas, o avançado acabou por se juntar à seleção nacional, que no entender dos responsáveis da AF Porto se tratava de uma seleção de… Lisboa.
 
O primeiro onze da equipa das quinas
Foi então com uma equipa composta por quatro jogadores do Casa Pia, entre os quais o capitão Cândido de Oliveira (mas também António Pinho, António Augusto Lopes e José Maria Gralha), e trajada por motivos políticos com o equipamento preto do Casa Pia, que a seleção partiu para Madrid, onde, no campo pelado Martínez Campos, propriedade do Racing de Madrid (clube extinto em 1977), foi derrotada pela vizinha Espanha.
 
“Ainda conheci o António Pinho, que na altura foi considerado o melhor defesa direito da Europa, e um dia explicou-me que o problema foi resolvido pelo Ribeiro dos Reis e o Cândido de Oliveira. O preto e branco eram as cores da cidade de Lisboa e só havia um jogador do FC Porto, que era o Alberto Augusto. Havia jogadores que não queriam jogar com as cores da República, o verde e o encarnado. A implantação da República Portuguesa tinha sido há 11 anos e provavelmente havia elementos na equipa que eram monárquicos. Foi quase um ato político, acrescido do facto de haver seis casapianos na seleção, embora dois estivessem no Benfica”, explicou à Rádio Renascença, em 2021, o vogal da atual direção do Casa Pia, Hélder Tavares.
 
A seleção portuguesa, que se queixava de um terreno de jogo muito estreito, já perdia por 2-0 a meio da primeira parte, com golos de Manuel Meana (20 minutos) e Paulino Alcántara (23’), com o segundo a bisar no início do segundo tempo (50’). Depois veio o momento de glória da equipa das quinas, construído por dois irmãos: o portista Artur Augusto – o tal que se juntou à revelia dos dirigentes portuenses – sofreu o penálti e o benfiquista Alberto Augusto bateu o mítico Ricardo Zamora, que ainda hoje dá nome ao troféu de melhor guarda-redes da Liga espanhola, para marcar aquele que foi o primeiro golo de sempre da seleção nacional.
 
Há órgãos de comunicação social que dizem que dessa equipa fazia parte o jogador mais novo de sempre a atuar com as quinas ao peito, José Gralha, mas o futebolista casapiano tinha 22 anos e não 16, como erradamente indicam, aquando da realização do jogo. O mais jovem dessa primeira seleção nacional era precisamente Artur Augusto (17 anos, nove meses e três dias), que deteve o recorde de precocidade até 27 de agosto de 1983, quando foi batido por Paulo Futre (17 anos, seis meses e 21 dias).
 
 
Mas as curiosidades não ficam por aqui. Dois meses antes, outro dos jogadores dessa equipa, o defesa sportinguista Jorge Vieira, tornou-se o primeiro árbitro português a apitar um jogo internacional, um Espanha-Bélgica (2-0), em Bilbau. Outro defesa leonino, João Francisco, viria a ser, quatro anos depois, o marcador do golo da primeira vitória de Portugal, em 1925, frente à Itália (1-0) no Estádio do Lumiar.
 
Dessa equipa também faziam parte o guarda-redes Carlos Guimarães (CIF), por inerência o primeiro a defender as redes nacionais; o avançado benfiquista Ribeiro dos Reis, um casapiano que mais de duas décadas depois foi um dos fundadores do jornal A Bola, juntamente com Cândido de Oliveira; e o médio benfiquista Vítor Gonçalves, também casapiano e pai de Vasco Gonçalves, um dos militares de Abril, que se tornou primeiro-ministro dos II, III, IV e V governos provisórios, no período do PREC.
  


  




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