quinta-feira, 20 de maio de 2021

Alexandre Pardal. Um sanjoanense no clube mais português de França

Alexandre Pardal está desde 2018 no futebol francês
Desde 2018 no Créteil-Lusitanos, para onde foi levado pelo antigo internacional português Carlos Secretário em 2018, Alexandre Pardal vai fazendo carreira no clube mais luso de França.
 
Em entrevista, o lateral/extremo fala da vida de emigrante, recorda o longo percurso na Sanjoanense, o tempo em que foi treinado por Pepa nos seniores do clube de São João da Madeira e as experiências no “muito familiar” Carregosense e no desorganizado Cesarense.
 
 RUI COELHO - O Alexandre Pardal é natural de São João da Madeira, mas desde 2018 que joga nos franceses do Créteil-Lusitanos. Como tem estado a correr esta aventura, sobretudo esta época atípica?
ALEXANDRE PARDAL - No geral, a aventura tem corrido bastante bem. Estou perfeitamente adaptado ao país e ao futebol francês. Esta época tem sido um pouco mais complicada devido ao covid-19, às trocas de treinador e aos resultados menos bons que não ajudam nestes momentos.
 
Como o próprio nome indica, o Créteil-Lusitanos é um emblema com fortes ligações à comunidade portuguesa em França. Como é o clube e qual a sua relação com a comunidade portuguesa? Qual é o sentimento de jogar por um clube francês que, de certa forma, representa Portugal?
Honestamente, é como representar um clube português, porque dentro do clube todos falam em português, seja o presidente, diretor desportivo e funcionários.
 
Como têm corrido estes três anos em França a nível pessoal? O que o levou a emigrar?
Globalmente, os três anos foram bastante positivos. Recebi um convite do mister Carlos Secretário para vir para cá e senti que, além da questão financeira que é importante, também seria uma oportunidade de experimentar algo novo e conhecer outra realidade.
 
Tem alguma ocupação além do futebol?
Não, a minha única ocupação é o futebol.
 
Como tem sido a adaptação a um clima, um idioma e uma cultura diferentes e quais são as principais dificuldades na vida de um emigrante?
A adaptação foi bastante fácil. A maior dificuldade é a barreira linguística, mas nisso o clube ajudou-me, pois tenho aulas de francês. Penso que a principal dificuldade, além da língua, seja mesmo o estilo de vida menos social que existe aqui, principalmente à noite. É muito trabalho-casa-trabalho…
 

O ovo rebentado na cabeça de Carlos Secretário

Alexandre Pardal pode jogar como lateral ou extremo
Como foi trabalhar com o treinador Carlos Secretário, um técnico português que foi um jogador de eleição no seu tempo? Tem alguma história engraçada com ele que nos possa contar?
Foi muito bom. Conheci o mister Secretário no Cesarense, onde foi meu treinador. É um excelente treinador, mas sobretudo é uma excelente pessoa. Lembro-me de uma [história] no Cesarense, no seu dia de aniversário. Nós (jogadores) combinámos dar-lhe os parabéns, mas um jogador lembrou-se de lhe rebentar um ovo na cabeça e ele ficou maluco com isso [risos].
 
O que o futebol francês tem de diferente em relação ao português?
Tem algumas coisas, sendo a principal delas a questão física, pois é um futebol mais físico e de transições. Não se valoriza tanto a parte técnica, aqui os jogadores na sua grande maioria são uns autênticos atletas.
 
Voltemos atrás no tempo. O Alexandre nasceu em São João da Madeira. Como é que foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Comecei a jogar futebol aos sete anos na Sanjoanense. Um antigo treinador da Sanjoanense chamado Zequinha viu-me a jogar na rua e, como conhecia o meu pai, disse-lhe para eu ir fazer uns treinos lá e foi assim que comecei.
 
Foi na Sanjoanense que fez toda a sua formação. Quais são as melhores memórias que guarda desses tempos?
Mais do que os títulos que vencemos na formação, era a alegria com que jogávamos, seja em pelados seja em sintéticos, o nosso principal divertimento era jogar futebol. E as amizades que fiz claro.
 
De que forma a Sanjoanense foi importante para a sua vida pessoal e para a sua formação enquanto atleta?
Foi muito importante, não só na formação como atleta, mas como homem também. Tive diversos treinadores que nos faziam ver que para jogar não bastava o mérito desportivo, tínhamos que também ter rendimento escolar e não deixavam que descuidássemos essa parte.
 
Em 2011 cumpriu um sonho de menino ao jogar pela equipa principal da Sanjoanense. Qual foi a sensação?
Foi excelente, apesar de ter sido uma época pouco feliz a nível desportivo devido a uma lesão e pelo facto de termos descido de divisão também.
 

O Carregosense “muito familiar”

Alexandre Pardal nos tempos da Sanjoanense
Não teve o tempo de jogo esperado na sua primeira época enquanto sénior e surgiu depois a hipótese de jogar no Carregosense. Como correu essa experiência?
Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Sabes quando se diz que devemos dar um passo atrás para dar dois em frente? Foi o que eu fiz. Estava sem clube, pensei mesmo em deixar de jogar, mas recebi o convite do mister Luís Miguel e aceitei.
Foi uma época incrível, conheci pessoas excecionais e um clube muito familiar, onde além do futebol tínhamos um grupo muito unido, tínhamos jantares de equipa todas as semanas e foi tudo isso que permitiu fazermos uma grande época.
 

“Pepa era inovador na maneira de trabalhar e de comunicar”

No verão de 2013 regressou à Sanjoanense, para ser orientado por Pepa. O que achou dos seus métodos de trabalho e como tem assistido à sua progressão na carreira?
Sim, voltei, pois era o clube do meu coração. Na altura foi algo muito inovador, não só a maneira dele trabalhar, mas também a forma como comunicava com os jogadores. A sua progressão tem sido natural e não tenho dúvidas que vai chegar a patamares ainda mais altos.
 
Nessa temporada de 2013-14 contribuiu para a conquista do título distrital da AF Aveiro e para a consequente subida ao Campeonato de Portugal. Foi um regresso em grande…
Sim, essa época foi incrível, conseguimos atingir os objetivos propostos pelo clube, que era recolocar a Sanjoanense onde merece estar, que é nos campeonatos nacionais.
 

“Podíamos ter disputado subida à II Liga se organização do Cesarense fosse outra”

Alexandre Pardal compete no terceiro escalão gaulês
Em 2017-18 mudou-se para o Cesarense. O que achou do clube e como correu a temporada que passou em Cesar?
Em relação ao clube como organização, prefiro não falar. Posso dizer que nesse ano apanhei um excelente grupo, tínhamos uma excelente equipa e podíamos ter disputado a subida à II Liga se a organização fosse outra. No geral a temporada foi boa, mas sentimos que podíamos ter conseguido mais, pois tínhamos uma excelente equipa, excelente mesmo.
 
Tem acompanhado a Sanjoanense? O que tem achado das últimas épocas do clube?
Claro, acompanho sempre. Tem feito épocas boas, cumprindo sempre com os objetivos propostos, estabilizando-se no Campeonato de Portugal. Neste momento está na fase de apuramento para a Liga 3 e esperemos que conseguia, seria importante para o clube.
 
Aos 28 anos, tem algum sonho no futebol que gostasse de cumprir ou algum clube que gostasse de representar?
Sonho, sonho, penso que não. Mas gostaria de experimentar outros países e conhecer outras realidades e gostaria de um dia voltar a Portugal e ter a oportunidade de defrontar um dos três grandes.
 
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogar com os quais tenha jogado.
Guarda-redes: Pedro Justo;
Lateral direito: eu [risos];
Centrais: Edgar e Júnior Pius;
Lateral esquerdo: Ricardo Tavares;
Médios: Rúben Neves e Fábio Pereira;
Extremo direito: Alex Oliveira;
Extremo esquerdo: Ângelo Oliveira;
Avançados: Mário e Ronan David.
 
E quem foram os treinadores que mais o marcaram e porquê?
Tive vários e por diferentes motivos. O mister Luís Miguel, pois foi quem me deu uma oportunidade quando estava sem clube e que me adaptou a defesa direito, adaptação essa que mudou a minha carreira. Depois tenho o Pepa pelos métodos inovadores, métodos esses que um dia quero usar se seguir a carreira de treinador. E ainda o mister Flávio das Neves, que foi o que melhor explorou as minhas qualidades, e por último o mister Carlos Secretário que me deu esta oportunidade de vir para França.
 
Entrevista realizada por Rui Coelho










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