quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

A minha primeira memória de… um jogo entre Benfica e Estoril

Benfiquista Simão Sabrosa e estorilista Karim Fellahi em disputa de bola
A I Liga de 2004-05 foi, talvez, a mais louca de sempre. O Benfica foi campeão, mas com uma média de 1,91 pontos por jogo, um total de sete derrotas ao longo do campeonato e apenas 19 vitórias em 34 jornadas. A equipa benfiquista, então orientada por Giovanni Trapattoni, acabou por ser a menos má e não a melhor. Já o Estoril, que vinha de duas promoções consecutivas, veio a descer de divisão, mas não era por isso que deixava de ser uma equipa incómoda, sobretudo num campeonato em que tudo podia acontecer.  
 
À entrada para o primeiro jogo entre ambos os conjuntos nessa época, a 6 de dezembro de 2004, na 13.ª jornada, o Benfica era quinto classificado, com os mesmos pontos do Sp. Braga (que era 6.º), mas com menos um jogo do que todos os quatro primeiros: FC Porto (mais três pontos), Boavista (mais dois), Sporting (mais dois) e Vitória de Setúbal (mais um). O Estoril estava na segunda metade da tabela, mas ainda acima da zona de despromoção.
 

Num mau jogo de futebol, os estorilistas, comandados por Litos, entraram praticamente a ganhar, com um golo logo aos quatro minutos da autoria de João Paulo, servido de bandeja pelo franco-argelino Karim Fellahi.
 
No entanto, as águias deram a volta ao resultado através de um bis daquele que foi, sem dúvida alguma, o seu melhor jogador da primeira década do século XXI, Simão Sabrosa, que empatou a partida aos 33’ através de um remate de pé esquerdo, na meia-lua, que colocou a bola fora do alcance para o guarda-redes Jorge Baptista.
 
À beira do intervalo, o então capitão encarnado fez o 2-1 na conversão de uma grande penalidade supostamente cometida por Dorival sobre Karadas. No entanto, nem tudo foram boas notícias para a formação da Luz durante a primeira parte, uma vez que Luisão teve de ser substituído ainda antes do minuto 20 e Manuel Fernandes foi expulso aos 36’.
 
“O Benfica voltou de novo ao topo da classificação da I Liga, igualando o FC Porto à custa de uma vitória pela margem mínima sobre o Estoril. Sobrou-lhe a vitória num jogo pobríssimo, às vezes ridículo. Estava em causa, para o Benfica, mais um teste à capacidade de resistir à pressão de ter de aproveitar uma nova oportunidade para chegar ao primeiro lugar, mas o jogo cedo se transformou numa cadeia de acontecimentos que obrigam a refletir na qualidade deste campeonato. Houve um candidato ao título mau, mas mau mesmo, que foi obrigado a jogar mais de 50 minutos reduzido a dez porque o homem que segura a equipa - Manuel Fernandes - se deixou expulsar de forma infantil. Também houve um candidato a permanecer na I Liga mau, que entrou para ‘anti jogar’, para fazer fitas, e depois não foi capaz de aproveitar a vantagem numérica que o adversário lhe concedeu para ao menos conquistar um ponto. E houve ainda um árbitro desajustadíssimo das exigências de um jogo que ele próprio também ajudou a tornar difícil de dirigir. Reuniram-se na Luz todos os fatores que permitiram concluir que esta I Liga é engraçada, disfarça-se de competitiva, mas às vezes não é para ser levada a sério. E o público teve muita razão quando assobiou a má qualidade do Benfica, o antijogo do Estoril e a mediocridade do árbitro”, podia ler-se na crónica do Record.
 
  
 
Se no primeiro encontro entre as duas equipas houve uma expulsão por cartão vermelho direto e foi assinalado um penálti que levanta algumas dúvidas, o jogo da segunda volta foi totalmente envolto em polémica.
 
A primeira controvérsia em relação à partida foi precisamente o local escolhido pelos estorilistas para receber o Benfica. A cinco jornadas do fim, os canarinhos estavam na zona de despromoção, a quatro pontos do Gil Vicente, a primeira equipa acima da chamada linha de água. Apesar do desespero para pontuar, o Estoril, então presidido pelo antigo treinador benfiquista Manuel Damásio, decidiu ir jogar para o Estádio Algarve, privilegiando a receita de bilheteira à teórica vantagem de jogar no António Coimbra da Mota.
 
Se a polémica já estava instalada, mais ainda ficou já no decorrer do jogo. O treinador adjunto dos estorilistas, a velha glória leonina Carlos Xavier, acusou o árbitro Hélio Santos de ter pedido umas botas ao Benfica. O defesa canarinho Rui Duarte, que foi expulso por acumulação de amarelos logo aos 25 minutos, foi acusado de ter provocado a expulsão por já ter acordo para jogar no Benfica na época seguinte. José Veiga, na altura administrador da SAD do Benfica, tinha uma enorme proximidade ao clube da Linha de Cascais e aos seus jogadores e dirigentes. E ainda houve três lances duvidosos que foram ajuizados sempre a favor dos encarnados: penálti não assinalado de Ricardo Rocha sobre Moses, expulsão de João Paulo por palavras e a existência ou não de falta que antecedeu o livro que deu o golo da vitória aos benfiquistas.
 
Ainda assim, o Benfica não teve propriamente um passeio tranquilo no Algarve, região que entre 2002 e 2009 não esteve representada na I Liga. Aos 12 minutos, o Estoril abriu o ativo por intermédio de Paulo Sousa, através de um remate de fora da área. Embora em vantagem a jogar contra menos, as águias só chegaram ao empate aos 76’, pela cabeça de Luisão. E só marcaram o golo da vitória aos 82’, pelo calcanhar de Mantorras, quando os canarinhos já estavam reduzidos a dez jogadores.
 
“O cheiro do título voltou em força para o Benfica. Depois de terem amealhado apenas um ponto nos dois últimos jogos, os encarnados voltaram às vitórias, frente ao Estoril, por 1-2. Uma partida muito difícil para a equipa de Trapattoni. Tão complicada e intensa que os jogadores não conseguiram controlar os nervos. Ao ponto de no final jogo, já nos bastidores, Ricardo Rocha e alguns elementos do Estoril terem protagonizado uma troca de mimos. Situação que levou os dirigentes e jogadores do Benfica a evitar a ida à sala de imprensa”, resumiu o Diário de Notícias.
 














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