Benfiquista Simão Sabrosa e estorilista Karim Fellahi em disputa de bola |
A I
Liga de 2004-05 foi, talvez, a mais louca de sempre. O Benfica
foi campeão, mas com uma média de 1,91 pontos por jogo, um total de sete derrotas
ao longo do campeonato
e apenas 19 vitórias em 34 jornadas. A equipa benfiquista,
então orientada por Giovanni Trapattoni, acabou por ser a menos má e não a
melhor. Já o Estoril,
que vinha de duas promoções consecutivas, veio a descer de divisão, mas não era
por isso que deixava de ser uma equipa incómoda, sobretudo num campeonato
em que tudo podia acontecer.
À entrada para o primeiro jogo
entre ambos os conjuntos nessa época, a 6 de dezembro de 2004, na 13.ª jornada,
o Benfica
era quinto classificado, com os mesmos pontos do Sp.
Braga (que era 6.º), mas com menos um jogo do que todos os quatro
primeiros: FC
Porto (mais três pontos), Boavista
(mais dois), Sporting
(mais dois) e Vitória
de Setúbal (mais um). O Estoril
estava na segunda metade da tabela, mas ainda acima da zona de despromoção.
Num mau jogo de futebol, os estorilistas,
comandados por Litos, entraram praticamente a ganhar, com um golo logo aos
quatro minutos da autoria de João Paulo, servido de bandeja pelo
franco-argelino Karim Fellahi.
No entanto, as águias
deram a volta ao resultado através de um bis daquele que foi, sem dúvida
alguma, o seu melhor jogador da primeira década do século XXI, Simão Sabrosa, que
empatou a partida aos 33’ através de um remate de pé esquerdo, na meia-lua, que
colocou a bola fora do alcance para o guarda-redes Jorge Baptista.
À beira do intervalo, o então
capitão encarnado
fez o 2-1 na conversão de uma grande penalidade supostamente cometida por
Dorival sobre Karadas. No entanto, nem tudo foram boas notícias para a formação
da Luz durante a primeira parte, uma vez que Luisão teve de ser substituído
ainda antes do minuto 20 e Manuel Fernandes foi expulso aos 36’.
“O Benfica
voltou de novo ao topo da classificação da I
Liga, igualando o FC
Porto à custa de uma vitória pela margem mínima sobre o Estoril.
Sobrou-lhe a vitória num jogo pobríssimo, às vezes ridículo. Estava em causa,
para o Benfica,
mais um teste à capacidade de resistir à pressão de ter de aproveitar uma nova
oportunidade para chegar ao primeiro lugar, mas o jogo cedo se transformou numa
cadeia de acontecimentos que obrigam a refletir na qualidade deste campeonato.
Houve um candidato ao título mau, mas mau mesmo, que foi obrigado a jogar mais
de 50 minutos reduzido a dez porque o homem que segura a equipa - Manuel
Fernandes - se deixou expulsar de forma infantil. Também houve um candidato a
permanecer na I
Liga mau, que entrou para ‘anti jogar’, para fazer fitas, e depois não foi
capaz de aproveitar a vantagem numérica que o adversário lhe concedeu para ao
menos conquistar um ponto. E houve ainda um árbitro desajustadíssimo das
exigências de um jogo que ele próprio também ajudou a tornar difícil de
dirigir. Reuniram-se na Luz todos os fatores que permitiram concluir que esta I
Liga é engraçada, disfarça-se de competitiva, mas às vezes não é para ser
levada a sério. E o público teve muita razão quando assobiou a má qualidade do Benfica,
o antijogo do Estoril
e a mediocridade do árbitro”, podia ler-se na crónica do Record.
Se no primeiro encontro entre as
duas equipas houve uma expulsão por cartão vermelho direto e foi assinalado um
penálti que levanta algumas dúvidas, o jogo da segunda volta foi totalmente
envolto em polémica.
A primeira controvérsia em relação
à partida foi precisamente o local escolhido pelos estorilistas
para receber o Benfica.
A cinco jornadas do fim, os canarinhos
estavam na zona de despromoção, a quatro pontos do Gil
Vicente, a primeira equipa acima da chamada linha de água. Apesar do
desespero para pontuar, o Estoril,
então presidido pelo antigo treinador benfiquista
Manuel Damásio, decidiu ir jogar para o Estádio Algarve, privilegiando a
receita de bilheteira à teórica vantagem de jogar no António Coimbra da Mota.
Se a polémica já estava instalada,
mais ainda ficou já no decorrer do jogo. O treinador adjunto dos estorilistas,
a velha glória leonina
Carlos Xavier, acusou o árbitro Hélio Santos de ter pedido umas botas ao Benfica.
O defesa canarinho
Rui Duarte, que foi expulso por acumulação de amarelos logo aos 25 minutos, foi
acusado de ter provocado a expulsão por já ter acordo para jogar no Benfica
na época seguinte. José Veiga, na altura administrador da SAD do Benfica,
tinha uma enorme proximidade ao clube
da Linha de Cascais e aos seus jogadores e dirigentes. E ainda houve três
lances duvidosos que foram ajuizados sempre a favor dos encarnados:
penálti não assinalado de Ricardo Rocha sobre Moses, expulsão de João Paulo por
palavras e a existência ou não de falta que antecedeu o livro que deu o golo da
vitória aos benfiquistas.
Ainda assim, o Benfica
não teve propriamente um passeio tranquilo no Algarve,
região que entre 2002 e 2009 não esteve representada na I
Liga. Aos 12 minutos, o Estoril
abriu o ativo por intermédio de Paulo Sousa, através de um remate de fora da
área. Embora em vantagem a jogar contra menos, as águias
só chegaram ao empate aos 76’, pela cabeça de Luisão. E só marcaram o golo da
vitória aos 82’, pelo calcanhar de Mantorras, quando os canarinhos
já estavam reduzidos a dez jogadores.
“O cheiro do título voltou em
força para o Benfica.
Depois de terem amealhado apenas um ponto nos dois últimos jogos, os encarnados
voltaram às vitórias, frente ao Estoril,
por 1-2. Uma partida muito difícil para a equipa de Trapattoni. Tão complicada
e intensa que os jogadores não conseguiram controlar os nervos. Ao ponto de no
final jogo, já nos bastidores, Ricardo Rocha e alguns elementos do Estoril
terem protagonizado uma troca de mimos. Situação que levou os dirigentes e
jogadores do Benfica
a evitar a ida à sala de imprensa”, resumiu o Diário de Notícias.
e o benfica vs estoril no algarve ???
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