Eddie Cardoso assumiu esta época o comando técnico do Louletano |
EDDIE CARDOSO - Já estive a trabalhar neste patamar e no patamar superior em anos anteriores como adjunto, mas é óbvio que como treinador principal é a minha primeira experiência a este nível. A experiência está a ser positiva. Conseguimos manter a maior parte dos jogadores que transitaram da época transata e deste modo certas situações ficam facilitadas até um certo ponto. As condições de trabalho são muito boas, as pessoas estão comprometidas, há uma ambição enorme de conquistar coisas boas e isso torna ainda melhor esta experiência.
Bem, antes do surto nós já estávamos com três semanas de trabalho, a caminho da quarta, o que teve um impacto naquilo o que era o nosso planeamento para a pré-época. Tivemos que manter os jogadores ativos durante a quarentena com treinos online, o que mexeu de certa forma com a parte psicológica dos jogadores e do staff.
Quando voltámos, tivemos de começar todo o processo do zero. Ainda apanhámos duas semanas da pré-época e fazer a alteração das duas primeiras jornadas para nos prepararmos melhor.
Não, a meta é fazer melhor do que o ano passado, trabalhando no máximo e sempre de olho numa eventual oportunidade de chegar aos lugares de cima. Sabemos que é uma série bastante competitiva, mas temos confiança no nosso trabalho e ambição de fazer algo de especial.
A opinião que tenho e já referi na pergunta anterior é que está série é bastante competitiva onde todos podem ganhar a todos, o que vai ao encontro dessa bipolaridade a que se refere. Mas ainda é muito cedo para tirar conclusões, está tudo muito perto e nada ainda está definido.
“3x4x3 de Zé Nando? Achamos que a equipa fica mais equilibrada em 4x2x3x1”
O onze do Louletano na visita ao Olhanense |
Na época anterior o Louletano
atuava num sistema de 3x4x3, com os centrais a aparecerem à entrada do
meio-campo a sair a jogar, laterais a fazer todo o corredor e dois homens a
alimentarem de perto o ponta de lança. Nesta temporada o Eddie Cardoso rendeu o
Zé Nando e tem optado por um 4x2x3x1. O que pretendeu com esta mudança? O que o
deixa mais confortável com este novo sistema e com as dinâmicas possíveis de
estabelecer através dele?
Nós temos dois sistemas táticos
trabalhados e optamos por qualquer um deles sempre que acharmos conveniente e acharmos
que poderemos ter vantagem sobre o adversário a cada jogo. O 4x2x3x1 achamos
que se adapta melhor as características dos nossos jogadores. Achamos que deve funcionar
assim, pois temos de olhar para as características do plantel para tirar o
melhor rendimento e não escolher um sistema tático que não se adeque aos
jogadores que temos. Neste sistema achamos que a equipa fica mais equilibrada
em todos os momentos do jogo.Os princípios de jogo que podem esperar é uma equipa com intensidade, pressionante em todos os momentos, com posse e boa circulação de bola e a querer jogar no meio-campo ofensivo e com um futebol positivo e ofensivo.
Esta parceria é de uma importância extrema para os jovens que saem da AFA para dar continuação à sua formação e desenvolvimento como jogadores de futebol. Na Europa tudo muda e há uma maior exigência no trabalho devido a estarem fora da zona de conforto. O que posso dizer é que de forma geral todos se têm desenvolvido imenso e todos têm potencial para chegar à primeira equipa, mas cada um a seu tempo. Têm de trabalhar no duro para conquistar o seu espaço.
Neste momento temos o Avelino, o Cândido, Yuri e Mucuia na equipa A, sendo este o último o único até agora com minutos, mas os outros se continuarem a trabalhar vão de certeza ter a sua oportunidade, e sabemos que na equipa B existem também jogadores com grande potencial, mas não podemos ter todos na equipa A por haver um número limitado de estrangeiros.
Nós chegamos aqui e não tínhamos a noção de nada. E como era o início do projeto tivemos muitas dificuldades por não conhecermos as equipas que poderíamos enfrentar, tivemos também de construir uma equipa e um plantel do zero, mas, com a ajuda de pessoas experientes a este nível, as situações foram-se tornando mais acessíveis e conseguimos desenvolver um bom trabalho. O sucesso da equipa, com os bons resultados, veio mesmo dessa adaptação rápida e muito trabalho. Numa equipa B sabemos que a nossa responsabilidade é de preparar os jogadores para a equipa A e desenvolver todas as capacidades deles. Foi com esse pensamento que conduzimos todo o processo. Os objetivos são diferentes da equipa A, mas, não descurando a parte do desenvolvimento do jogador, o mais importante é o rendimento e a pressão de ganhar todas as semanas, é nesse sentido que trabalhamos.
Trabalhei na Academia de Futebol de Angola de 2013 a 2017, sou muito grato pelos quatro anos que passei por àquela instituição e deixei muitos amigos e passei momentos muito especiais. Cheguei ao Louletano por intermédio das pessoas que conduzem todo o processo na AFA. Na altura tinha saído do Estoril, houve uma separação da equipa técnica da qual eu fazia parte e decidi aceitar o convite para integrar o projeto no Louletano.
“Guardo na memória o fantástico ambiente do Municipal de Benguela”
Eddie Cardoso nos tempos em que trabalhava na AFA |
Voltando atrás no seu trajeto como treinador, começou como adjunto do
também angolano
José Barros na Camacha e no Marítimo B, tendo depois ingressado no 1º Maio
Benguela para assumir o comando técnico da equipa principal. Que memórias
guarda destas primeiras aventuras da carreira?
Foram momentos muito importantes
na minha carreira, nos quais tive oportunidade de trabalhar com profissionais
com grande competência e que hoje em dia fazem parte de equipas técnicas de
grandes clubes europeus. A Camacha foi o meu primeiro clube, onde pude
trabalhar como adjunto e treinador da equipa de sub-19, numa altura em que
tinha uma necessidade extrema de aprender e evoluir, pois tinha acabado a
universidade, e agradeço ao José Barros pela oportunidade que me deu de
trabalhar com ele, que é um treinador muito competente e com o qual ainda me
identifico na forma de trabalhar. No Marítimo B também estive como adjunto com
o mesmo treinador e foi mais um passo importante na minha carreira, tendo feito
a estreia numa nova realidade, pois foi na altura em que as equipas B foram
introduzidas na II
Liga. Foi uma experiência que me possibilitou um crescimento enorme.Em relação ao 1º de Maio, só tenho boas recordações. Na altura cheguei a Angola e uma semana depois já estava a trabalhar. Era uma nova realidade por não conhecer a cultura do jogador angolano e o contexto africano. Mas como tudo na minha vida, sou uma pessoa de fácil adaptação. Guardo na memória o fantástico ambiente nos estádios, principalmente no Municipal de Benguela, que estava a rebentar em todos os jogos. Não nos faltava nada, tínhamos um campo bom para treinar e material disponível, graças ao presidente Octávio e ao vice Wilson que trabalharam para que não faltasse nada no dia a dia. Graças ao 1º Maio tive a oportunidade de conhecer algumas províncias de Angola, onde a paixão pelo futebol é incrível e o ambiente de arrepiar. Guardo isso com grande carinho.
O projeto AFA é um projeto de grande prestígio tanto a nível nacional como fora de Angola. Para além da componente desportiva, destaco a social, pois centenas de crianças têm beneficiado deste projeto que lhes dá a oportunidade de completar os estudos, de aprender a trabalhar em grupo e respeitar o próximo, lutar pelos sonhos e de se tornarem homens de bem e úteis à sociedade.
O futebol de formação teve um desenvolvimento enorme quando a AFA começou a trabalhar, obrigando de forma indireta os outros clubes a trabalhar, e isso foi um passo positivo para a formação. Quem beneficiou foram as seleções, com a participação em torneios importantes e a conquista de troféus a nível continental. Agora é importante uma melhor organização dos campeonatos e maiores infraestruturas para acelerar o processo. Mas se dermos continuidade e houver esta competição saudável entre clubes, a formação só tem a ganhar e mais talentos vão aparecer.
Há oportunidades na nossa vida que não podemos deixar passar e foi isso que aconteceu, achava que naquele período o meu trabalho em Angola estava a chegar ao fim e precisava de um outro estímulo.
Essa oportunidade de trabalhar com o Bruno Baltazar foi fantástica, o que culminou com a conquista do campeonato cipriota com o APOEL e a participação nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões e da Liga Europa, uma experiência que já mais esquecerei e não vai ser fácil de repetir. Mais uma vez tive a oportunidade de trabalhar com profissionais de topo e esta equipa técnica foi especial.
“Tenho a ambição de um dia chegar a selecionador de Angola”
Eddie Cardoso festejou a conquista do título cipriota em 2018 |
Onde nasceu e cresceu? Como foi a sua infância?
Nasci em Angola,
o meu pai é do Golungo Alto e a minha mãe de Benguela, mas cresci em Portugal.
A minha infância foi tranquila: cresci com a minha avó porque a minha mãe
trabalhava na altura em Moçambique, comecei a jogar muito cedo e só pensava na
bola e até a punha em muito momentos à frente dos estudos.Sim, tenho a ambição de um dia chegar a ser selecionador, seria o expoente máximo da minha carreira e uma forma de homenagear a minha família, vamos ver se consigo, só o tempo dirá.
A ambição é sempre de treinar as melhores equipas que nos dá a possibilidade de ganhar títulos tanto a nível nacional e internacional, mas não tenho um clube que gostaria de treinar em particular, há vários clubes de grande dimensão em Angola.
Na minha opinião o nível baixou com a chegada da crise e com a saída de jogadores com qualidade, tanto angolanos como estrangeiros. Mas ainda conseguimos assistir a equipas que tentam impor um futebol positivo e de qualidade. O que mais me fascina no futebol angolano é a capacidade de improviso dos jogadores e a paixão dos adeptos que dão um colorido especial aos jogos. Um aspeto a melhorar é equilibrar o campeonato para ajudar no desenvolvimento e competitividade do Girabola e dos jogadores. Um grande desequilíbrio entre as equipas não ajuda ninguém, principalmente as equipas de topo.
Os atletas angolanos que mais admiro são Mateus Galiano, pelos anos que jogou na Europa ao serviço de vários clubes por a sua qualidade ser reconhecida, e o Bastos pelo nível que atingiu e pelas portas que abriu aos jogadores angolanos na Europa.
Em todos os momentos uso a máscara, principalmente num aglomerado de pessoas, de modo a respeitar todos.
Sou da opinião de que futebol sem público não faz sentido e discordo de que o adepto do futebol tem um comportamento diferente. No entanto, é importante a educação das pessoas para esta nova realidade. Espero que tudo volte ao normal o mais rápido possível.
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