Depois de um promissor empate e
desempenho frente a Tunísia na primeira jornada, acabou por saber a pouco a
eliminação logo na fase de grupos, sobretudo tendo em conta que a Mauritânia
tem muito menos recursos e que o Mali estava já apurado e poupou alguns
jogadores como Marega e Diaby no encontro com os Palancas Negras, que só necessitavam do empate para seguir em
frente.
A seleção comandada pelo sérvio Srdjan
Vasiljevic apresentou-se renovada, mas não propriamente rejuvenescida, com
algumas caras novas, mas que em grande parte eram novas mais pela via da
naturalização do que propriamente por um caminho mais estrutural, de produtos made in Angola. Bruno Gaspar, Buatu, o
regressado Stélvio e Wilson Eduardo são exemplos de jogadores que não cresceram
nem jogaram no país que representam.
Ainda assim, nem sempre é fácil
cativar esses jogadores, que acabaram por acrescentar algum valor a uma seleção
que, apesar do insucesso no Egito, mostrou ser organizada e difícil de bater,
ainda que pouco acutilante no ataque e ineficaz. Sobretudo no aspeto defensivo
é quase sempre uma mais-valia ter um selecionador europeu em detrimento de um
africano e neste caso verificou-se essa teoria. Vasiljevic montou uma equipa a
defender num coeso bloco médio/baixo, com uma linha defensiva sólida e uma
linha média bem definida.
Falta de soluções ofensivas
Ofensivamente é que faltaram
soluções. Angola procurou quase sempre o ataque à profundidade e o despejo de
bolas na frente, mesmo tendo elementos do meio-campo para a frente elementos
como o talentoso Herenilson (1º de Agosto), os ‘europeus’ Djalma (Alanyaspor) e
Fredy (Antalyaspor), Mateus (Boavista), Gelson Dala (Sporting) e Wilson Eduardo
(Sp. Braga) e um Geraldo (Al-Ahly) que atua num dos melhores clubes de África.
Apenas diante da Mauritânia se
assistiu a uma tentativa de jogar mais apoiado, mas faltou mais volume
ofensivo, eficácia na zona de tiro e talvez outro tipo de avançado, um ponta de
lança mais robusto e finalizador. Mateus no primeiro jogo e Gelson Dala nos
restantes foram os escolhidos para o eixo do ataque. Curiosamente, Wilson
Eduardo, que é de todos o mais goleador e rotinado à posição de ponta de lança
– ainda que no Sp. Braga jogue ao lado de Dyego Sousa ou Paulinho -, atuou nas
alas ou nas costas do homem mais adiantado, mas nunca como principal referência
do ataque.
Gelson Dala foi uma das principais desilusões de Angola |
É urgente que Angola produza e
exporte mais talentos para a Europa. Nesta seleção, eram apenas dez os que atuavam
no velho continente. Os que atuavam no Girabola estavam em maioria (12) e essa
é uma tendência que terá de ser invertida se os Palancas Negras quiserem sonhar
com voos mais altos no CAN ou com o regresso ao Campeonato do Mundo.
Defesa intocável, ataque em rotação
Já aqui foi dito que Srdjan
Vasiljevic privilegiou a consistência defensiva. Talvez por isso o
guarda-redes, o quarteto defensivo e um dos médios mais recuados (Herenilson)
cumpriram os 270 minutos possíveis. Neste núcleo duro, estavam três jogadores
do tetracampeão angolano 1º de Agosto: o guardião Tony Cabaça, o experiente
central Dani Massunguna e o lateral esquerdo Paizo.
Na baliza, o experiente Tony
Cabaça (33 anos) deu conta do recado, mesmo não sendo muito alto para
guarda-redes (1,80 m). Mostrou bons reflexos e não inventou a jogar com os pés,
até porque não tem grande apetência para tal. Não deu hipóteses aos
concorrentes Landú (Interclube) e Ndulo (Desp. Huíla), que atuam
no Girabola.
No eixo defensivo, Bastos
(Lazio) foi o patrão, fazendo valer a experiência de quem joga há seis anos na
Europa e há dois e meio numa das melhores e mais táticas ligas do mundo, a
Serie A. Sempre muito sereno, dominou as várias vertentes do jogo de um
central, como o controlo da profundidade e o jogo aéreo.
A seu lado, mesmo havendo um Buatu
(Rio Ave) com escola e ritmo europeu e três anos de campeonato belga e um de
liga portuguesa no currículo, a escolha recaiu em Dani Massunguna,
defesa de 33 anos que participou pela terceira vez no CAN e mostrou ser
imponente no futebol aéreo.
O carril direito pertenceu a Bruno
Gaspar (Sporting), que à data da convocatória não tinha somado qualquer internacionalização,
mas ainda assim foi dono e senhor do lugar. Deu grande profundidade ao
corredor, com liberdade para atacar, mas abusou das faltas e ficou condicionado
por amarelo ainda cedo nos encontros com a Mauritânia e o Mali.
No flanco oposto o baixinho (1,69
m) Paizo também se mostrou ofensivo, mas foi mais contido do que Bruno
Gaspar. E se por um lado conseguia embalar bem no apoio ao ataque, por outro
sentia dificuldades em fazer frente às mudanças de velocidade dos extremos que
lhe apareciam pelo caminho.
Atacante Wilson Eduardo não esteve ao melhor nível no Egito |
Sempre num sistema de 4x2x3x1, Herenilson
(Petro de Luanda) esteve de pedra e cal no meio-campo e terá sido mesmo o
angolano cuja cotação mais subiu na Taça das Nações Africanas. Aos 23 anos,
mostrou ser um médio muito interessante, com capacidade para atuar como
primeiro e segundo médio. Dotado de grande resistência física que lhe
permitiram fazer piscinas entre as duas áreas, mostrava-se aos defesas na fase
de construção, mas também fazia a ponte com a fase de criação, ajudando a
equipa a progredir através do passe ou do transporte de bola. Com grande noção
de responsabilidade defensiva, recuperava rapidamente a posição e foi uma das
referências da equipa na recuperação de bola. Um jogador para o futebol europeu
ter em conta.
Quem começou o CAN ao lado de
Herenilson foi Stélvio (Dudelange), regressado à seleção aos 30 anos ao
cabo de seis temporadas no Luxemburgo. Ex-internacional jovem por Portugal,
atuou apenas os primeiros 45 minutos diante da Tunísia, no papel de médio
estabilizador, acrescentando músculo ao meio-campo (1,87 m), mas ficando
igualmente responsável por passes longos à procura do ataque à profundidade por
parte dos homens da frente.
No segundo jogo, a aposta para
emparelhar com Herenilson no miolo foi em Show (1º de Agosto), também
ele um médio estabilizador, fisicamente forte (1,80 m) e com responsabilidades
em colocar a bola diretamente na frente. Quando tinha de optar pelo passe
curto, sentia dificuldades em verticalizar o jogo, acabando por
maioritariamente decidir por atrasar a bola para um dos defesas. José Macaia
(1.º de Agosto) também foi lançado, mas não foi além de uma mão cheia de
minutos no encontro com a Tunísia.
Como alternativa, Fredy (Antalyaspor)
também foi utilizado no duplo pivot.
Embora seja um extremo de raiz, foi adaptado por Silas (no Belenenses) a médio
interior, oferecendo à equipa mais qualidade técnica a partir de zonas mais
recuadas. Na seleção angolana começou os dois primeiros jogos como médio
ofensivo, baixando regularmente para pegar no jogo junto dos centrocampistas
mais defensivos, mas durante grande parte do primeiro encontro e nos 50 minutos
iniciais do terceiro atuou ao lado de Herenilson à frente da defesa. Assumiu um
papel importante na construção de jogo e na ligação entre setores.
Nas três posições de apoio ao ponto
de lança houve várias opções. Wilson Eduardo (Sp. Braga) começou o CAN à
direita, mas logo na segunda partida experimentou atuar nas costas de Gelson
Dala e no corredor esquerdo. Esteve muitos furos abaixo do que era expetável e,
apesar de alguns bons movimentos de desmarcação que o colocaram na cara do
golo, desiludiu pela ineficácia em zona de finalização.
Quem também experimentou as três
posições mais próximas do ponta de lança foi o veterano Djalma (Alanyaspor),
32 anos. O antigo extremo do FC Porto começou à esquerda, de onde partia em
diagonais para a zona interior, procurando causar desequilíbrios através da sua
capacidade de explosão. Esteve em evidência no primeiro jogo, tendo marcado o
golo à Tunísia, mas caiu de produção nos dois encontros seguintes, tendo experimentado
a ala direita e a faixa central na partida da 3.ª jornada, diante do Mali.
Em bom plano no primeiro desafio,
após ter saltado do banco ao intervalo, esteve Geraldo (Al-Ahly).
Extremo esquerdino, atuou sobre a ala direita, tendo agitado o jogo e causado desequilíbrios
frente à Tunísia. Nos encontros seguintes também caiu de produção, não tendo
aproveitado a titularidade que lhe foi concedida no duelo com o Mali.
Já o capitão Mateus
(Boavista), que tal como Djalma disputou o quarto CAN da carreira, começou a
prova como uma espécie de falso ponta de lança, dando mobilidade, mas não
acutilância ao ataque durante a primeira parte do encontro com a Tunísia. Frente
à Mauritânia voltou ao corredor direito e diante do Mali experimentou a ala
esquerda, mas foi outra unidade que esteve furos abaixo do que expetável.
Procurou aparecer em zonas interiores, nomeadamente no espaço entre linhas, mas
não conseguiu ser positivamente influente na manobra ofensiva.
Mabululu (1º de Agosto)
entrou para o apoio ao ponta de lança nas retas finais nos dois últimos
encontros e teve pouco tempo para mostrar o seu valor.
O dono do eixo do ataque na
segunda parte do jogo com a Tunísia e nos dois encontros que se seguiram foi Gelson
Dala (Sporting), uma das principais desilusões da seleção angolana. Até
entrou bem frente aos tunisinos, tendo causado problemas aos defesas contrários
através da sua qualidade técnica, mas teve desempenhos apáticos diante de
Mauritânia e Mali.
Sem comentários:
Enviar um comentário