terça-feira, 9 de julho de 2019

O que Angola nos mostrou no CAN 2019

Angola saiu do CAN com dois pontos e apenas um golo marcado
Depois de um promissor empate e desempenho frente a Tunísia na primeira jornada, acabou por saber a pouco a eliminação logo na fase de grupos, sobretudo tendo em conta que a Mauritânia tem muito menos recursos e que o Mali estava já apurado e poupou alguns jogadores como Marega e Diaby no encontro com os Palancas Negras, que só necessitavam do empate para seguir em frente.


A seleção comandada pelo sérvio Srdjan Vasiljevic apresentou-se renovada, mas não propriamente rejuvenescida, com algumas caras novas, mas que em grande parte eram novas mais pela via da naturalização do que propriamente por um caminho mais estrutural, de produtos made in Angola. Bruno Gaspar, Buatu, o regressado Stélvio e Wilson Eduardo são exemplos de jogadores que não cresceram nem jogaram no país que representam.

Ainda assim, nem sempre é fácil cativar esses jogadores, que acabaram por acrescentar algum valor a uma seleção que, apesar do insucesso no Egito, mostrou ser organizada e difícil de bater, ainda que pouco acutilante no ataque e ineficaz. Sobretudo no aspeto defensivo é quase sempre uma mais-valia ter um selecionador europeu em detrimento de um africano e neste caso verificou-se essa teoria. Vasiljevic montou uma equipa a defender num coeso bloco médio/baixo, com uma linha defensiva sólida e uma linha média bem definida.

Falta de soluções ofensivas

Ofensivamente é que faltaram soluções. Angola procurou quase sempre o ataque à profundidade e o despejo de bolas na frente, mesmo tendo elementos do meio-campo para a frente elementos como o talentoso Herenilson (1º de Agosto), os ‘europeus’ Djalma (Alanyaspor) e Fredy (Antalyaspor), Mateus (Boavista), Gelson Dala (Sporting) e Wilson Eduardo (Sp. Braga) e um Geraldo (Al-Ahly) que atua num dos melhores clubes de África.

Apenas diante da Mauritânia se assistiu a uma tentativa de jogar mais apoiado, mas faltou mais volume ofensivo, eficácia na zona de tiro e talvez outro tipo de avançado, um ponta de lança mais robusto e finalizador. Mateus no primeiro jogo e Gelson Dala nos restantes foram os escolhidos para o eixo do ataque. Curiosamente, Wilson Eduardo, que é de todos o mais goleador e rotinado à posição de ponta de lança – ainda que no Sp. Braga jogue ao lado de Dyego Sousa ou Paulinho -, atuou nas alas ou nas costas do homem mais adiantado, mas nunca como principal referência do ataque.

Gelson Dala foi uma das principais desilusões de Angola
É urgente que Angola produza e exporte mais talentos para a Europa. Nesta seleção, eram apenas dez os que atuavam no velho continente. Os que atuavam no Girabola estavam em maioria (12) e essa é uma tendência que terá de ser invertida se os Palancas Negras quiserem sonhar com voos mais altos no CAN ou com o regresso ao Campeonato do Mundo.

Defesa intocável, ataque em rotação

Já aqui foi dito que Srdjan Vasiljevic privilegiou a consistência defensiva. Talvez por isso o guarda-redes, o quarteto defensivo e um dos médios mais recuados (Herenilson) cumpriram os 270 minutos possíveis. Neste núcleo duro, estavam três jogadores do tetracampeão angolano 1º de Agosto: o guardião Tony Cabaça, o experiente central Dani Massunguna e o lateral esquerdo Paizo.

Na baliza, o experiente Tony Cabaça (33 anos) deu conta do recado, mesmo não sendo muito alto para guarda-redes (1,80 m). Mostrou bons reflexos e não inventou a jogar com os pés, até porque não tem grande apetência para tal. Não deu hipóteses aos concorrentes Landú (Interclube) e Ndulo (Desp. Huíla), que atuam no Girabola.

No eixo defensivo, Bastos (Lazio) foi o patrão, fazendo valer a experiência de quem joga há seis anos na Europa e há dois e meio numa das melhores e mais táticas ligas do mundo, a Serie A. Sempre muito sereno, dominou as várias vertentes do jogo de um central, como o controlo da profundidade e o jogo aéreo.

A seu lado, mesmo havendo um Buatu (Rio Ave) com escola e ritmo europeu e três anos de campeonato belga e um de liga portuguesa no currículo, a escolha recaiu em Dani Massunguna, defesa de 33 anos que participou pela terceira vez no CAN e mostrou ser imponente no futebol aéreo.

O carril direito pertenceu a Bruno Gaspar (Sporting), que à data da convocatória não tinha somado qualquer internacionalização, mas ainda assim foi dono e senhor do lugar. Deu grande profundidade ao corredor, com liberdade para atacar, mas abusou das faltas e ficou condicionado por amarelo ainda cedo nos encontros com a Mauritânia e o Mali.

No flanco oposto o baixinho (1,69 m) Paizo também se mostrou ofensivo, mas foi mais contido do que Bruno Gaspar. E se por um lado conseguia embalar bem no apoio ao ataque, por outro sentia dificuldades em fazer frente às mudanças de velocidade dos extremos que lhe apareciam pelo caminho.

Atacante Wilson Eduardo não esteve ao melhor nível no Egito
Sempre num sistema de 4x2x3x1, Herenilson (Petro de Luanda) esteve de pedra e cal no meio-campo e terá sido mesmo o angolano cuja cotação mais subiu na Taça das Nações Africanas. Aos 23 anos, mostrou ser um médio muito interessante, com capacidade para atuar como primeiro e segundo médio. Dotado de grande resistência física que lhe permitiram fazer piscinas entre as duas áreas, mostrava-se aos defesas na fase de construção, mas também fazia a ponte com a fase de criação, ajudando a equipa a progredir através do passe ou do transporte de bola. Com grande noção de responsabilidade defensiva, recuperava rapidamente a posição e foi uma das referências da equipa na recuperação de bola. Um jogador para o futebol europeu ter em conta.

Quem começou o CAN ao lado de Herenilson foi Stélvio (Dudelange), regressado à seleção aos 30 anos ao cabo de seis temporadas no Luxemburgo. Ex-internacional jovem por Portugal, atuou apenas os primeiros 45 minutos diante da Tunísia, no papel de médio estabilizador, acrescentando músculo ao meio-campo (1,87 m), mas ficando igualmente responsável por passes longos à procura do ataque à profundidade por parte dos homens da frente.

No segundo jogo, a aposta para emparelhar com Herenilson no miolo foi em Show (1º de Agosto), também ele um médio estabilizador, fisicamente forte (1,80 m) e com responsabilidades em colocar a bola diretamente na frente. Quando tinha de optar pelo passe curto, sentia dificuldades em verticalizar o jogo, acabando por maioritariamente decidir por atrasar a bola para um dos defesas. José Macaia (1.º de Agosto) também foi lançado, mas não foi além de uma mão cheia de minutos no encontro com a Tunísia.

Como alternativa, Fredy (Antalyaspor) também foi utilizado no duplo pivot. Embora seja um extremo de raiz, foi adaptado por Silas (no Belenenses) a médio interior, oferecendo à equipa mais qualidade técnica a partir de zonas mais recuadas. Na seleção angolana começou os dois primeiros jogos como médio ofensivo, baixando regularmente para pegar no jogo junto dos centrocampistas mais defensivos, mas durante grande parte do primeiro encontro e nos 50 minutos iniciais do terceiro atuou ao lado de Herenilson à frente da defesa. Assumiu um papel importante na construção de jogo e na ligação entre setores.

Nas três posições de apoio ao ponto de lança houve várias opções. Wilson Eduardo (Sp. Braga) começou o CAN à direita, mas logo na segunda partida experimentou atuar nas costas de Gelson Dala e no corredor esquerdo. Esteve muitos furos abaixo do que era expetável e, apesar de alguns bons movimentos de desmarcação que o colocaram na cara do golo, desiludiu pela ineficácia em zona de finalização.
 
Onze que defrontou o Mali, na 3.ª jornada
Quem também experimentou as três posições mais próximas do ponta de lança foi o veterano Djalma (Alanyaspor), 32 anos. O antigo extremo do FC Porto começou à esquerda, de onde partia em diagonais para a zona interior, procurando causar desequilíbrios através da sua capacidade de explosão. Esteve em evidência no primeiro jogo, tendo marcado o golo à Tunísia, mas caiu de produção nos dois encontros seguintes, tendo experimentado a ala direita e a faixa central na partida da 3.ª jornada, diante do Mali.

Em bom plano no primeiro desafio, após ter saltado do banco ao intervalo, esteve Geraldo (Al-Ahly). Extremo esquerdino, atuou sobre a ala direita, tendo agitado o jogo e causado desequilíbrios frente à Tunísia. Nos encontros seguintes também caiu de produção, não tendo aproveitado a titularidade que lhe foi concedida no duelo com o Mali.

Já o capitão Mateus (Boavista), que tal como Djalma disputou o quarto CAN da carreira, começou a prova como uma espécie de falso ponta de lança, dando mobilidade, mas não acutilância ao ataque durante a primeira parte do encontro com a Tunísia. Frente à Mauritânia voltou ao corredor direito e diante do Mali experimentou a ala esquerda, mas foi outra unidade que esteve furos abaixo do que expetável. Procurou aparecer em zonas interiores, nomeadamente no espaço entre linhas, mas não conseguiu ser positivamente influente na manobra ofensiva.

Mabululu (1º de Agosto) entrou para o apoio ao ponta de lança nas retas finais nos dois últimos encontros e teve pouco tempo para mostrar o seu valor.

O dono do eixo do ataque na segunda parte do jogo com a Tunísia e nos dois encontros que se seguiram foi Gelson Dala (Sporting), uma das principais desilusões da seleção angolana. Até entrou bem frente aos tunisinos, tendo causado problemas aos defesas contrários através da sua qualidade técnica, mas teve desempenhos apáticos diante de Mauritânia e Mali.














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