domingo, 23 de junho de 2019

Os 10 africanos com mais jogos pelo Vitória FC na I Divisão

Alguns dos africanos que fizeram história no Vitória de Setúbal
É impossível escrever a história do Vitória, nem que seja de forma muito resumida, sem incluir o nome de vários jogadores nascidos em África. Desde os que foram autênticos pilares das equipas dos tempos áureos, nas décadas de 1960 e 1970, ao herói da Taça de Portugal de 2004-05, passando pelo único futebolista vitoriano a vencer a Bola de Prata, histórico troféu oferecido todas as épocas ao melhor marcador da I Divisão - antes da introdução do troféu, Francisco Rodrigues foi o goleador-mor da prova em 1943-44 e 1944-45. Entre os que nasceram no continente negro mas se assumiram como portugueses e os que vestiram as cores de seleções africanas, vale a pena recordar os dez futebolistas africanos que mais vezes representaram os sadinos no primeiro escalão.



Menção honrosa: Rashidi Yekini (66 jogos)

Rashidi Yekini
Rashidi Yekini não está entre os dez jogadores africanos que mais vezes atuaram pelo Vitória na I Divisão, mas o seu nome teria de ser forçosamente incluído nesta peça. Desse por onde desse, não havia volta a dar. É um nome incontornável da história dos sadinos, que é inevitavelmente incluído nas discussões sobre o melhor futebolista da história do clube.
Uma das razões pelas quais é um ídolo vitoriano sem estar entre os dez africanos com mais jogos no primeiro escalão tem a ver com duas épocas memoráveis na II Liga em 1991-92 e 1992-93, sagrando-se melhor marcador em ambas, com 22 e 35 golos. Na época seguinte já atuou na I Liga e também foi o artilheiro-mor, com 21 remates certeiros, sendo o único futebolista de sempre a acumular os títulos de melhor marcador das duas ligas profissionais portuguesas. Enquanto representava os sadinos, foi eleito melhor jogador africano em 1993 e melhor jogador da Taça das Nações Africanas em 1994, prova que venceu ao serviço da Nigéria.
Contratado aos costa-marfinenses do Africa Sports em 1990, saiu para o Olympiacos quatro anos depois, voltando ao Bonfim, mas sem o mesmo brilho, na segunda metade da temporada 1996-97. Para os adeptos do Vitória, que lhe tratavam carinhosamente por Jaquim, é inesquecível a sua exibição, coroada com dois golos, nos célebres 5-2 ao Benfica a 21 de novembro de 1993.



10. Chipenda (98 jogos)

Internacional angolano por 13 vezes, fez toda a carreira em Portugal, incluindo a formação. Começou no Dramático Cascais, nos distritais de Lisboa, e foi subindo a pulso, passando por Barril, União de Almeirim, Loures e Malveira antes de assinar pelo Belenenses no verão de 1995. Após uma época no Restelo, rumou ao Bonfim, onde permaneceu durante sete anos. Nunca foi propriamente um titular indiscutível, mas fez parte da equipa quinta classificada em 1998-99 e que subiu de divisão em 2000-01. Por outro lado, viveu por duas vezes a despromoção e acabou por encerrar a carreira após a segunda descida, em 2003.


Jorge Ferreira

9. Jorge Ferreira (105 jogos)

Nasceu na cidade angolana de Benguela, mas começou a jogar futebol em Portugal, em clubes do distrito de Setúbal. Depois de Desportivo Portugal e Galitos, concluiu a formação no Barreirense e foi de lá que para o Vitória em 1988. Foi à beira-Sado que se destacou ao longo de quatro épocas, a última das quais na II Liga, e se tornou por quatro vezes internacional português, já depois de ter representado as seleções jovens lusas. Falhado o regresso ao primeiro escalão em 1992, o central rumou ao Sp. Braga, onde também permaneceu durante quatro temporadas.


8. Matine (112 jogos)

Matine
Natural de Lourenço Marques, que a partir de 1976 se passou a designar Maputo, Matine chegou a Portugal proveniente do Central de Lourenço Marques para representar o Benfica. Após quatro temporadas na Luz, vestiu as cores do Vitória pela primeira vez em 1971-72, participando na memorável campanha sadina até ao 2.º lugar no campeonato. Graças aos bons desempenhos no Bonfim, o médio nascido em Moçambique foi chamado pelo selecionador José Augusto para representar a equipa das quinas na Taça Independência, no Brasil, que culminou com uma derrota na final ante os anfitriões, no Maracanã. Voltou ao Benfica na época seguinte, mas regressou a Setúbal no verão de 1973 para jogar com mais regularidade durante três temporadas, saindo depois para o Portimonense.


7. Janício (117 jogos)

Janício
Depois de ter perdido de uma assentada as três opções para a lateral direita da época da conquista da terceira Taça de Portugal (Éder, Ricardo Pessoa e Manuel José), o Vitória foi recrutar Janício ao Torreense, equipa que militava na II Divisão B e que era orientada por José Rachão até o treinador mudar-se para o Bonfim. O cabo-verdiano chegou como um desconhecido, embora já tivesse o estatuto de internacional pelo seu país, mas foi titular indiscutível durante as quatro temporadas que passou no clube, participando na caminhada até ao Jamor em 2005-06 e na conquista da Taça da Liga em 2007-08. Saiu para os cipriotas do Anorthosis no verão de 2019, despedindo-se sem qualquer golo marcado com a camisola verde e branca. “Ainda hoje tinha lugar no Vitória de Setúbal, não fosse um mal-entendido e nunca tinha saído de lá. Até hoje ainda não vi ninguém melhor. Recusei o FC Porto quando estava lá”, afirmou o 16 vezes internacional por Cabo Verde ao Maisfutebol em abril de 2017.


6. Chiquinho Conde (125 jogos)

Chiquinho Conde
Começou a carreira no Maxaquene, o mesmo clube que revelou Eusébio quando ainda se chamava Sporting de Lourenço Marques, e de lá saiu para o Belenenses em 1987, tendo ajudado o emblema do Restelo a conquistar a Taça de Portugal em 1988-89. Foi o primeiro moçambicano a jogar legalmente em Portugal após a independência do país. Após três temporadas nos azuis e uma no Sp. Braga, avançou para a primeira de três passagens pelo Vitória, onde formou uma dupla diabólica no ataque com Yekini durante as temporadas 1992-93 e 1993-94. “Com ele era tudo fácil. Não parecia tecnicista, mas era muito poderoso. Muitas vezes ele sozinho amarrava os dois centrais e libertava-me. Marquei muitos golos assim. Foi um jogador fantástico, o melhor parceiro que tive. Dávamos muitas assistências um ao outro. Enfim, foi um período muito bom”, confessou em entrevista ao Maisfutebol, em julho de 2015.
Quase 30 golos depois, rumou ao Sporting, onde não foi feliz. Voltou ao Belenenses, mas sem o mesmo brilho, regressando depois ao Bonfim em 1996-97 para redescobrir a felicidade, apontando sete golos em 20 partidas na I Liga. “Era o meu clube talismã e fica na minha história. O Belenenses acolheu-me muito bem, mas em Setúbal vivi sete anos fantásticos”, contou.
Entretanto transferiu-se para os Estados Unidos mas retornou a Setúbal em dezembro de 1997, para apontar quase 30 golos em dois anos e meio. Foi uma das figuras do 5.º lugar de 1998-99 que marcou o regresso às competições europeias 25 anos depois, mas acabou por sair após a despromoção à II Liga na época seguinte, com destino a Alverca. Quase duas décadas depois, regressou ao clube para ser treinador da equipa de sub-23, em 2018-19.


5. Rui Carlos (136 jogos)

Rui Carlos
Mais um exemplo de um jogador nascido em África mas com toda uma carreira feita em Portugal. Rui Carlos nasceu em Luanda, mas concluiu a formação e estreou-se no futebol sénior pelo Caldas. De lá foi para o Gil Vicente, transferindo-se para o Vitória no verão de 1992. Seguiram-se nove temporadas seguidas no Bonfim, seis delas na I Divisão. Nem sempre foi um titular indiscutível, mas o lateral esquerdo/médio teve um percurso muito assinalável na cidade do Sado. Já na fase descendente da carreira, aos 32 anos, despediu-se do clube com a subida à I Liga e foi vestir as cores do Seixal.


4. Meyong (139 jogos)

Meyong
Na temporada seguinte só começou a jogar em outubro porque esteve em Sydney, na Austrália, a ganhar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos ao serviço dos Camarões, mas regressou a tempo de marcar 13 golos, o último dos quais a garantir a promoção, aos 89 minutos da última jornada, num triunfo sobre a Naval (2-1), num Bonfim à pinha. “É um dos golos mais importantes para mim e dos que mais festejei. Nesse jogo o estádio do Bonfim estava cheio. Foi a primeira vez que vi o estádio tão cheio e um ambiente fantástico. Consigo fazer o golo mesmo no fim. Mudou muitas coisas e a vida de muita gente. Se não tinha marcado naquele jogo o Vitória não subia de divisão e ia ter muitos problemas”, recordou Zezé, como é carinhosamente tratado em Setúbal.



3. Conceição (175 jogos)

Conceição
Nasceu em Luanda, mas foi no Vitória que apareceu a jogar em 1962-63, dando o pontapé de saída a um período de dez anos ao serviço do clube que só não foi ininterrupto porque representou o Farense em 1971-72 antes de uma última temporada no Bonfim. Não só integrou as equipas que venceram a Taça de Portugal em 1964-65 e 1966-67 como atuou nas duas finais, sendo um dos jogadores que acompanhou o clube em praticamente todo o seu período áureo. As boas campanhas com a camisola verde e branca valeram ao defesa cinco internacionalizações por Portugal, todas em 1969.


2. Jacinto João (270 jogos)

Jacinto João



1. José Maria (317 jogos)

José Maria
José Maria não só é o futebolista com mais jogos na história do Vitória na I Divisão – embora com menos do que Hélio e Quim em todas as competições - como o que tem mais golos (91). E muito dificilmente perderá ambos os tronos e um feito goleador notável para quem era médio esquerdo. “Orgulho-me de todos os jogos e golos que fiz, mas se bati recordes só tenho de agradecer à malta com quem joguei”, assumiu ao Record em setembro de 2015.
Natural de Luanda, chegou a Setúbal proveniente do Petro em janeiro de 1963, iniciando aí 13 anos consecutivos no clube sadino. Um dos expoentes máximos dos anos áureos do clube, esteve nas dez campanhas europeias consecutivas entre 1965-66 e 1974-75 e marcou nas finais da Taça de Portugal ganhas pelos setubalenses em 1964-65 e 1966-67. “Os anos passam, mas serei sempre do Vitória. Mesmo à distância, acompanho. Oxalá tenha êxito”, afirmou o antigo internacional português (por quatro vezes), radicado em Nova Jérsia, nos Estados Unidos.


















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