segunda-feira, 24 de março de 2025

O autor de um golaço do Sporting nas Antas aos 119 minutos. Quem se lembra de Mário?

Mário somou 62 jogos e seis golos pelo Sporting entre 1986 e 1988
Médio internacional jovem brasileiro com técnica, visão de jogo, qualidade de passe e espírito combativo, começou por jogar futebol de salão no Vasco da Gama, passando depois para o futebol de 11 no Fluminense, clube no qual fez toda a formação e iniciou a carreira.
 
Em 1980, quando tinha 23 anos, viveu talvez o ano mais importante na carreira, uma vez que venceu o campeonato carioca ao serviço do emblema tricolor e o Torneio de Toulon pela seleção brasileira. “Ganhámos à França na final. Nessa altura o selecionador era o Telé Santana e ele acompanhava-nos para todo o lado. Estava a construir a grande seleção do Mundial de 1982”, contou ao Maisfutebol em janeiro de 2021.
 
Seis anos depois, após passagens por clubes como Inter de Limeira, Bangu, Goiás, Vasco da Gama, Grêmio e Botafogo, ingressou no Sporting, numa altura em que os leões atravessavam uma crise financeira e diretiva, tendo arrancado a pré-época com apenas 13 jogadores. “Fiquei surpreendido e feliz por essa transferência. Ninguém contratava um atleta já quase trintão. O empresário Palmeira Branco, que tinha origens em Chaves e que era o representante do Sporting no Rio de Janeiro, gostou de mim. Ele assistiu ao lado do presidente João Rocha a um jogo do Bangu para a Libertadores, contra o Deportivo Quito, no Maracanã. Eu joguei bem e durante a partida o senhor João Rocha recebeu um telefonema a dizer que o Sousa e o Jaime Pacheco tinham saído para o FC Porto. O senhor Palmeira sugeriu logo na hora o meu nome para o meio-campo do Sporting. Assim foi”, recordou.
 
 
Mesmo tendo chegado tarde ao futebol português, não revelou problemas de adaptação e fez duas temporadas positivas em Alvalade, 1986-87 e 1987-88, tendo tido em Manuel José o primeiro treinador em Portugal. “O Manuel José era muito temido por todos em Portugal, mas era muito bom treinador. Vim para Portugal sem o aval dele. O Sporting estava a regressar de um torneio de Paris e ia para um torneio em Bruges. Eu estava no hotel com o Silvinho e o Negrete, outros dois reforços. Fui para a Bélgica com a equipa, não joguei o primeiro jogo e no segundo entrei para o lugar de Silvinho, como extremo esquerdo. Eu já não era extremo, jogava no meio-campo, mas o mister colocou-me lá. Correu bem, fiz dois passes para golos do Manuel Fernandes e ganhámos 2-1 ao Espanyol. Fui ganhando assim o meu espaço e jogando cada vez mais. Confesso que com 29 anos já não pensava jogar na Europa”, prosseguiu.
 
Na primeira época de leão ao peito assistiu da bancada aos famosos 7-1 ao Benfica, mas foi presença bem notada em campo num clássico com o FC Porto das Antas que valeu o apuramento para a final da Taça de Portugal, ao marcar o golaço que deu a vitória ao cair do pano do prolongamento, aos 119 minutos. “Ui, a pancadaria que eu vi nesse dia. Atrás da baliza onde eu fiz o golo estava a Força Verde, uma claque do Sporting. Tinha lá muitos amigos e muitos deles ainda me dizem: ‘porra, Mário, apanhei por sua causa’ ou ‘foi a primeira vez que apanhei e gostei’. O Estádio das Antas estava em obras e o pessoal do Porto começou a mandar pedras para a torcida do Sporting. O senhor Reinaldo Teles é que me ajudou a chegar ao balneário. Eu marquei e fui substituído pelo Litos logo a seguir”, lembrou.
 
Na temporada seguinte foi suplente utilizado nos dois dérbis com o Benfica que ditaram a conquista da Supertaça Cândido de Oliveira.
 
 
Depois de 62 jogos e seis golos pelo Sporting, foi dispensado durante o verão de 1988. “No dia em que cheguei a Lisboa, o presidente João Rocha chamou-me ao gabinete e perguntou: ‘Mário, achas que tens condições de jogar nesta equipa?’ Foi no dia de um jogo com o Arsenal, o clube de onde vinha o Ralph Meade. Eu disse que sim, que tinha condições. Mas não percebi o alcance da questão. Até que o presidente me disse que ia abandonar o clube. O homem que me tinha contratado. Fiquei preocupado, mas ele disse-me que me continuaria a ajudar. Entrou o presidente Amado de Freitas e depois o Jorge Gonçalves. E o senhor Jorge quis mudar tudo, com uma ideia nova. Ainda fiz a pré-época em Tróia, o Frank Rijkaard esteve lá a treinar connosco e o treinador era o Pedro Rocha. Quando voltámos a Lisboa, o supervisor chamou-me. Eu já o conhecia da seleção do Brasil em Toulon e do Fluminense. Disse-me que o clube ia ter novos atletas brasileiros e que só ficaria o João Luís e o Paulinho Cascavel”, recordou Mário Marques, que escolheu o Estrela da Amadora como passo seguinte na carreira: “Fui eu, o Duílio e o Marlon Brandão para lá. O Boavista e o Vitória de Guimarães também me queriam, mas eu preferi ficar na zona de Lisboa e senti que estava na hora de fazer um bom contrato. Eu tinha mais um ano de ligação com o Sporting, fiquei triste, mas saí. O futebol é assim, no ano anterior até tinham dispensado o Manuel Fernandes.”
 
Na Reboleira, imagine-se, foi auferir um salário superior. “O presidente do Estrela era o José Gomes, o Armando Biscoito tinha saído do Sporting e era um dos dirigentes. Infelizmente tive uma pubalgia e não joguei tanto como eu queria. Tinha mais um ano de contrato, mas senti que não estava a ajudar e fui falar com o treinador João Alves. Voltei ao Brasil, para o América [do Rio de Janeiro]. Nem sempre os que jogam mais vezes são os elementos mais importantes, mas achei melhor”, afirmou o antigo centrocampista, que não foi além de dez jogos oficiais pelo emblema tricolor.
 
Embora tivesse ido para o Brasil encerrar a carreira de futebolista e iniciar a de treinador, Mário Marques voltou a radicar-se em Portugal, mais precisamente em São João da Madeira, em meados de 2019.



 
 




  

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