O autor de um golaço do Sporting nas Antas aos 119 minutos. Quem se lembra de Mário?
Mário somou 62 jogos e seis golos pelo Sporting entre 1986 e 1988
Médio internacional jovem
brasileiro com técnica, visão de jogo, qualidade de passe e espírito combativo,
começou por jogar futebol de salão no Vasco
da Gama, passando depois para o futebol de 11 no Fluminense,
clube no qual fez toda a formação e iniciou a carreira.
Em 1980, quando tinha 23 anos,
viveu talvez o ano mais importante na carreira, uma vez que venceu o campeonato
carioca ao serviço do emblema
tricolor e o Torneio de Toulon pela seleção
brasileira. “Ganhámos à França
na final. Nessa altura o selecionador era o Telé Santana e ele acompanhava-nos
para todo o lado. Estava a construir a grande seleção do Mundial de 1982”,
contou ao Maisfutebol
em janeiro de 2021. Seis anos depois, após passagens
por clubes como Inter de Limeira, Bangu, Goiás,
Vasco
da Gama, Grêmio
e Botafogo,
ingressou no Sporting,
numa altura em que os leões
atravessavam uma crise financeira e diretiva, tendo arrancado a pré-época com
apenas 13 jogadores. “Fiquei surpreendido e feliz por essa transferência.
Ninguém contratava um atleta já quase trintão. O empresário Palmeira Branco,
que tinha origens em Chaves e que era o representante do Sporting
no Rio de Janeiro, gostou de mim. Ele assistiu ao lado do presidente João Rocha
a um jogo do Bangu para a Libertadores,
contra o Deportivo Quito, no Maracanã. Eu joguei bem e durante a partida o
senhor João Rocha recebeu um telefonema a dizer que o Sousa e o Jaime Pacheco
tinham saído para o FC
Porto. O senhor Palmeira sugeriu logo na hora o meu nome para o meio-campo
do Sporting.
Assim foi”, recordou.
Mesmo tendo chegado tarde ao
futebol português, não revelou problemas de adaptação e fez duas temporadas
positivas em Alvalade,
1986-87 e 1987-88, tendo tido em Manuel José o primeiro treinador em Portugal. “O
Manuel José era muito temido por todos em Portugal, mas era muito bom
treinador. Vim para Portugal sem o aval dele. O Sporting
estava a regressar de um torneio de Paris e ia para um torneio em Bruges. Eu
estava no hotel com o Silvinho e o Negrete,
outros dois reforços. Fui para a Bélgica com a equipa, não joguei o primeiro
jogo e no segundo entrei para o lugar de Silvinho, como extremo esquerdo. Eu já
não era extremo, jogava no meio-campo, mas o mister colocou-me lá. Correu bem,
fiz dois passes para golos do Manuel
Fernandes e ganhámos 2-1 ao Espanyol.
Fui ganhando assim o meu espaço e jogando cada vez mais. Confesso que com 29
anos já não pensava jogar na Europa”, prosseguiu. Na primeira época de leão
ao peito assistiu da bancada aos famosos 7-1 ao Benfica,
mas foi presença bem notada em campo num clássico com o FC
Porto das Antas que valeu o apuramento para a final da Taça
de Portugal, ao marcar o golaço que deu a vitória ao cair do pano do
prolongamento, aos 119 minutos. “Ui, a pancadaria que eu vi nesse dia. Atrás da
baliza onde eu fiz o golo estava a Força Verde, uma claque do Sporting.
Tinha lá muitos amigos e muitos deles ainda me dizem: ‘porra, Mário, apanhei
por sua causa’ ou ‘foi a primeira vez que apanhei e gostei’. O Estádio das
Antas estava em obras e o pessoal do Porto começou a mandar pedras para a
torcida do Sporting.
O senhor Reinaldo Teles é que me ajudou a chegar ao balneário. Eu marquei e fui
substituído pelo Litos logo a seguir”, lembrou. Na temporada seguinte foi
suplente utilizado nos dois dérbis com o Benfica
que ditaram a conquista da Supertaça
Cândido de Oliveira.
Depois de 62 jogos e seis golos
pelo Sporting,
foi dispensado durante o verão de 1988. “No dia em que cheguei a Lisboa, o
presidente João Rocha chamou-me ao gabinete e perguntou: ‘Mário, achas que tens
condições de jogar nesta equipa?’ Foi no dia de um jogo com o Arsenal,
o clube de onde vinha o Ralph Meade. Eu disse que sim, que tinha condições. Mas
não percebi o alcance da questão. Até que o presidente me disse que ia
abandonar o clube. O homem que me tinha contratado. Fiquei preocupado, mas ele
disse-me que me continuaria a ajudar. Entrou o presidente Amado de Freitas e
depois o Jorge Gonçalves. E o senhor Jorge quis mudar tudo, com uma ideia nova.
Ainda fiz a pré-época em Tróia, o Frank Rijkaard esteve lá a treinar connosco e
o treinador era o Pedro Rocha. Quando voltámos a Lisboa, o supervisor
chamou-me. Eu já o conhecia da seleção do Brasil em Toulon e do Fluminense.
Disse-me que o clube ia ter novos atletas brasileiros e que só ficaria o João
Luís e o Paulinho Cascavel”, recordou Mário Marques, que escolheu o Estrela
da Amadora como passo seguinte na carreira: “Fui eu, o Duílio e o Marlon
Brandão para lá. O Boavista
e o Vitória
de Guimarães também me queriam, mas eu preferi ficar na zona de Lisboa e
senti que estava na hora de fazer um bom contrato. Eu tinha mais um ano de
ligação com o Sporting,
fiquei triste, mas saí. O futebol é assim, no ano anterior até tinham dispensado
o Manuel
Fernandes.” Na Reboleira, imagine-se, foi auferir
um salário superior. “O presidente do Estrela
era o José Gomes, o Armando Biscoito tinha saído do Sporting
e era um dos dirigentes. Infelizmente tive uma pubalgia e não joguei tanto como
eu queria. Tinha mais um ano de contrato, mas senti que não estava a ajudar e
fui falar com o treinador João Alves. Voltei ao Brasil, para o América
[do Rio de Janeiro]. Nem sempre os que jogam mais vezes são os elementos
mais importantes, mas achei melhor”, afirmou o antigo centrocampista, que não
foi além de dez jogos oficiais pelo emblema
tricolor. Embora tivesse ido para o Brasil
encerrar a carreira de futebolista e iniciar a de treinador, Mário Marques voltou
a radicar-se em Portugal, mais precisamente em São João da Madeira, em meados
de 2019.
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