quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Três penáltis, 12 minutos de espera e muita fantasia. Recorde o Caso Calabote

Inocêncio Calabote foi irradiado após polémico Benfica-CUF
O campeonato português de 1958-59 teve o final mais dramático e polémico de sempre. Os anos passam e nunca mais se viu algo semelhante. E tudo por causa de uma arbitragem alegadamente tendenciosa, mas que não surtiu efeito.
 
O Benfica começou melhor a época e liderava a I Divisão com três pontos de avanço sobre o FC Porto à entrada para o clássico entre encarnados e dragões na Invicta, à 9.ª jornada. O empate a zero ficou marcado pela estreia do treinador húngaro Béla Guttmann no banco dos… azuis e brancos.
 
Entretanto, o FC Porto foi recuperando a desvantagem, graças a um futebol dinâmico e ofensivo, tendo Guttmann tirado da equipa o já veterano médio internacional português José Maria Pedroto para passar a dispor de médios mais acutilantes.
 
À entrada para a última jornada, marcada para 22 de março de 1959, FC Porto e Benfica estavam empatados pontualmente e, caso assim permanecessem, o campeão seria decidido pelo critério de desempate da diferença entre golos marcados e sofridos. Os portistas tinham vantagem, com um saldo de +56 contra os +52 dos lisboetas, e o jogo teoricamente mais acessível, pois visitavam o lanterna-vermelha Torreense, enquanto o rival recebia a CUF.
 
Primeira página do Mundo Desportivo
O que é certo é que, a poucos minutos do fim dos dois jogos, o saldo de golos havia sido igualado. O Benfica de Otto Glória ia goleando a CUF por 6-1, embalado pela marcação de três penáltis por parte do árbitro Inocêncio Calabote, enquanto o FC Porto só vencia por 1-0. “O jogo do Benfica foi realmente arbitrado por um homem chamado Inocência”, afirmou mais tarde Guttmann, com ironia.
 
Dois golos tardios de Teixeira e Noé sossegaram os nervos dos portistas, mas o jogo do Benfica terminou 12 minutos depois da partida do FC Porto em Torres Vedras. Os encarnados marcaram por mais uma vez, o que não chegou para conquista o título. Os dragões foram coroados campeões nacionais.
 
Estes são os factos. A partir daqui, portistas e benfiquistas vão contando a história ao sabor da preferência clubística.
 
Diz-se em alguns fóruns que Calabote expulsou três jogadores da CUF, mas não há registo algum dessas expulsões. O cartão vermelho viu-se, sim, em Torres Vedras, pois Manuel Carlos e Saldanha, ambos jogadores do Torreense, foram expulsos quando o resultado ainda não estava fechado.
 
Excerto do Jornal de Notícias
Há quem argumente que o árbitro retardou ao máximo o início do jogo do Benfica e prolongou o jogo muito para lá da hora, mas também há quem se agarre ao facto de o portuense Jornal de Notícias ter referido no dia seguinte que foram quatro os minutos que o “árbitro deu a mais” e que a culpa do atraso do início da partida no Estádio da Luz se tenha devido à presença de ginastas benfiquistas em campo para distribuir flores.
 
A legitimidade dos penáltis marcados a favor do Benfica é, obviamente, alvo de discussão. Os jornais desportivos escreveram, na altura, que o primeiro e o terceiro eram indiscutíveis, mas não ficaram convencidos pela marcação do segundo, uma suposta falta de Durand sobre Cavém.
 
Excerto do Record
O que é certo é que, após essa polémica, Inocêncio Calabote foi irradiado. Supostamente não por ter cometido erros de arbitragem, mas por ter mentido sobre as horas de início e fim do encontro.
 
Fora da esfera da arbitragem, houve ainda outra polémica. O treinador adjunto do Benfica, Valdivieso, sentou-se no banco do Torreense no jogo com o FC Porto. Escreveu-se que foi ele que orientou a equipa, tendo dado a palestra no balneário e dado instruções durante o encontro, mas o próprio garante que foi observar um jogador do Torreense com vista a uma futura contratação e, consequentemente, convidado a sentar-se no banco da equipa. 




 



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