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Inocêncio Calabote foi irradiado após polémico Benfica-CUF |
O campeonato português de 1958-59
teve o final mais dramático e polémico de sempre. Os anos passam e nunca mais
se viu algo semelhante. E tudo por causa de uma arbitragem alegadamente
tendenciosa, mas que não surtiu efeito.
O
Benfica
começou melhor a época e liderava a
I
Divisão com três pontos de avanço sobre o
FC
Porto à entrada para o clássico entre
encarnados
e
dragões
na Invicta, à 9.ª jornada. O empate a zero ficou marcado pela estreia do
treinador húngaro Béla Guttmann no banco dos…
azuis
e brancos.
Entretanto, o
FC
Porto foi recuperando a desvantagem, graças a um futebol dinâmico e
ofensivo, tendo Guttmann tirado da equipa o já veterano médio internacional
português
José
Maria Pedroto para passar a dispor de médios mais acutilantes.
À entrada para a última jornada, marcada
para 22 de março de 1959,
FC
Porto e
Benfica
estavam empatados pontualmente e, caso assim permanecessem, o campeão seria
decidido pelo critério de desempate da diferença entre golos marcados e
sofridos. Os
portistas
tinham vantagem, com um saldo de +56 contra os +52 dos
lisboetas,
e o jogo teoricamente mais acessível, pois visitavam o lanterna-vermelha
Torreense,
enquanto o rival recebia a
CUF.
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Primeira página do Mundo Desportivo |
O que é certo é que, a poucos
minutos do fim dos dois jogos, o saldo de golos havia sido igualado. O
Benfica
de
Otto
Glória ia goleando a
CUF
por 6-1, embalado pela marcação de três penáltis por parte do árbitro Inocêncio
Calabote, enquanto o
FC
Porto só vencia por 1-0. “O jogo do
Benfica
foi realmente arbitrado por um homem chamado Inocência”, afirmou mais tarde Guttmann,
com ironia.
Dois golos tardios de Teixeira e
Noé sossegaram os nervos dos
portistas,
mas o jogo do
Benfica
terminou 12 minutos depois da partida do
FC
Porto em Torres Vedras. Os
encarnados
marcaram por mais uma vez, o que não chegou para conquista o título. Os
dragões
foram coroados campeões nacionais.
Estes são os factos. A partir daqui,
portistas
e
benfiquistas
vão contando a história ao sabor da preferência clubística.
Diz-se em alguns fóruns que
Calabote expulsou três jogadores da
CUF,
mas não há registo algum dessas expulsões. O cartão vermelho viu-se, sim, em
Torres Vedras, pois Manuel Carlos e Saldanha, ambos jogadores do
Torreense,
foram expulsos quando o resultado ainda não estava fechado.
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Excerto do Jornal de Notícias |
Há quem argumente que o árbitro
retardou ao máximo o início do jogo do
Benfica
e prolongou o jogo muito para lá da hora, mas também há quem se agarre ao facto
de o portuense
Jornal de Notícias ter referido no dia seguinte que foram
quatro os minutos que o “árbitro deu a mais” e que a culpa do atraso do início
da partida no
Estádio
da Luz se tenha devido à presença de ginastas
benfiquistas
em campo para distribuir flores.
A legitimidade dos penáltis
marcados a favor do
Benfica
é, obviamente, alvo de discussão. Os jornais desportivos escreveram, na altura,
que o primeiro e o terceiro eram indiscutíveis, mas não ficaram convencidos
pela marcação do segundo, uma suposta falta de Durand sobre Cavém.
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Excerto do Record |
O que é certo é que, após essa
polémica, Inocêncio Calabote foi irradiado. Supostamente não por ter cometido
erros de arbitragem, mas por ter mentido sobre as horas de início e fim do
encontro.
Fora da esfera da arbitragem,
houve ainda outra polémica. O treinador adjunto do
Benfica,
Valdivieso, sentou-se no banco do
Torreense
no jogo com o
FC
Porto. Escreveu-se que foi ele que orientou a equipa, tendo dado a palestra
no balneário e dado instruções durante o encontro, mas o próprio garante que foi
observar um jogador do
Torreense
com vista a uma futura contratação e, consequentemente, convidado a sentar-se
no banco da equipa.
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