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Béla Guttmann trocou o FC Porto pelo Benfica no verão de 1959 |
O que os adeptos
azuis
e brancos desconheciam, porém, é que o treinador húngaro já tinha um acordo
secreto para se tornar treinador do
Benfica
depois da final. Os
encarnados
ofereceram-lhe um salário de 400 mil escudos por época, quase o dobro do que o
FC
Porto lhe pagava.
Devido à rivalidade entre os dois
clubes, na altura a viver uma fase mais quente na sequência do
Caso
Calabote, Guttmann passou a ser uma pessoa bastante impopular na Invicta.
Sempre que teve que deslocar-se ao Estádio das Antas nos anos seguintes, fê-lo
com escolta policial. Nada que incomodasse aquele que era um sobrevivente do
Holocausto.
Na sua autobiografia, o técnico
deu uma explicação pormenorizada de como entendia o papel de um treinador e de
como as rivalidades entre os clubes lhe eram indiferentes no momento de decidir
o passo seguinte na carreira. “Vendo a minha perícia a um clube por determinado
tempo. Se tivesse uma ligação fanática a algum clube, não conseguiria trabalhar
para outro com total empenhamento… Um especialista como deve ser não pode
permitir-se esse tipo de coisas. Saí do Porto com a consciência limpa, como um
pai que morre deixando os filhos bem protegidos. Com o título e o acesso à
Taça
dos Campeões Europeus, deixei os meus jogadores na melhor das situações”,
escreveu.
No entanto, na altura da troca de
clube não foi tão sincero, pois disse que tivera que mudar-se porque a mulher,
Mariann, não conseguia suportar o clima húmido do norte de Portugal. Era a
segunda vez em 12 meses que usava a aversão da mulher ao clima como desculpa
para sair de um clube, depois de ter utilizado essa justificação para deixar o
São
Paulo, quando o verdadeiro motivo era o dinheiro. A explicação, ainda
assim, só deixou ainda mais irritados os adeptos portistas.
Curiosamente, o
FC
Porto escolheu como próximo treinador o italiano Ettore Puricelli, ex-adjunto
de Guttmann no
AC
Milan e um homem que o húngaro culpava pelo despedimento nos
rossoneri
e, consequentemente, por lhe ter roubado o campeonato transalpino em 1954-55.
Puricelli foi dispensado do
FC
Porto no início de novembro de 1959, com seis derrotas em nove jogos,
incluindo a eliminação na ronda preliminar da
Taça
dos Campeões Europeus diante do Inter Bratislava. Um falhanço tão clamoroso,
com o mesmo conjunto de jogadores que conquistara o título na época anterior,
que só contribuiu para cimentar a reputação de Guttmann como obreiro de
milagres.
O
FC
Porto teria, aliás, de esperar mais 19 anos para voltar a vencer um
campeonato, tendo-o conseguido finalmente em 1978, com
José
Maria Pedroto, um homem que Guttmann havia afastado da equipa em 1958-59.
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