O jovem avançado guineense Valdu Té, reforço do Amora
para 2020-21 após rescindir com o Vitória de Setúbal, clube ao qual estava ligado desde 2014,
foi uma das revelações edição inaugural da Liga Revelação, tendo apontado oito
golos em 14 jogos. Também marcou um golo pela equipa principal dos sadinos,
ao Armacenenses
para a Taça
de Portugal, e chegou a marcar ao FC
Porto na I
Liga, mas viu o remate certeiro ser invalidado por uma alegada mão na bola
na área portista.
“O Valdu tem vindo a crescer e tem tido uma postura
positiva. É jovem, tem futuro e espaço para se tornar importante no futebol
português”, frisou o então técnico sadino
Lito Vidigal após esse encontro. No entanto, o ponta de lança de 23 anos tornou-se
uma espécie de promessa adiada dos setubalenses, pois já há muito tempo que se fala da sua
valia futebolística dele, que tarda em confirmar as expetativas. Na época
passada esteve cedido ao Arouca,
onde não se impôs como titular, não indo além de 18 jogos (sete como titular) e
um golo no Campeonato de Portugal.
Em
2015-16, naquela que foi a sua primeira temporada em Portugal, ajudou os
juniores vitorianos a sagrarem-se campeões nacionais da II Divisão, com 26
golos em 23 jogos. Mas mais incrível do que o seu registo goleador, é a sua
história de vida. “Nasci em Bissau
e pensei sempre em jogar futebol. Jogava na rua, com os meus amigos e a minha
família. Éramos 30 e tal na minha casa e éramos obrigados a trabalhar, porque o
meu pai sozinho não conseguia. Com 10 anos, ajudava o nosso pai a lavrar arroz
e amendoim. Só assim conseguíamos viver. Naquele meio todo, divertíamo-nos
muito a jogar futebol e até dava para fazer onze contra onze”, começou por
contar em entrevista concedida há dois anos ao canal da Federação Portuguesa de
Futebol (FPF).
“Quatro anos depois, fui para a
Academia do Sporting
em Bissau
e o meu empresário levou lá um treinador [Paulo Torres] para detetar talentos.
Ele viu-me, tirou-me foto e o meu empresário disse que viu brilho em mim.
Passados dois anos, cheguei a Portugal”, prosseguiu.
Já em solo português, começou por
treinar no Benfica,
mas não lhe arranjaram quarto no Centro de Estágios do Seixal. Depois esteve à
experiência no Sporting
durante quase seis meses, mas nunca houve entendimento nas negociações.
O regresso a África esteve
eminente, até que… “pedi à mãe dele para me autorizar a ficar com ele em
Portugal. Consegui que ela aceitasse e ele tornou-se quase meu filho”, explicou há cerca três anos o agente do craque, Paulo
Rodrigues, ao jornal O Setubalense. “Ele chegou com 66 quilos e
hoje [junho de 2016] tem 82, devido ao trabalho de massa muscular que eu o fiz
ganhar durante dois anos. Treinámos sozinhos em piscinas e em ginásios. Depois
pedi ao Vitória para o ver, no início desta época [2015-16], e
ficaram logo impressionados”, continuou o CEO da Super Stadium.
Maior cláusula da história sadina
Valdu
Té assinou contrato de um ano de formação com opção de cinco de
profissional, algo que foi acionado pelo Vitória,
que na altura o blindou até 2021 com uma cláusula de 20 milhões de euros. “Pelo
conhecimento que tenho, deve ser a maior cláusula da história do Vitória”,
explicou Paulo Rodrigues, orgulhoso pelo percurso daquele que se tornou um
filho adotivo.
“O Valdu
chegou ao aeroporto sem mala. Não tinha roupa, não tinha nada. O que faço com
ele é o que eu faço aos meus dois filhos. Dou-lhes tudo, compro-lhes tudo,
ensino-os, dou-lhes carinho, beijos, abraços, vou às compras com os três,
compro roupa igual para os três, cada um tem o seu quarto, jantamos a mesma
comida”, acrescentou então o agente.
O facto de ter sido acolhido por
uma família e não ter ficado hospedado num centro de estágios teve efeito
positivo no desempenho desportivo no atleta, acredita o empresário: “O Valdu
teve uma adaptação fácil no futebol porque esteve dois anos na escola, a
aprender a falar e a ter uma mentalidade mais à portuguesa. Foi uma adaptação
diferente porque tem uma família. Sente-se seguro, sabe que tem o que comer
quando acaba o treino, que tem dinheiro para vir para o treino, para casa e
para comer.”
Fã de Balotelli e recebia 25 euros por golo
Paulo Rodrigues pagava 25 euros a
Valdu
por cada golo marcado. Um incentivo que em 2015/16, quando era júnior, valeu
650 euros ao craque. Fã de Balotelli
– “mas não tão maluco como ele”, garante o agente -, o avançado guineense tinha
e continua a ter no futebol aéreo a sua principal arma.
“Marca golos impressionantes de
cabeça. Quando cabeceia a bola, ela sai com grande velocidade. Parecem remates
com o pé, de cabeça. Ele é muito forte fisicamente (1,89 m), trabalha muito a
nível físico e é difícil de travar quando arranca. É um ponta de lança puro,
com características raras”, analisou o empresário.
A rescisão ao fim de três empréstimos
Depois de despontar nos juniores, Valdu Té surgiu na pré-época da equipa principal no
verão de 2016. No entanto, chocou com uma realidade bem diferente. “Não tive
muita formação, fiz praticamente o segundo ano de júnior. No meu primeiro ano
de sénior, não estava bem preparado”, confessou o avançado, na recente
entrevista ao canal da FPF.
Sem espaço nas escolhas de José Couceiro e igualmente sem vontade em estar um ano
sem jogar, foi emprestado ao Mafra,
do Campeonato de Portugal, mas só atuou em oito partidas, tendo apontado um
golo. Em 2017-18, voltou a integrar a pré-temporada vitoriana,
mas tornou a ser cedido, desta vez ao Olímpico
do Montijo, onde se mostrou a um melhor nível: 23 jogos, cinco golos.
No entanto, 2018-19 trouxe uma
enorme novidade para o Vitória
e para Valdu Té: a Liga Revelação. O novo espaço competitivo
permitiu ao guineense treinar na equipa principal, pela qual cumpriu 12
encontros, e ganhar rodagem no campeonato dos sub-23. Acabou por não singrar às
ordens de Lito Vidigal nem às de Sandro Mendes e voltou a ser cedido, ao Arouca,
onde também não vingou.
Após três empréstimos e alguns
episódios conturbados entre o empresário Paulo Rodrigues e administração da SAD
do Vitória,
rescindiu em agosto deste ano com os sadinos,
ficando livre para assinar pelo Amora.
Sem comentários:
Enviar um comentário