sábado, 13 de julho de 2019

Alfa Semedo, um diamante para polir no Nottingham Forest

Alfa Semedo cedido por uma temporada ao Nottingham Forest
Oriundo do Vilafranquense (Campeonato de Portugal) e com passagem pela formação do Benfica, Alfa Semedo chegou há dois anos à I Liga pela porta do Moreirense, pegou de estaca na equipa, foi uma das revelações do campeonato e adquiriu o bilhete de regresso à Luz no início da temporada passada. Viveu na sombra de Fejsa, acabou por perder espaço até para Samaris, ao ponto de ser emprestado em janeiro ao Espanyol e agora ao Nottingham Forest, mas ninguém duvida que ainda poderá ser bastante útil ao clube encarnado.



As declarações do seu então treinador Sérgio Vieira, em janeiro de 2018, dizem quase tudo sobre ele: “Não tenho dúvidas de que vai ser jogador de clube grande e ainda o vamos aplaudir na Seleção Nacional. (…) Mas não nos podemos esquecer que tem 20 anos e veio do Campeonato de Portugal. Ainda não tem maturidade na tomada de decisão.”

Entretanto, o médio já completou 21 anos, mas os argumentos continuam válidos. Desconstruindo o discurso do agora técnico do Farense, o jovem futebolista tem potencial “de clube grande” não porque foi apenas mais um a fazer uma excelente temporada num emblema mais pequeno – até porque ainda tem lacunas consideráveis e acumulou alguns erros, próprios de quem ainda está verde -, mas pelo tipo de qualidades que vai exibindo. Como médio defensivo, não é um mero destruidor de jogo. Mostra grande capacidade na construção e oferece à equipa a possibilidade de sair a jogar com segurança desde três.

“É um jogador muito corajoso. Por vezes, corria alguns riscos desnecessários, mas sabe ter bola. Joga bem porque sabe. Para a idade, era de admirar o que fazia com aquela idade. Ele tinha capacidade para assumir as coisas. Não tinha medo, não se escondia”, afirmou ao Record um dos seus antigos treinadores no Vilafranquense, Vasco Matos, por altura da transferência para o Benfica.

São valências semelhantes que fazem com que Danilo Pereira e William Carvalho, por exemplo, estejam no patamar em que estão. Contudo, Alfa Semedo ainda não tem a tal “maturidade na tomada de decisão”, pelo que ainda não consegue traduzir toda a sua qualidade técnica em ações eficientes, que permitam à equipa reter a bola e progredir no terreno, consoante as necessidades. Evoluir nesse aspeto e manter a concentração durante os 90 minutos são as missões que, quando cumpridas, certamente o catapultarão para um papel de destaque num clube de maior dimensão. O potencial está bem patente.


"Privilegiado" pela estampa física

Por outro lado, no que concerne aos momentos defensivos, vai igualmente revelando características muito interessantes quando se pensa num ‘6’ de clube grande. Tem agilidade, velocidade e estampa física acima da média (1,90 m), é forte nos duelos (aéreos e à flor da relva) e rápido a recuperar a posição, algo fundamental nas transições ataque-defesa.

A capacidade atlética do futebolista nascido em Bissau faz a diferença nas bolas paradas, tanto defensivas como ofensivas. Exemplo disso é o número de golos que tem valido por época: apontou três em 2017/18, na estreia na I Liga; marcou quatro da temporada anterior; e, antes faturou dez pelos juniores do Benfica. “O físico que ele tem é uma ajuda muito grande para o futebol moderno, até porque poucos a têm até a um nível alto. É um privilegiado nesse aspeto”, considera Vasco Matos.

Transportador de jogo por excelência

Percebendo que tinha aqui um diamante ainda longe de estar completamente lapidado, mas ainda assim cada vez menos em estado bruto, as águias bateram a concorrência de clubes como Marselha, Celta de Vigo e Club Brugge e avançaram para a contratação do médio que ajudaram a formar, por cinco temporadas.

Aquando da sua passagem pelo Vilafranquense, os companheiros chamavam-lhe ‘Pogba guineense’, até porque na altura era um ‘8’ com capacidade de chegada área - e transporta bem jogo, qualidade que continua notória. Contudo, em Moreira de Cónegos recuou uns metros, para a posição de médio defensivo, e pensando nos ‘6’ que passaram pela Luz nas últimas temporadas, é com o estilo de Matic – curiosamente outro jogador do Manchester United - com que mais se assemelha.

Depois de uma primeira temporada sem grande tempo de competição, primeiro às ordens de Rui Vitória no Benfica e depois no empréstimo ao Espanyol, vai agora ganhar rodagem no histórico Nottingham Forest, clube que milita no Championship, uma II liga (inglesa) que em nada fica a dever a grande parte das primeiras ligas da Europa.



De Bissau para o mundo

Alfa vivia com um tio em Bissau. Segundo uma reportagem do MaisFutebol em julho do ano passado, “era um miúdo envergonhado, educado e com uma aparente boa estrutura familiar. Sem grandes luxos, mas com a estabilidade que faltava a muitos colegas da mesma idade e com os quais seguia de manhã para os treinos que começavam às 7 de terminavam às 9. Havia quem comesse só uma vez por dia; duas a contar com a refeição que lhes era entregue no final de cada sessão: pão, ovo e garrafas de água ou sumos.”

Aos 15 anos, depois de ter passado com distinção nas captações de uma recém-criada academia de Bissau, participou num torneio em abril de 2013 em que estiveram presentes representantes do Benfica, da Gestifute e de outras empresas de agenciamento.

Os relatos dizem que já se destacava da maioria dos restantes companheiros, por ser “dotado de boas capacidades físicas e técnicas” e por apresentar “boas noções táticas”, assimilando “com facilidade os conceitos que lhe eram passados pelos treinadores”, jogasse a central ou médio.

Aos 16 anos, foi colocado na equipa sénior do Balantas de Mansoa, filial do Belenenses que era na altura o campeão guineense.

Cerca de um ano depois, em fevereiro de 2015, após alguns meses a viver em Portugal, ultrapassou barreiras burocráticas e assinou pelo Benfica - apesar do interesse do Liverpool -, fazendo parte da equipa de juniores onde se destacam nomes como Ferro, Rúben Dias e Renato Sanches.

Seguiu-se o empréstimo ao Vilafranquense de Filipe Coelho, que já o tinha debaixo de olho. “Observei-o e chamou-me à atenção na fase final do campeonato de juniores. Ele jogou a avançado e creio que até foi o melhor marcador do Benfica nessa fase”, recordou ao MaisFutebol.


No Ribatejo, Alfa foi titular indiscutível. “Creio que só falhou um jogo. Começou a jogar a ‘8’ comigo e algumas vezes a ‘6’, mas mais vezes na posição ‘8’. O que saltava logo à vista? Já tinha uma capacidade física acima da média, era um jogador muito focado no treino e com níveis competitivos muito elevados. Via-se que tinha uma margem de progressão enorme e potencial para estar ao nível de uma I divisão, mas talvez não esperasse que ele tivesse uma ascensão tão rápida. Confesso que me surpreendeu o facto de o professor Manuel Machado ter apostado tão cedo num miúdo com 19 anos”, lembrou Filipe Coelho.

“Ele podia estar no CNS, mas sabia que queria sair dali rapidamente. Cheguei a conversar com ele porque podia ter ficado abalado pela forma como saiu do Benfica. Depois de ser o melhor marcador da equipa de juniores, era normal que achasse que podia ficar na equipa B. Mas ele não se deixou abalar minimamente, até porque confiava muitos nas próprias capacidades e sabia que tinha, mas do que potencial para chegar à Liga”, contou o treinador.












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