sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A minha primeira memória de… um jogo entre Benfica e Sp. Braga

Tiago, Dani, Barroso e Poborsky no duelo de outubro de 2000
Ainda o Sp. Braga não era o Sp. Braga que é hoje na única época em que ficou à frente do Benfica no campeonato, em 2000/01, quando fechou a I Liga no quarto lugar e as águias em sexto, a pior classificação de sempre dos encarnados. E foi precisamente o primeiro duelo entre ambas as equipas nessa temporada, no antigo Estádio da Luz a 2 de outubro de 2000, o primeiro encontro de que tenho memória entre benfiquistas e bracarenses.

Numa fase em que o campeonato estava apenas na 6.ª jornada, ainda se estava longe de se imaginar que os encarnados, então orientados por José Mourinho, terminassem em posição tão baixa, apesar do mau arranque. Já a formação orientada por Manuel Cajuda, por alguns considerado o pai do Sp. Braga atual, tinha entrado nessa ronda como líder isolado.


Recordava-me do resultado (2-2), de Miki Fehér ter marcado pelo menos um golo nesse jogo e de, nos dias a seguir, se ter falado muito do capitão benfiquista Calado e na sua alegada relação homossexual com o cantor Melão. O que já me tinha esquecido era da marcha do marcador e de outras peripécias.

Comecemos pelo início. Para esse encontro, poucos dias após a surpreendente eliminação europeia aos pés dos suecos do Halmstads, Mourinho decidiu fazer estrear o jovem lateral esquerdo Diogo Luís, então com 20 anos. Ainda hoje, o agora comentador televisivo permanece como um dos poucos jovens da formação que o treinador setubalense promoveu e apostou verdadeiramente durante a carreira.



Quanto ao jogo em si, disputado numa segunda-feira e transmitido pela SIC – com Jorge Jesus nos comentários (!) - como era hábito dos jogos do Benfica durante aquele período de viragem do milénio, foi o Sp. Braga que inaugurou o marcador, aos 35 minutos, por Fehér, que haveria de jogar de águia ao peito duas épocas depois. Na sequência de uma perda de bola de… Calado, Edmilson serviu o avançado húngaro, que rodou à entrada da área e bateu Enke.


Em desvantagem ao intervalo, Mourinho promoveu uma dupla alteração, fazendo entrar Chano e Sabry e deixando nos balneários Miguel e… Calado. Na altura, o capitão encarnado estava a viver dias de pesadelo, depois de ter sido insinuada pelo semanário Crime uma alegada relação homossexual com o cantor Melão (a que foi dado o título “um grego calado com cabeça de melão”). O boato cresceu, Manuel Serrão escreveu um artigo no jornal O Jogo com o título “Calado que nem um melão”.

O jogador, que na semana anterior chegou a envolver-se fisicamente com adeptos que o mimosearam com algumas piadas no fim de um treino no Estádio da Luz, voltou a ser massacrado com impropérios, mas em pleno jogo. Segundo se escreveu na altura, Calado não aguentou a pressão e, ao intervalo, ainda antes de Mourinho entrar no balneário, desequipou-se e apresentou a sua substituição como um facto consumado, passando por cima da autoridade do treinador e colocando-se numa posição complicada, como capitão. "Naquele jogo tive de ouvir de tudo. Os adeptos descarregaram em mim o desagrado com o resultado. Chamaram-me todos os nomes. Foi horrível. Não aguentei", confirmou anos depois.

Após o final da partida, Calado dirigiu palavras duras ao então presidente Vale e Azevedo, foi alvo de um processo disciplinar, entrou num período de depressão e equacionou não voltar a jogar futebol. Acabou por voltar à equipa quase um mês depois, mas no final da temporada rumou ao Betis de Sevilha e não mais regressou ao futebol português.

Voltando ao encontro, o Benfica conseguiu operar a reviravolta por intermédio dos seus goleadores nessa época, João Tomás (62 minutos) e o holandês Pierre van Hooijdonk (77’), ambos de cabeça. O primeiro após cruzamento de Sabry pela esquerda, o segundo de Poborsky pela direita. No entanto, os bracarenses chegariam ao empate no minuto 90, pelo central Artur Jorge, na recarga a um disparo de meia distância de Barroso que embateu no poste da baliza de Enke.

Na segunda volta, no mítico Estádio Municipal 1.º de Maio, os arsenalistas venceram por 3-1, com golos de Luís Filipe (2’ e 84’) e Zé Roberto (22’) contra um de João Tomás (9’).





















E para o caro leitor, qual foi o primeiro jogo entre Benfica e Sp. Braga de que tem memória? E quais foram os melhores e mais marcantes jogos entre as duas equipas?



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