Eu construindo um puzzle do Sporting campeão 1999-2000 |
A minha primeira memória de ver o
Sporting
campeão foi o clique que me fez tornar adepto (fervoroso) de futebol. Estávamos
em 2000, tinha oito anos, andava no 2.º ano e o futebol passava-me um pouco ao
lado. Dizia-me sportinguista
porque o meu pai também o era, conhecia menos de uma mão cheia de futebolistas
em todo o mundo e não acompanhava minimamente o campeonato português nem os
desempenhos da seleção nacional. E quando o meu pai me levava a ir ver um jogo
ao vivo ao Estádio Alfredo da Silva ou ao Dom
Manuel de Mello, casas de Quimigal
(antiga CUF e atual Fabril) e Barreirense,
passava os jogos distraído com alguma coisa que não o que ia acontecendo dentro
das quatro linhas. Naquela altura, entusiasmava-me mais o Dragon Ball, os Power Rangers,
o Buéréré ou o Big Show SIC.
Na minha turma todos tinham os
seus clubes, mas o futebol raramente era tema de conversa. No entanto, a 18 de
março de 2000 deu-se um momento de viragem. Na receção ao pentacampeão e líder FC
Porto, o Sporting
venceu e saltou para a liderança, a oito jornadas do fim. Onde os leões
costumavam fraquejar, aparentemente tinham dado uma prova de força. O título
nacional que fugia há 18 anos parecia estar ao alcance.
Talvez por o Benfica
também andar pelas ruas da amargura – não era campeão desde 1994, quando eu e
os meus colegas tínhamos um ou dois anos – e por o FC
Porto ter uma expressão diminuta no Barreiro
(onde eu vivia), gerou-se um enorme entusiasmo. Alguns benfiquistas
tornaram-se mesmo sportinguistas,
os sportinguistas
passaram a acompanhar o futebol e o desporto-rei passou a ser tema dominante
nas conversas, sobretudo nas derradeiras jornadas do campeonato.
O desfecho do dérbi
de Alvalade atirou a decisão para a última jornada, que tinha visita do Sporting
à casa do Salgueiros,
o mítico Vidal Pinheiro – já o FC
Porto, que estava a apenas um ponto dos verde
e brancos, ia
a Barcelos defrontar o melhor Gil Vicente da história.
Ao intervalo, registava-se um
empate a zero em Paranhos, mas o
resultado de Barcelos nunca foi favorável aos dragões. Na segunda parte,
talvez sabendo que o
rival estava a perder no terreno do Gil Vicente, o Sporting
de Augusto Inácio construiu a goleada que lhe deu a vitória e o título. André
Cruz abriu o caminho aos 47 minutos, na execução de um livre direto. Ayew
aproveitou uma bola perdida na área para fazer o 0-2 logo a seguir (51’). Duscher,
desmarcado na área, fez o terceiro para os leões
(75’). E André Cruz voltou a marcar de livre direto, colocando a cereja no topo
do bolo (88’).
Seguiu-se uma enorme festa. Além
da conquista do título, era anunciado o fim de um jejum que durava há 18 anos.
E eu tinha apenas oito e assim que começo a ver futebol o Sporting
sagra-se logo campeão. Acho que só alguns anos depois é que tive a noção do
quão longa foi a espera.
Lembro-me de ter ido à rua com o
meu pai para ver a festa que estava a acontecer junto à nossa praceta, com
carros atrás de carros a passar, com sportinguistas
a buzinar, cantar e erguer cachecóis.
Tendo em conta a minha tenra
idade e o facto de ser domingo, durou pouco a minha ida à rua. Fui para casa dormir
que no dia a seguir era dia de escola. E também era dia de trabalho para o meu
pai, que embora fosse um militar pouco dado a efusividades, nessa noite de 14
de maio não resistiu à tentação e foi para o velhinho Estádio José Alvalade
esperar os campeões. Terão estado cerca de 60 mil pessoas no reduto leonino.
Delfim com alguns dos pósteres de 1999-2000 |
Nas semanas que se seguiram, fui
colecionando recortes de revistas com o balanço da época sportinguista.
Foi aí que conheci verdadeiramente os jogadores do Sporting,
entre os quais o experiente guarda-redes dinamarquês Peter Schmeichel, o
central Beto que era a prata da casa, o raçudo médio argentino Aldo Duscher, o
tecnicista pastelão Pedro Barbosa, o matador
Beto Acosta e os importantes reforços de inverno André Cruz, César Prates e Mbo
Mpenza.
Também não faltaram pósteres.
Aliás, arrisco dizer que nunca vi uma equipa portuguesa com direito a tantos
pósteres em revistas e jornais como esse Sporting
de 1999-2000. É raro o núcleo sportinguista
que não tenha um póster dessa equipa nas suas paredes.
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