segunda-feira, 8 de novembro de 2021

João Fidalgo. O prazer em colocar o Nacional na Europa e o interesse tardio de Angola

João Fidalgo representou Nacional na I Liga
Antigo defesa central, nasceu em Angola, mas fez quase toda a carreira na ilha da Madeira, tendo-se destacado com a camisola do Nacional, ajudando o clube a ascender meteoricamente desde a II Divisão B à I Liga e a alcançar o primeiro apuramento para as competições europeias.
 
Em entrevista, João Fidalgo aborda o o tardio interesse da seleção angolana nos seus serviços, explica o que levou os nacionalistas a cresceram tanto na primeira década do século XXI e a perderem protagonismo nos últimos anos e fala sobre a crise do Marítimo e os antigos companheiros de equipa Costinha, Rúben Micael e o irmão mais novo Miguel Fidalgo.
 
ROMILSON TEIXEIRA - Quando falamos em João Fidalgo, a principal memória das pessoas será do central que jogava na I Liga com a camisola do Nacional. Quais são as principais recordações que tem desses tempos?
JOÃO FIDALGO - Boas recordações, a nível futebolístico e pessoal. Era um central com um perfil diferente de muitos outros, muito rápido e tinha uma raça dentro de campo que muitas vezes até exagerava. Lembro-me de até nos treinos ter alguns problemas com os meus colegas. Levava o futebol muito a sério, mas sempre sem maldade.
 
No Nacional saiu da II Divisão B em 2000 e entrou na I Liga dois anos depois, tendo feito parte dessa ascensão meteórica. Foram os melhores anos da sua carreira?
Quando falamos em melhores momentos, são aqueles em que nos sentimos realizados quando atingimos os nossos objetivos. Subir de divisão por quatro vezes foi surreal.
 
O João Fidalgo contribuiu para o primeiro apuramento do Nacional para as competições europeias e chegou inclusivamente a ser convocado para jogos da Taça UEFA. O que sentiu ao ajudar a colocar na Europa um clube que anos antes estava a representar na II Divisão B?
Senti um grande e enorme prazer em colocar o Nacional nos lugares europeus, tendo sido titular em quase todos os jogos da I Liga.
 
O Nacional tornou-se numa das principais equipas portuguesas no século XXI, carimbando vários apuramentos para as competições europeias. O que proporcionou essa ascensão do clube?
Um clube, independentemente de qual seja, tem que ter um presidente e seus colaboradores organizados e profissionais. A partir daí conseguimos fazer grandes plantéis, foi o que aconteceu no Nacional.
 

“Crise do Nacional? Mudança constante de treinadores e jogadores nunca é boa”

João Fidalgo com a camisola do Nacional em 2002-03
Na Choupana, o Nacional era uma equipa bastante difícil de bater. Mesmo os três grandes perdiam muitos pontos no terreno dos madeirenses. O que fazia dos nacionalistas uma equipa tão difícil de bater em casa?
As equipas sentiam muita dificuldade pela altitude em que o nosso estádio se encontrava e pelos adeptos quase em cima das quatro linhas. Era impressionante, sentiam dificuldades em respirar, e nós, com as grandes equipas que tínhamos, com bom futebol e sempre com o objetivo de fazer golo, rapidamente conseguíamos concretizar.
 
Por outro lado, o Nacional tem vindo a perder algum gás nos últimos anos, estrando presentemente a militar na II Liga. O que, no seu entender, contribuiu para esta perda de protagonismo?
A mudança constante de treinadores e de jogadores nunca é boa para um clube, tens que começar tudo de novo, mas sabe como é, quando não aparecem resultados há que fazer alguma coisa, e nos últimos anos o Nacional esteve à procura de estabilidade.
 

“É triste ver o Marítimo a lutar pela permanência”

Também a outra equipa madeirense habituada à I Liga, o Marítimo, tem vindo a passar por mais dificuldades, quando nas décadas anteriores era um crónico candidato às competições europeias. Sente que o que afeta Nacional e Marítimo é transversal ou são realidades distintas?
Sim, as realidades dos dois clubes são diferentes. o Marítimo sempre foi um clube candidato as competições europeias, já está na I Liga há muitos anos e está a passar um momento menos bom nestas últimas épocas. É triste vê-los a lutar neste momento para se aguentarem na I Liga, mas acho que vão ultrapassar esta fase.
 
João Fidalgo com Costinha e Bruno no Machico
No Nacional e também no Machico foi companheiro de equipa de Costinha, na altura na II Divisão B. Naquela altura, já via potencial nele para atingir o nível que veio a atingir como jogador?
O Prof. José Moniz é que o levou para a Madeira. Era um jogador muito duro, ocupava bem os espaços dentro de campo e tinha uma visão de jogo fora do normal. Sabíamos que seria só́ essa época em que ele ia ficar. Foi para o Nacional na época seguinte e depois seguiu para grandes clubes.
 
No clube da Choupana foi orientado por José Peseiro, o treinador que levou o Nacional da II Divisão B para a I Liga. Foi o grande obreiro dessa ascensão meteórica? Como era ele na altura?
O José Peseiro foi realmente importante e decisivo para o sucesso do Nacional na altura. É um treinador formado em educação física, com uma capacidade de comunicação muito boa, muito inteligente e conseguia pôr as equipas por onde passava a jogar um futebol rápido e interessante.
 
Em 2005-06 jogou ao serviço do Moreirense na II Liga. Como correu a época e o que achou do clube?
No Moreirense a época não correu nada bem. Tínhamos um plantel recheado de grandes jogadores, mas descemos de divisão. Tivemos três treinadores durante a época.
 

Seleção angolana? Fiquei a pensar no porquê de não me convidarem mais cedo”

Tendo em conta que jogou vários anos nas ligas profissionais portuguesas, o que faltou para se ter tornado internacional angolano? Alguma vez houve essa possibilidade?
Na época em que estava no Moreirense tive a presença de um senhor que trabalhava na Federação Angolana, que foi lá falar comigo para ver se eu estava interessado em representar o meu país. Achei que na altura não reunia as melhores condições físicas e pessoais para estar no seio da seleção, mas fiquei alguns anos a pensar no porquê de não me convidarem mais cedo, quando eu estava em melhor condição, nos anos em que andei na I Liga. Até fiquei surpreendido, mas a vida é assim, não fico aborrecido com ninguém, mas acho que não fizeram o trabalho de casa.

 
Voltemos atrás no tempo, o João Fidalgo nasceu em Angola. Como foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Cheguei a Portugal uns anos depois e só comecei a jogar federado aos 10 anos. Na escola jogávamos nos intervalos, depois fazíamos jogos entre amigos até chegar aos infantis do Caniçal.
 
Começou a jogar futebol nas camadas jovens do Caniçal, tendo depois também passado pelo Machico. Que recordações tem desse início de trajeto futebolístico?
Foi bom, nas camadas jovens levamos o futebol como a escola, a divertirmo-nos e a fazer o que mais gostamos.
 
Mais tarde, já numa fase adianta da sua carreira, vestiu a camisola da União da Madeira. Como correram as duas épocas que passou na União?
Na primeira época em que joguei no União quase subimos de divisão. No final do campeonato fomos a uma fase final de dois jogos, um em casa e outro fora com o Freamunde, mas não conseguimos. Já a segunda época não correu muito bem, ficámos em 3.º lugar.
 
João Fidalgo com Rúben Micael no União da Madeira
No União da Madeira foi companheiro de equipa de Rúben Micael na II Divisão B. Naquela altura acreditava que ele viria a atingir o nível que veio a atingir?
O Rúben Micael é um jogador muito tecnicista. Já notávamos pela sua postura em campo, que tinha uma capacidade de passe curto e longo muito a cima da média para a sua idade. Mais cedo ou mais tarde sairia dali para um grande clube.
 
No União também teve como companheiro de equipa Edgar Costa, atual capitão do Marítimo. Como tem visto a carreira dele?
O Edgar é um de muitos prodígios que a Madeira forneceu ao futebol português, às vezes é preciso também fazer as melhores escolhas e ter um pouco de sorte no futebol.
 
Jogou com o seu irmão mais novo, Miguel Fidalgo, no Nacional e no União da Madeira. Qual foi o sentimento?
Ter o meu irmão na mesma equipa é um privilégio. Além de ser meu irmão, companheiro dentro e fora de campo, tinha uma qualidade futebolística superior, com muita classe em fazer golos que nos ajudavam muito.
 
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogadores com os quais jogou.
O onze ideal não é fácil de fazer, porque joguei com muitos jogadores de classe. Mas posso dar o nome de alguns: Nuno Carrapato, Patacas, Ávalos, Rossato, Paulo Assunção, Alexandre Goulart, Carlos Álvarez, Adriano, Miguel Fidalgo e Bruno, entre outros.
 
E que treinadores mais o marcaram e porquê?
Alguns treinadores marcam sempre o teu percurso, tanto nas camadas jovens como em seniores. José Peseiro claro que foi um treinador com o qual eu estava sempre nos seus eleitos para ajudar a equipa e Casemiro Mior foi o treinador que nos levou à Europa e ao quarto lugar da I Liga.
 
O que tem feito desde que deixou de estar ligado ao futebol?
Antes de ser profissional de futebol trabalhava na construção, ramo que deixei para seguir a minha carreira de futebolista. Quando terminei, aos 37 anos, voltei a trabalhar. Neste momento estou a exercer aqui no Canadá.
 
Costuma acompanhar o futebol angolano? Como analisa o nível e qualidade do Girabola e da seleção angolana?
O Girabola acompanhava pouco. A seleção sim, acompanhei durante os picos mais altos da sua história. Tínhamos qualidade, mas desde que vim para o Canadá fiquei um pouco afastado do futebol.
 
Entrevista realizada por Romilson Teixeira












1 comentário:

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