Luisão em disputa de bola com norte-americano Onyewu |
A minha primeira memória de um jogo entre o Benfica e uma equipa belga remonta a 2003, numa altura em que as águias vinham de dois anos seguidos sem competir nas competições europeias. Em 2003-04, os encarnados começaram por disputar o acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões, mas sucumbiram perante a Lazio, perdendo tanto em Roma como no… Bessa. Sim, Bessa, porque a nova Luz estava a ser construída e o Jamor supostamente não teria condições para receber o jogo europeu.
Relegada para a Taça
UEFA, a formação benfiquista
teve pela primeira vez os belgas do La Louvière, um clube modesto que não tinha
somado mais do que meia dúzia de presenças na I Liga Belga até então. Na época
anterior les loups [os lobos]
estiveram perto de descer de divisão, porém, venceram a Taça da Bélgica e por
isso asseguraram o primeiro apuramento europeu de sempre.
Na equipa belga, ainda assim,
militavam alguns jogadores que ainda fizeram uma carreira minimamente
interessante, como o guarda-redes belga Silvio Proto, o central norte-americano
Oguchi Onyewu (que viria a representar o Sporting)
e o atacante nigeriano
Peter Odemwingie. No comando técnico estava Ariël Jacobs, antigo selecionador
sub-21 da Bélgica e que anos depois viria a orientar Anderlecht
e Copenhaga.
Já o Benfica
começava a construir a equipa que na época seguinte viria a tornar-se campeã
nacional. Com José Antonio Camacho no banco, havia Moreira na baliza, Miguel,
Luisão, Argel e Ricardo Rocha na defesa, Petit (e Tiago no meio-campo),
Geovanni e Simão nas alas e Nuno Gomes no ataque. Porém, o avançado
internacional português começou a época como suplente, face à boa forma da
dupla composta pelo croata Tomo Sokota e o húngaro
Miki Fehér.
Na primeira-mão, em Charleroi,
houve empate a um golo. Marcou primeiro o La Louvière, à passagem do primeiro
quarto de hora, por Odemwingie, na sequência de um passe errado de Sokota e de
uma fífia de Luisão, que deixou o avançado nigeriano
na cara de Moreira.
As águias
chegaram à igualdade no início da segunda parte, por Simão Sabrosa, que
apareceu ao segundo poste para desviar um cruzamento de Miguel, que combinou bem
com Geovanni no corredor direito (53’).
No dia seguinte, o Record
mostrou-se bastante crítico para com a exibição do Benfica.
“Um Benfica
com tendências suicidas, a viver com permanente tentação pelo precipício,
salvou o essencial de uma noite surpreendentemente tormentosa e na qual chegou
a estar muito próxima do colapso total. E salvar o essencial neste caso
significa não ter perdido, ou seja, levar a decisão da eliminatória para um
segundo confronto. A primeira parte da atuação encarnada
no relvado de Charleroi foi simplesmente inacreditável, a rondar a vergonha
pura e simples. Esta é a verdade. O Benfica
foi uma equipa macia, sem alma, que perdeu em todos os capítulos do jogo para
um adversário entusiasmado e ciente, a cada minuto que passava, de que podia
estrear-se a ganhar nas competições europeias”, referia a crónica
do jogo.
Na segunda-mão, no Bessa, o Benfica
também não deslumbrou, mas conseguiu uma vitória que lhe permitiu seguir em
frente na competição. Camacho só operou uma alteração no onze, colocando em
campo Hélder no lugar de Luisão, mas foi o malogrado Miki
Fehér quem resolveu o jogo, com um fantástico remate de pé esquerdo. Sempre
que o húngaro é recordado em algum vídeo, são passadas as imagens deste golo. Aconteceu
ao minuto 58 e bastou para apurar os encarnados
para a segunda eliminatória.
“Vinte minutos de um empolgamento
sempre recalcado e só descoberto no balneário, ao intervalo, foram suficientes
ao Benfica
para bater o La Louvière, passar a eliminatória e, não menos importante, dar
uma satisfação aos adeptos. Tudo surpreendente: a entrada displicente e
desinspirada, por um lado; a revolta posterior transformada em assalto à baliza
belga, por outro. Na noite em que o Benfica
voltou a ter alegrias na Europa, Nuno Gomes regressou aos relvados após cinco
meses de ausência”, escreveu o Record.
[O golo de Fehér
a partir dos 3:13]
O La Louvière não voltou a participar
nas competições europeias. Em 2006 foi despromovido, num ano em que foi
protagonista de um dos maiores escândalos de sempre do futebol belga, devido a manipulação
de resultados. E em 2009 fundiu-se com o RACS Couillet para formar o Football
Couillet La Louvière, que em 2011 mudou o nome para UR La Louvière Centre.
Porém, ainda não conseguiu voltar à ribalta.
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