Anunciado na semana passada como
reforço do Sporting,
proveniente do Betis, Zouhair Feddal vai dar continuidade a uma história ainda
curta e recente de jogadores marroquinos em Alvalade,
porém. Isto porque iniciou a meio da década de 1990 e resumia-se até agora a
uma mão cheia de futebolistas, entre os quais um campeão e um vencedor de uma Taça
de Portugal e uma Supertaça Cândido de Oliveira.
Tudo começou no verão de 1994. Os
leões
já não venciam o campeonato
há 12 anos e não levantam troféus há sete. O verão quente do ano anterior tinha
levado Paulo Sousa e Pacheco o Benfica
pelo Sporting,
mas ainda assim foram as águias
a sagrarem-se campeãs.
Naybet |
O presidente Sousa Cintra e o
treinador Carlos Queiroz procuravam um central para colmatar a iminente saída do
central holandês Valckx recrutaram o central Noureddine Naybet, que tinha acabado de disputar o Mundial dos
Estados Unidos pela seleção de Marrocos, jogava no Nantes e dois antes tinha
conquistado a Liga dos Campeões de África ao serviço do WAC Casablanca.
Em Alvalade,
Naybet chegou, viu e venceu, afirmando-se como titular indiscutível no eixo
defensivo desta a primeira hora, tendo formado uma dupla sólida com Marco Aurélio.
Duro, muito difícil de
ultrapassar e com um feitio nada fácil, disputou um total de 73 jogos, marcou
seis golos e venceu a Taça
de Portugal em 1994-95 e a Supertaça 1995 durante os dois anos em que
vestiu a camisola verde
e branca. Para muitos, é ainda hoje considerado um dos melhores centrais a
jogar de leão
ao peito.
Valorizado, saiu para o Deportivo
da Corunha por 1,6 milhões de euros e ajudou os galegos a conquistarem um
inédito título espanhol em 1999-00.
Hadji |
Logo após a saída de Naybet, o Sporting
recrutou o médio ofensivo Mustapha Hadji
aos franceses do Nancy no verão de 1996. Tal como o compatriota, pegou imediatamente
de estaca, tornando-se imediatamente titular indiscutível numa equipa que
haveria de se sagrar vice-campeã nacional e assegurar o apuramento para a Liga
dos Campeões em 1996-97, algo que os leões
ainda não tinham conseguido desde a mudança de formato em 1992.
Entre agosto de 1996 e dezembro
de 1997 disputou um total de 52 jogos e marcou oito golos com a camisola verde
e branca, tendo exibido grande qualidade. “Ficou no meu coração. Aprendi
muito e isso ajudou-me ao longo da carreira. Quando se passa por um grande
clube, como o Sporting,
fica-se preparado para jogar em qualquer equipa do mundo. Ainda hoje, quando
falo com sócios ou adeptos do Sporting,
continuo a dizer-lhes que sou um leão!
Continuei a ser um leão
na maneira de jogar e de pensar o futebol, mesmo depois de ter saído”, afirmou,
em entrevista ao Record,
em fevereiro de 2014.
Depois pediu um aumento avultado
de ordenado e acabou por transferir-se de forma litigiosa para o Deportivo da
Corunha, onde foi companheiro de equipa de Naybet. “Não é isso o que guardo da
minha passagem pelo Sporting,
antes as pessoas com quem trabalhei e que me trataram como família. Havia uma
cláusula no meu contrato que me permitia sair. Não me arrependo do que fiz,
embora a minha vontade fosse levar o contrato até ao fim. Falei com o Norton de
Matos [diretor-desportivo à data]. Ele sabia que eu tinha o convite do Depor.
Não queria ter saído daquela forma. Queria melhores condições, é verdade.
Recebi a proposta do Depor, falei com o Sporting
antes de tomar a decisão, para ver se era possível continuar, mas o clube não
quis. Eu era jovem, não tinha advogado, não falava português. Foi difícil.
Quando um clube quer que um jogador fique, tenta conversar. Mas não vi essa
vontade no Sporting
e havia outro clube a pressionar para que saísse”, explicou.
Em 1998 haveria de viver um
grande ano, ao disputar CAN e Mundial e ao ser distinguido como melhor futebolista
africano do ano.
Saber |
Hadji ainda jogava no Sporting
quando em fevereiro de 1997 recebeu a companhia do compatriota Abdelilah Saber, lateral direito
proveniente do WAC Casablanca que haveria de passar pouco mais de três anos com
Alvalade.
Na primeira época e meia Luís
Miguel e Quim Berto deram-lhe poucas possibilidades para jogar, mas o defesa
reapareceu forte após o Mundial 1998, no qual foi titular nos três jogos que
Marrocos disputou.
Em 1998-99 e na primeira metade
da temporada seguinte foi titular indiscutível no onze leonino,
mas a convocatória para o CAN 2000 e a contratação de César Prates relegaram-no
novamente para segundo plano. Ainda assim, fez o que Naybet e Hadji não
conseguiram: sagrar-se campeão nacional, ajudando o Sporting
a quebrar em 2000 um longo jejum de 18 anos.
Depois transferiu-se para o
Nápoles, primeiro por empréstimo e depois a título definitivo, rendendo 2,5
milhões de euros aos cofres sportinguistas.
Kharja |
Na altura em que Saber saiu do Sporting,
entrou Houssine Kharja, um médio
formado no Paris Saint-Germain e no Gazélec Ajaccio que chegou a Alvalade
no verão de 2000. Porém, o centrocampista marroquino não passou da equipa B,
pela qual disputou 28 jogos e marcou quatro golos em 2000-01.
Embora tenha tido uma passagem
discreta por Lisboa, Kharja fez uma carreira bastante interessante, tendo
jogado em clubes como AS Roma, Génova, Inter de Milão, Fiorentina, Sochaux e Steaua
Bucareste.
Labyad |
Depois de quatro marroquinos no
espaço de meia dúzia de anos, foi preciso até esperar até 2012 para o Sporting
chegar à mão-cheia, quando contratou o médio ofensivo/extremo Zakaria Labyad, então uma grande
promessa que saiu de forma litigiosa do PSV Eindhoven, aos 19 anos, tendo sido
desde logo blindado com uma cláusula de rescisão recorde de 50 milhões de
euros. Pela transferência, o emblema
leonino acabou por pagar 3,5 milhões de euros: 900 mil euros ao PSV e 2,61
milhões de euros em “gastos inerentes à aquisição do jogador”.
Embora tivesse estado ligado
contratualmente aos leões
durante quatro anos, só jogou pela equipa principal no primeiro. Em 2012-13
disputou 27 jogos e marcou três golos, numa temporada de má memória para os verde
e brancos, que terminaram o campeonato
em sétimo lugar, a pior classificação de sempre da história do clube.
Nas duas épocas que se seguiram
esteve emprestado aos holandeses do Vitesse, até porque a direção de Bruno
de Carvalho o considerava demasiado caro, com um salário que ultrapassava o
teto salarial imposto. Em 2015-16 voltou a Alvalade,
mas só jogou pela equipa B, tendo sido cedido aos ingleses do Fulham na segunda
metade da temporada.
Em junho de 2016 rescindiu
contrato e meio ano depois voltou à Holanda para representar o Utrecht.
“O Sporting
‘é só isto’: Cristiano
Ronaldo, Nani, Figo... A lista de grandes jogadores formados naquele clube
é tremenda. O próprio campeonato
português tem ajudado a evoluir e a dar a conhecer grandes jogadores. O
Casemiro cresceu no FC
Porto antes de se afirmar no Real Madrid. Cheguei a jogar com o João
Mário na equipa B e agora ele está no Inter Milão, que pagou 45 milhões
para o contratar. Não me arrependo de ter ido para o Sporting
nem por um segundo”, afirmou à Voetbal
International, em dezembro de 2017.
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