sábado, 4 de maio de 2019

Fábio Faria: "Tinha medo de adormecer, porque pensava que podia não acordar"

Fábio Faria, ex-jogador do Benfica e do Rio Ave
Fábio Faria estava emprestado pelo Benfica ao Rio Ave e era uma promessa do futebol português quando, aos 22 anos, caiu inanimado nos últimos minutos de um Rio Ave-Moreirense. Esse jogo, a 4 de fevereiro de 2012, foi o último que disputou. "No meu caso foi uma arritmia. O meu coração disparou, estava a 300 batidas por minuto, e só soube no dia a seguir, quando já estava nos cuidados intensivos. Na altura, desmaiei, perdi os sentidos e foi com o desfibrador que acordei. Pelo que já vi, a situação do Iker foi diferente", contou o antigo defesa, 30 anos, ao DN.


Na altura, os médicos não lhe "disseram nada" relativamente à continuidade no futebol, mas foi pela imprensa que se foi apercebendo dessa possibilidade. "O que veio nos jornais é que a minha carreira estava em risco e que podia não voltar a jogar. Mas só passados seis ou oito meses, depois de vários exames, estudos eletrofisiológicos e cateterismos, é que tomei a decisão de não voltar a jogar. Os médicos fizeram tudo para eu voltar a jogar, mas optei por não regressar", recordou o atual treinador adjunto da equipa B do Rio Ave.

"O médico que me operou disse-me o que se podia passar e que as coisas não iam ser fáceis. Estava a treinar à parte, com esperança de voltar a jogar, mas passados seis ou sete meses tive outro episódio. Caí inanimado enquanto corria com o meu pai e quando acordei decidi que não ia voltar a jogar, para não andar com a minha vida sempre em risco. Queria ter uma vida normal", acrescentou, aconselhando Iker Casillas para que, em caso de dúvida, faça o mesmo: "O mais importante é estarmos aqui a respirar e estarmos com a nossa família. Na dúvida, mais vale abdicar dos nossos sonhos e estar com a nossa família."

Quase sete anos depois, confessa, o enfarte de miocárdio sofrido pelo guarda-redes do FC Porto fê-lo puxar a cassete atrás. "Estava a aspirar a sala com a televisão ligada quando vi a notícia do Casillas. Fez-me lembrar de muita coisa, do que passei e do que ele deve estar a passar. Sentimo-nos impotentes, não podemos fazer nada. Na altura fiquei um bocado baralhado, porque não sabemos o que nos aconteceu. E depois quando as notícias vêm a público e sabemos que é um problema cardíaco, é sempre muito complicado", frisou, confessando que a situação o deixou traumatizado durante três anos: "Na altura tinha medo de adormecer, porque pensava que podia não acordar. Tinha medo de subir escadas, foi muito difícil. Tive de recorrer a um psicólogo e a um psiquiatra para me ajudarem a resolver este problema."

Hoje, Fábio Faria diz ter uma "vida perfeitamente" normal, na qual se inclui atividade física, e que apenas toma "todos os dias um comprimido para baixar o ritmo cardíaco". "Não posso é ser atleta de alto rendimento", afirmou o defesa formado no FC Porto e no Rio Ave.

Embora se tenha retirado com 23 anos, acredita que não lhe custou mais abandonar os relvados do que, se for caso disso, a Iker Casillas, que está prestes a completar 38. "Não há idades para custar menos ou custar mais. Obviamente que eu estava no início da minha carreira, custou-me muito, mas também deve estar a custar muito ao Casillas, pela carreira que tem e pelo jogador e ícone do futebol que é. Não é a melhor forma de terminar a carreira", rematou, frisando a sorte que ele e o espanhol tiveram em ter acordado.
















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