Quis o destino que Iker
Casillas se tornasse um dos melhores guarda-redes do mundo e que rumasse a
Portugal década e meia depois, mas nada disso era assim no verão de 2000,
quando o conheci através da televisão. Nessa altura, eu era um miúdo de oito
anos que começava a acompanhar futebol. O guarda-redes
espanhol tinha 19 e já era o dono da baliza do Real Madrid.
O Real Madrid era, aliás, um
clube que na altura merecia bastante atenção mediática em Portugal, devido à
então recente e chocante contratação de Luís Figo ao Barcelona. Além disso, os merengues eram os campeões europeus e defrontaram
por três vezes o Sporting no espaço de poucos meses. Casillas,
até por foneticamente se assemelhar a Cacilhas, localidade do concelho de
Almada, foi um dos nomes dos blancos que fixei, tal como Míchel Salgado, Iván
Campo, Roberto Carlos, Munitis ou Raúl.
Embora tivesse a responsabilidade
de defender as redes de um clube como o colosso da capital espanhola, Casillas
não era propriamente um guarda-redes que inspirasse grande confiança. Tinha
cara de menino e, apesar dos reflexos apurados, ainda estava verde e essa
inexperiência notava-se em várias situações no jogo. Até por não ser muito alto
(1,82 m), as saídas aos cruzamentos foram sempre um calcanhar de Aquiles.
A primeira vez que tomei
conhecimento da existência dele foi num jogo de pré-época entre o Sporting e o
Real Madrid, a 9 de agosto de 2000, no velhinho Estádio José Alvalade. A
formação então orientada por Augusto Inácio venceu por 2-1, com um golo de
André Cruz de livre direto (17 minutos) e outro de Acosta (35’), ambos na
primeira parte, enquanto Roberto Carlos reduziu para os merengues no início da segunda (52’).
Um
mês depois, novo confronto entre as duas equipas, no mesmo palco, mas desta vez
a contar para a 1.ª jornada da Liga dos Campeões. Eu, que começava a ver
futebol nessa altura, até fiquei com razões para acreditar que havia jogos
iguais ou, pelo menos, muito parecidos. Tudo isto porque o Sporting também
chegou ao intervalo a vencer por 2-0, com golos de Ricardo Sá Pinto (39’), que
tal como Beto foi apontado como possível reforço do Real Madrid nesse defeso, e
de André Cruz… de livre direto (42’). Sim, Casillas
sofreu dois golos muito parecidos do central brasileiro em menos de um mês, o
que ilustra um pouco a tal inexperiência que ostentava. Entretanto, diga-se, o
Real Madrid chegou ao empate no decorrer da segunda parte.
Com o experiente César na sombra,
a irregularidade de Casillas
iria causar-lhe a perda da titularidade na segunda metade da época seguinte. Foi
na condição de suplente que o então jovem guarda-redes viveu as últimas 11
jornadas do campeonato espanhol e os jogos da fase a eliminar da Liga dos
Campeões. Porém, na final da Champions com o Bayer Leverkusen, uma lesão de
César a 25 minutos do fim levou à entrada de Casillas,
que brilhou entre os postes e segurou a vitória que valeu o nono título
continental para os blancos.
Em termos de seleção nacional, Casillas
esteve no Euro 2000, ainda com 19 anos, mas não chegou a ir a jogo. Na altura,
o dono da baliza de Espanha era o louro oxigenado Santiago Cañizares, do
Valencia. O guarda-redes dos valencianos manteve a titularidade durante a
qualificação para o Mundial
2002, mas uma lesão contraída enquanto fazia a barba afastou-o do torneio.
Aproveitou Casillas,
que defendeu duas grandes penalidades no desempate por penáltis diante da
República da Irlanda nos oitavos de final e ganhou aí a alcunha de San
Iker.
Duas lesões de companheiros de
posição abriram-lhe as portas, Casillas
agarrou as oportunidades e tornou-se um guarda-redes icónico do Real Madrid e
da seleção espanhola, mantendo o estatuto de titular de ambas as balizas
durante mais de uma década.
E para o caro leitor, qual é a primeira memória que tem de Casillas? E quais foram as melhores e mais marcantes exibições de Casillas?
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