sexta-feira, 28 de setembro de 2018

O "deslocado" Vasco da Gama de Sines rejeita o rótulo de outsider

Vítor Madeira continua no comando técnico

O Vasco da Gama de Sines vem de duas temporadas bastante consistentes, com um 5.º lugar com os mesmos pontos do 4.º em 2016/17 e uma quarta posição na época passada como corolário de um trajeto ascendente ao longo do campeonato. Os 26 pontos obtidos na segunda volta – só o promovido Amora e o Barreirense fizeram melhor – e a continuidade do núcleo duro do plantel são suficientes para os seguidores dos campeonatos da Associação de Futebol de Setúbal (AFS) se referirem aos sineenses como, no mínimo, outsiders. No entanto, esse estatuto é rejeitado por quem trabalha na formação do Litoral Alentejano.

“Para quem analisa a classificação, admito que haja expetativas elevadas em relação a nós. Mas na época anterior o Alfarim também tinha ficado nos lugares da frente e na época passada acabou em 12.º. E o U. Santiago foi à final da Taça, mas acabou por ficar em 14.º no campeonato. O nosso quarto lugar justifica-se pela qualidade dos jogadores, mas acredito apenas que podemos garantir a permanência o mais cedo possível”, começou por dizer o treinador Vítor Madeira em conversa com O Blog do David.


Jogadores sem vencimento em equipa que não repete “o mesmo onze”

“O que nós temos feito é um milagre. De quinze em quinze dias fazemos entre 150 e 200 quilómetros de ida e vinda. Sofremos bastantes com estas deslocações. Se quando as equipas vêm jogar a Sines e a Santiago do Cacém já se queixam tanto, imaginem quem tem de fazer isso de quinze em quinze dias. Não somos outsiders. Somos só candidatos a não descer de divisão. Espero que não desçam equipas do Campeonato de Portugal e, se assim for, já ficamos muito contentes por ficar uma ou duas posições acima da zona de despromoção”, acrescentou o técnico de 37 anos, frisando que “o Vasco da Gama não paga” a jogadores e é “o clube mais deslocado da I Distrital”, longe dos centros urbanos de Almada e Setúbal, em que há mais futebolistas.

Além da distância para as zonas mais populosas do distrito e de não conseguir aliciar jogadores com dinheiro, o Vasco da Gama também sente o impacto do centro industrial que é Sines. “Temos muitas dificuldades em ter este plantel, porque temos dez jogadores a trabalhar por turnos, somos uma terra com muita indústria e fazemos um grande esforço. Se repararem, nunca repetimos o mesmo onze. Já estamos habituados a isto e que seja para continuar, é sinal de que há trabalho em Sines”, vincou o timoneiro vascaíno, filho do antigo avançado de Vitória de Setúbal, Estoril e Marítimo, de quem herda o nome.


Vasco da Gama mantém "85 a 90 por cento" do plantel da temporada passada

Futebol positivo e prata da casa

Apesar das dificuldades e de não assumir a subida ao Campeonato de Portugal como um objeto, o conjunto sineense quer ser reconhecido como uma equipa virada para a frente, que olha nos olhos do adversário e entra a pensar vitória e não no “pontinho” em qualquer campo.  “O que nós tentamos é jogar um futebol positivo e evidenciar as capacidades reais dos nossos jogadores. Na época passada só nos sentimos inferiores e baixámos as linhas nos jogos com o Amora, e empatámos os três. Fomos a única equipa que não perdeu com o Amora (três empates). Perdemos alguns jogos porque jogamos para a frente e para ganhar e tenho a consciência de que se abordássemos o jogo de forma mais defensiva e com mais matreirice, que teríamos feito melhor do que o 4.º lugar. Preferir jogar sempre para ganhar e perder o 0-1 do que empatar 0-0 a jogar para o pontinho. Muitas vezes pagamos por isso”, atirou Vítor Madeira, irmão de Márcio Madeira, avançado que atuou nas ligas profissionais ao serviço de Nacional, Portimonense, Moreirense e Farense e que voltou a Sines em 2015.

No plantel de 2018/19 continua o núcleo duro, “19 ou 20 jogadores da época passada, a equipa base, 85 a 90 por cento” do grupo da época passada, aos quais se juntam Sandro e João Generoso (ambos ex-União de Santiago), Edi Silva (ex-júnior do Praia Milfontes) e Tiago Sobral (ex-Renascente S. Teotónio), todos com passado no clube.

Márcio Madeira é a figura do Vasco da Gama
“95 por cento do nosso plantel é formado no Vasco da Gama e já chegámos a jogar com 11 jogadores formados no clube, o que acho que é inédito a nível nacional. Já nem nas seleções isso acontece”, frisou o treinador, que procura “melhorar a qualidade dos jogadores e oferecer uma metodologia de treino diferente” para compensar a escassez de reforços e apurar-se para a fase seguinte da Taça AFS, apesar do empate caseiro com o Trafaria (1-1) no arranque e da derrota fora ante o Cova da Piedade B (2-4).

“A Associação trata mal o Vasco da Gama. É um facto”

Sem querer arriscar um favorito para a subida de divisão, Vítor Madeira considera que “das 16 equipas, há 10 ou 12 equipas com capacidade para subir de divisão, com muita qualidade” e que vai ter de esperar pela “última jornada para sabermos quem sobe e quem desce”.

O que o treinador do Vasco da Gama faz questão de frisar é que em Sines estão “muito agastados com a AFS”, recordando decisões polémicas e desfavoráveis ao clube nas duas épocas anteriores e a peripécia que marcou o jogo do último domingo. “Em 2016/17 jogámos em Alfarim, dois adeptos entraram em campo para agredir os nossos jogadores – e a lei é clara, diz que se pune com derrota a equipa da casa -, e a AFS deu a derrota aos dois clubes”, começou por enumerar.

“Na época passada, com o Barreirense, por uma baliza ter menos oito centímetros num estádio municipal que é o nosso, perdemos o jogo – e o jogo foi no domingo e a decisão saiu na quinta-feira, por isso acreditamos que houve má fé da AFS, que deliberadamente nos castigou”, prosseguiu.


“Esta época começámos com um episódio caricato: arrancámos de Sines para a Cova da Piedade, almoçámos em Almada, passeámos no Fórum Almada, fomos para o campo da Cova da Piedade e estivemos meia hora à espera que alguém nos abrisse a porta. Entretanto, o nosso diretor liga ao presidente da AFS, que de forma antipática disse que nós não sabíamos de emails e que o campo tinha sido alterado. Arrancámos novamente de autocarro para o Monte de Caparica e a meio da viagem muitos dos nossos jogadores lembraram-se que não tinham pitons de borracha, pois estava previsto jogarmos em relva natural. Tivemos dificuldades para arranjarmos botas, porque caso não fossemos a jogo, teríamos que viajar novamente ao Monte de Caparica até a Taça acabar e não temos disponibilidade para isso. Depois o presidente da AFS ligou a pedir desculpa, porque houve um erro da AFS e não nos tinham enviado email algum. Aquilo afetou-nos um bocado, mas também é verdade que perdemos 2-4 sem espinhas e que mesmo que tivéssemos as melhores botas do mundo teríamos perdido com o Cova da Piedade B. Tenho a certeza que no futuro os resultados vão ser diferente. A Associação trata mal o Vasco da Gama. É um facto”, concluiu, incisivo.











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