Comandada por Carlos Carvalhal, a
equipa
matosinhense contava com jogadores como o goleador gabonês Henri Antchouet,
os experientes médicos Besirovic,
Abílio Novais e Tozé, o veterano central Sérgio Abreu e os jovens Pedras e
Bruno China. Era uma equipa recheada de jogadores com experiência na I
Liga e desenhada para subir à II
Liga, mas que até nem cumpriu o principal objetivo da temporada, uma vez
que foi o Marco,
que somou os mesmos 83 pontos, a almejar a desejada promoção na Zona Norte da II B.
A histórica caminhada do Leixões
até à final da Taça
de Portugal começou na segunda eliminatória, numa visita ao terreno do
Pevidém, na altura a militar nos campeonatos distritais da AF
Braga, tendo valido o golo solitário de Pedras aos nove minutos para selar a
vitória e o apuramento.
Seguiu-se a receção a um emblema
de uma divisão superior, o Desportivo
de Chaves, que na altura até se encontrava nos lugares cimeiros da II
Liga. Os leixonenses
necessitaram de prolongamento, mas alcançaram o triunfo com um golo ao cair do
pano, quando já se pensava em jogo de desempate. Pedras foi, uma vez mais, o
autor do único remate certeiro da partida, aos 119 minutos. “O final do Leixões-Chaves
deixou bem claro o porquê de a Taça
de Portugal ser a festa do futebol, mesmo quando se assiste a uma partida sofrível,
monótona até. O golo, praticamente de ouro, de Pedras, a um minuto do final do
prolongamento, levou os cerca de 5000 adeptos leixonenses
a uma explosão de alegria digna dos bons velhos tempos. Até aí foi sofrer a bom
sofrer, com a tarde de enorme inspiração do guardião espanhol Carou - um forte
candidato ao regresso à baliza flaviense
- e o desacerto escandaloso dos dianteiros da casa, fatores que levaram a adiar
o que parecia, e foi, inadiável”, escreveu o jornal O Jogo na edição do
dia seguinte, as 12 de novembro.
Uma semana depois, o Leixões
jogou para a quarta eliminatória da Taça
de Portugal na casa do quase vizinho Varzim,
que na altura militava na I
Liga. Os leixonenses
voltaram a transcender-se. Primeiro levaram o 0-0 para prolongamento, depois
responderam da melhor maneira ao golo inaugural de Paulo Piedade aos 105
minutos, conseguindo empatar por Detinho (107’) e virar para 1-2 por Antchouet
(114’). Contudo, os varzinistas
então comandados por Rogério Gonçalves restabelecer a igualdade ao cair do
pano, por Vítor Manuel (118’), que atirou a decisão para o jogo de desempate,
em Matosinhos.
No Estádio do Mar, o Leixões
voltou a resolver o assunto à… pedrada. Sim, Pedras voltou a ser decisivo, desta
vez com dois golos, precisamente o que abriu (ao 35’) e fechou (81’) uma
vitória por 3-1 sobre os poveiros. Pelo meio, Mendonça empatou para o Varzim
(43’) e Antchouet (66’) devolvem a vantagem aos matosinhenses. “Parece estar de volta a velha
escola leixonense,
que deixou marcas indeléveis no futebol português, nos anos 70, com a célebre
equipa dos ‘bebés’,
construída por António Teixeira. Vinte anos de pois, após uma autêntica ‘travessia
no deserto’, o Leixões,
pela mão do seu jovem e promissor treinador, Carlos Carvalhal, volta a chamar a
atenção do tecido futebolístico português, com uma equipa que encanta. Como
ontem aconteceu. Aliás, como já havia acontecido no jogo da primeira mão, porque
o Leixões
só não resolveu a eliminatória na Póvoa devido a um ‘frango’ de Ferreira no último
minuto do prolongamento”, podia ler-se no jornal O Jogo na edição do dia
seguinte, a 6 de dezembro de 2001.
À medida que a Taça
de Portugal foi avançando, praticamente só equipas das ligas profissionais
foram continuando em prova, mas o Leixões
de Carlos Carvalhal nunca se importou com isso, nem quando visitou a equipa que
nessa época se viria a sagrar campeã da II
Liga, o Moreirense
de Manuel Machado. Antchouet abriu o ativo logo aos sete minutos, ao passo que
Roberto empatou aos 18’, estabelecendo uma igualdade que viria a durar até ao
final da primeira parte do prolongamento, quando Luís Barros apontou o golo que
deu a vitória aos matosinhenses
(104’). “A disputar a II Divisão B, mas
com jogadores habituados a um escalão superior, como, por exemplo, Abílio, Besirovic
e José António, o Leixões
deu ontem mais uma prova cabal do seu valor, eliminando o Moreirense
da Taça
de Portugal. A praticar um futebol agradável, e contando com o apoio dos
seus adeptos, que se superiorizaram em número aos da equipa da casa, o Leixões
entrou melhor no jogo e cedo se adiantou no marcador através de Antchouet, que
finalizou uma excelente jogada entre Calica e José António. O Moreirense
reagiu, mas o golo do empate, marcado de cabeça por Roberto, só surgiu devido a
um erro do guarda-redes Ferreira, que hesitou a sair da baliza, na marcação de
um canto. Na parte complementar, e principalmente na última meia-hora, a qualidade
do jogo decaiu, já que, e com a proximidade do prolongamento, as equipas arriscaram
menos, pois um golo sofrido seria sinónimo de eliminação. No prolongamento, e
apesar de um maior inconformismo do Moreirense,
foi o Leixões
a marcar o golo da vitória”, resumiu o jornal O Jogo na edição do dia
seguinte, a 13 de dezembro de 2001.
Nos quartos de final, o Estádio
do Mar voltou a receber a visita de uma equipa da II
Liga, o Portimonense,
que na altura até ocupava um dos lugares cimeiros do segundo
escalão. No entanto, os algarvios
também caíram aos pés dos bebés
do Mar, que venceram por 3-1. Antchouet (35 e 80 minutos) abriu e fechou o
resultado, ao passo que Detinho ampliou a vantagem (68’) e Toni (72’) reduziu
para os alvinegros.
“41 anos depois de ter conquistado
a Taça
de Portugal, a primeira e única do seu rico historial, o Leixões
carimbou categoricamente o passaporte para as meias-finais da ‘festa do futebol’,
ao bater por 3-1 o Portimonense.
Uma partida em que se destacou o gabonês Antchouet, autor de dois golos, e um
adversário com uma defesa surpreendentemente frágil para quem chegou tão longe”,
sintetizou o jornal O Jogo na edição do dia seguinte, 17 de janeiro de
2002.
Nas meias-finais, o Leixões
foi jogar a casa do Sp.
Braga, que ainda não tinha a força que tem hoje no futebol português, mas
que já era um clube estabilizado na primeira metade da tabela da I
Liga e que contava já com algumas participações nas competições europeias.
Mas nem isso nem o coração bracarense
de Carlos Carvalhal impediram mais um tomba-gigantes, com os matosinhenses
a triunfar por 3-1 no Estádio 1º de Maio. Abílio abriu o ativo aos 49 minutos e
Nené fez o segundo golo aos 80’, antes de Barroso reduzir para os minhotos (83’)
e Detinho estabelecer o resultado final ao cair do pano (90’). “Diz-se que a Taça
de Portugal é a prova mais democrática do futebol português e ontem o Leixões
justificou-o, em campo, ao ‘ignorar’ o favoritismo atribuído ao seu adversário,
cujas credenciais exibiam a chancela de equipa primodivisionária, à partida
mais acostumada a pressões e palcos competitivos de maior dimensão. Pura
ilusão, porém. A turma matosinhense,
ciosa da sua ‘origem de classe’ de militante da II Divisão B, cedo ‘socializou’
o desafio, mostrando-se indiferente a escalões e estratos ‘sócio desportivos’, adotando
uma atitude que teve tanto de inteligente como de matreira, evidenciando ainda
uma maturidade assinalável: concedeu a iniciativa ofensiva ao Braga
e procurou contra-atacar pelo seguro, sem pressas nem atabalhoamentos, aproveitando
a experiência de alguns dos seus mais tarimbados jogadores, casos, por exemplo,
de Abílio, Besirovic
e Sérgio, grande conhecedor de uma casa por onde já passou e se deu bem”, podia
ler-se na edição do dia seguinte do jornal O Jogo, a 22 de fevereiro de
2002.
Por fim, a tão desejada festa do
Jamor. Quem levou a melhor foi o Sporting,
que assim conquistou a dobradinha, graças a um golo solitário de Mário Jardel
(em posição irregular) aos 40 minutos. Mas a forma briosa como minimizaram as
diferenças, tendo enviado duas bolas aos ferros da baliza leonina
– livre de Abílio e cabeceamento de Antchouet – e a caminhada até à final encheu
todos os adeptos matosinhenses
de orgulho. “Não era bem assim que a ‘nação’ sportinguista,
ainda na ressaca de prolongados festejos, gostaria de ter juntado ao Campeonato
a vitória na Taça
de Portugal, num ‘dois em um’ que por força de um brasileirismo se chama ‘dobradinha’.
Mas por força de um... brasileiro, que se chama Jardel, nem poderia ter sido de
outra maneira. O homem-golo do futebol europeu selou uma vitória minguada,
suadíssima e deveras penalizadora para um fabuloso Leixões,
que se apresentou no Jamor completamente despido de complexos e que por isso
mesmo obrigou o Sporting
a sofrer, a sofrer muito. O ‘KO’ que a plateia leonina pedia, com exibição,
golos, magia e tudo mais a que um campeão tem direito, acabou, pois, por dar
lugar a uma vitória aos pontos. E por escassa margem, deve dizer-se”, escreveu
o jornal O Jogo na edição do dia a seguir à final, a 13 de maio de 2002.
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