O primeiro capitão e melhor marcador a erguer a Taça/Liga dos Campeões. Quem viu jogar José Águas?
José Águas fez mais golos do que jogos na I Divisão
A Taça/Liga
dos Campeões Europeus é uma competição elitista, mas já muitos a venceram.
E todos os anos um capitão de equipa ergue a orelhuda. Ao longo dos anos,
alguns dos jogadores que venceram a prova sagraram-se também melhores
marcadores da prova, como Di
Stéfano, Puskás, Gerd Muller, Van Basten, Kaká e Cristiano
Ronaldo. Mas só dois dos capitães de equipa que ergueram a troféu se
sagraram também melhores marcadores: José Águas em 1960-61 e Karim
Benzema em 2021-22.
Filho de um pugilista amador que
trabalhava na fábrica de açúcar na Catumbela, Raúl António Águas, José Águas
nasceu em Luanda e cresceu no Lobito, tendo perdido o pai muito cedo, aos três
anos e meio. Durante a infância foi desenvolvendo o benfiquismo, idolatrando
Rogério e Julinho. Aos 15 anos passou a trabalhar
como dactilógrafo na Robert Hudson, empresa concessionária da Ford, e tornou-se
jogador da equipa da empresa. O seu talento foi revelado e não passou
despercebido ao Lusitano do Lobito, que o recrutou. Em 1950, pouco tempo após o Benfica
vencer a Taça Latina, as águias
então orientadas pelo inglês Ted Smith foram a Angola em digressão e
defrontaram uma seleção local do Lobito. José Águas fez parte desse conjunto e
bisou numa vitória por 3-1 sobre os encarnados.
Depois do encontro, foi contratado pelo emblema
lisboeta. O FC
Porto ainda o convidou para passar férias na Invicta e treinar-se no Campo
da Constituição, mas já não havia nada a fazer. Chegou a Lisboa a 18 de setembro
de 1950 e estreou-se seis dias depois, num empate a dois golos diante do Atlético
na Tapadinha, naquela que foi a primeira vez que jogou num campo de relvado e
com botas com pitões. No jogo seguinte, faturou por
quatro vezes numa goleada sobre o Sp.
Braga no Campo Grande (8-2). Foi o início de uma história de 13 anos
recheada de golos para um avançado com mais golos (291) do que jogos (281) na I
Divisão. Foi melhor marcador do campeonato em cinco ocasiões (1951-52,
1955-56, 1956-57, 1958-59 e 1960-61), campeão nacional por cinco vezes
(1954-55, 1956-57, 1959-60, 1960-61 e 1962-63), vencedor da Taça
de Portugal em sete épocas (1950-51, 1951-52, 1952-53, 1954-55, 1956-57,
1958-59 e 1961-62) e sobretudo bicampeão europeu (1960-61 e 1961-62).
Na conquista continental de
1960-61, o “Cabecinha D’Oiro” marcou onze golos, incluindo um na vitória sobre
o Barcelona
na final de Berna (3-2), e ergueu o troféu na condição de capitão de equipa,
uma façanha que só haveria de ser repetida por Karim
Benzema mais de seis décadas depois. Depois de 13 anos de águia
ao peito, despediu-se da carreira de futebolista em 1963-64, ao serviço dos Áustria
Viena. Ao serviço da seleção
nacional somou onze golos em 25 internacionalizações, não tendo marcado
presença em qualquer fase final. Após pendurar as botas tornou-se
treinador, tendo orientado Atlético,
Marítimo,
Leixões,
Oriental
e Amora. Viria a falecer em 10 de dezembro
de 2000, aos 70 anos. O seu filho, Rui Águas, defendeu
as cores do Benfica
entre 1985 e 1988 e entre 1990 e 1994. O sobrinho, Raul Águas, jogou pelos encarnados
entre 1967 e 1971.
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