quarta-feira, 2 de março de 2022

Paulo Lima: o 2.º português selecionado no Draft da MLS

Paulo Lima integra o plantel do Houston Dynamo
O recente SuperDraft da Major League Soccer colocou mais um futebolista português nos relvados norte-americanos. Depois do lateral João Moutinho ter sido a primeira escolha na edição de 2018, agora chegou a vez de Paulo Lima, desta feita na 32.ª posição, ao merecer a confiança dos responsáveis do Houston Dynamo. Descubra tudo sobre este centrocampista de 23 anos que tenta a sua sorte nos Estados Unidos, através de uma entrevista exclusiva ao Soccer em Português. 
 

O salto para os Estados Unidos

Longe de imaginar uma oportunidade profissional do outro lado do Oceano Atlântico, Paulo Lima deu início ao seu trilho futebolístico no Real SC, de onde saltou aos 15 anos para ingressar na formação do Sporting. Por lá ficou até ao seu último ano de júnior, em que foi emprestado ao Sacavenense. Já em 2017 integrou-se facilmente no plantel do Sintrense, que disputava o Campeonato de Portugal, mas permanecer em território nacional nunca foi uma opção preferencial. “Após ter saído do saído do Sporting, estive um pouco perdido, viajando pela Europa, uma vez que o meu plano não era ficar em Portugal. Fiz algumas captações e não tendo corrido como esperado acabei mesmo por decidir ir para os Estados Unidos, explica Paulo Lima. O cenário de difícil conciliação entre o futebol profissional e o ensino superior em Portugal e o caso de sucesso do seu amigo João Moutinho, com quem jogou nas camadas jovens do Sporting, foram fatores decisivos para esta decisão. Através da Sports4Me, empresa portuguesa “especializada na preparação e colocação de jovens atletas-estudantes no sistema universitário americano através de bolsas desportivas e/ou académicas”, o objetivo concretizou-se. 
 
Paulo Lima aceitou uma bolsa da Providence College, instituição de ensino conceituada do Estado de Rhode Island já com vários laços a Portugal, realidade que pesou na hora de tomar uma decisão. “O treinador-adjunto era português, Providence tinha uma grande comunidade portuguesa e até jogadores portugueses, portanto a escolha não foi muito difícil”. Aqui completou a sua licenciatura em Ciências Sociais, revelando-se bastante satisfeito com o percurso universitário percorrido. “Tive dois anos em que tirei aulas aleatórias de forma que pudesse experimentar vários campos de estudo e ver com qual me identificava mais. Sempre fui uma pessoa que se preocupou com problemas sociais e foi mais por isso que escolhi Ciências Sociais. Gostei deste curso porque era abrangente. Tinha a possibilidade de escolher vários departamentos das ciências sociais e escolhi Economia, Ciência Política e Sociologia, por isso foi bom ter essa diversidade de conhecimento no curso”.  
 
E como era a vida na cidade de Providence, capital do Estado de Rhode Island? “A cidade de Providence apesar de ser pequena é muito acolhedora. Tem diversidade racial e fica perto de outros grandes estados como Nova Iorque. Sendo uma cidade com uma grande comunidade portuguesa e cabo-verdiana, não foi difícil encontrar pessoas com quem me pudesse relacionar, mesmo na escola. Ainda que não tivesse saído muito da faculdade, havia muita vida fora da faculdade. Restaurantes diversos, um grande centro comercial mesmo perto da faculdade, bares e um parque para passear eram os principais pontos de atração para estudantes”
 
Paulo Lima traça-nos também um breve retrato do futebol universitário norte-americano, após 50 partidas a titular, treze golos e seis assistências ao serviço dos Providence Friars. “O futebol universitário é claramente diferente do futebol a que estava acostumado em Portugal. Primeiramente só se joga de agosto até dezembro, dependendo do sucesso da universidade no torneio nacional. Segundo, joga-se de três em três dias, portanto é um campeonato extremamente agressivo para os atletas porque a recuperação entre jogos é mínima e os jogos são intensos. O estilo de jogo em si também é diferente do futebol que se joga em Portugal, mas isto também varia entre equipas e conferências. Algumas equipas jogam mais direto, outras gostam de jogar bom futebol e outras nem sequer tentam jogar. Mas como sempre me disseram, um bom jogador joga em qualquer lado, portanto com o tempo consegui adaptar-me”

 

O papel decisivo da Sports4Me

O êxito desportivo e académico de Paulo Lima nos Estados Unidos é apenas um exemplo bem-sucedido entre dezenas de atletas que a empresa Sports4Me apoia desde 2016, tendo já inclusive alcançado um valor global de bolsas académicas e desportivas atribuídas superior a 10 milhões de dólares. “O nosso principal foco não são os atletas que chegam a profissionais. Se chegarem, é bom para ambos, mas o nosso grande objetivo é garantir o seu enquadramento académico e desportivo, para que a taxa de retenção permaneça elevada”, explica João Pedro Carvalho, fundador e diretor-geral da Sports4Me“Outro dado importantíssimo é a nossa taxa de colocação altíssima. Para mim, o sucesso não deve ser medido pelo número de atletas que vão, mas pelo número de atletas que ficam em terra. Felizmente, como trabalhamos com um número muito fechado de atletas de futebol por ano (35 a 40), temos quase 90% de colocação, uma taxa que mais ninguém pode dizer que tem”
 
João Pedro Carvalho conta-nos um pouco mais sobre o caso de sucesso de Paulo Lima. “Nós já tínhamos muita informação sobre ele, e rapidamente começámos a falar com as principais universidades, mas mais importante do que isso seria encontrarmos universidades com o perfil desportivo do Paulo, até para melhorar a sua adaptação, e para todos saírem beneficiados. Algo que foi muito importante e que ajudou bastante foi o foco do Paulo nos estudos para os exames, porque a Providence College exigia uma nota muito alta para ser admitido”
 
Depois de João Moutinho e de Paulo Lima, outros atletas portugueses podem estar brevemente em condições de serem escolhidos em futuros Drafts da Major League Soccer, muito provavelmente com o selo de garantia da Sports4Me. “Entre os atletas que já estão nos Estados Unidos, diria que nos próximos dois anos, se tudo correr bem, tenho quase a certeza de que teremos dois, três atletas nossos nos Drafts”, atesta João Pedro Carvalho. 

 

Novo desafio em Houston

No passado dia 11 de janeiro, durante mais uma edição do SuperDraft da Major League Soccer, Paulo Lima viu o seu percurso universitário de destaque ser coroado com a seleção do Houston Dynamo, na 32.ª posição. Este emblema do Texas tenta desesperadamente reerguer-se depois de ter falhado o acesso aos playoffs seis vezes nos últimos sete anos. A receita para 2022 consiste na aposta em Paulo Nagamura, técnico brasileiro com pouquíssima experiência, que fez carreira nos Estados Unidos como jogador. Paulo Lima terá uma tarefa difícil pela frente, enfrentando uma concorrência de peso para a sua posição preferencial de médio-defensivo. O português recém-chegado que se descreve como “um médio-defensivo evoluído tecnicamente, que gosta de jogar para frente”, procurará ganhar minutos com o argentino Matías Vera e o internacional salvadorenho Darwin Cerén no mesmo plantel. Contudo, Paulo Lima reconhece que as expectativas para o seu primeiro ano são “desenvolver o máximo possível enquanto jogador nesta primeira fase como profissional, melhorando os pontos fracos e reforçando os fortes, e tentar acumular minutos de jogo, quer seja na primeira ou na segunda equipa, porque só jogando é que se desenvolve realmente”. A equipa de reservas do Houston Dynamo que compete no terceiro escalão norte-americano parece ser o destino mais provável para Paulo Lima nos seus primeiros meses nos Estados Unidos, cenário que lhe permitirá acumular largos minutos de jogo. Consoante a qualidade da sua performance nas segundas linhas do Dynamo, chamadas pontuais à primeira equipa não devem ser descartadas, pelo que vale a pena acompanhar o crescimento deste jovem futebolista em território norte-americano.
 
Trabalho realizado por António Ribeiro
 





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