quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A ascensão de Zicky Té. Do rinque Batafá a melhor jogador do Europeu

Aos 20 anos, Zicky Té tem já um palmarés invejável
Melhor jogador do Campeonato da Europa que coroou Portugal como bicampeão continental de futsal, Zicky Té tem, aos 20 anos, além de muita magia no pé esquerdo, um palmarés invejável. Antes do título e do prémio individual alcançado no domingo, em Amesterdão, o pivô do Sporting já amealhou um campeonato nacional, uma Taça de Portugal, uma Supertaça, uma Taça da Liga, uma Liga dos Campeões, um Campeonato do Mundo e ainda o prémio de melhor jogador jovem do mundo.
 
Impressionante, tendo em conta que não foi assim há tanto tempo que este jogador nascido em Bissau, mas que está em Portugal desde os 6 anos (juntamente com os pais e os quatro irmãos), jogava na rua no rinque Bafatá (que também é o nome de uma cidade da Guiné-Bissau), em Santo António dos Cavaleiros, no concelho de Loures. Foi ali que cresceu na modalidade com ajuda dos conselhos de um primo.
 
"Aqui, em Santo António dos Cavaleiros, nós tínhamos aquela cena de as crianças não poderem jogar com os mais velhos. Eles não deixavam e o meu primo [Domingos], que me vinha buscar a casa, dizia: "Tu vais ficar na minha equipa, vais jogar." Cais, tens de te levantar. Se és fintado, tens de correr atrás. Se fintas, tens de marcar golo ou fazer assistência. Foi mais ou menos um mentor e um segundo treinador fora do Sporting. O meu crescimento, sem ele, não seria tão bom. Ele era o melhor jogador de Santo António dos Cavaleiros, mesmo máquina", recordou, em declarações ao Maisfutebol, em abril do ano passado.
 
A nível oficial, Izaquel Gomes Té começou a jogar no Grupo Recreativo Olival Basto, em 2011-12, rumando depois ao Póvoa de Santo Adrião Atlético Clube, que o catapultou para o Sporting em 2014. "Comecei a jogar através de amigos, jogávamos num rinque que havia no Olival Basto. Depois, juntei-me ao clube para jogar futsal e não futebol de rua. O Sporting tinha muitos olheiros e via os nossos jogos e fiz captações depois de um jogo treino contra o Sporting. Foi nos infantis, lembro-me de ter visto o mister do Sporting [Nuno Dias] e futuros colegas meus a assistir a alguns jogos", contou ao zerozero em março do ano passado.

 

Sempre a queimar etapas

Quatro anos após ter chegado ao Sporting, Zicky Té fez a estreia na equipa principal, lançado por Nuno Dias em setembro de 2018, aos 17 anos, numa visita ao Unidos Pinheirense. No mês seguinte estreou-se a marcar, numa goleada ao Burinhosa no Pavilhão João Rocha (7-1), tornando-se no mais jovem de sempre a faturar na I Liga da modalidade, com 17 anos, um mês e 15 dias.
 
Utilizado a espaços nessa e na época seguinte, Zicky Té aproveitou a lesão do consagrado Cardinal para explodir no ano passado: no início de março estreou-se pela seleção de Portugal, dando sequência a um percurso que vinha a fazer de quinas ao peito desde os sub-15, e não mais deixou de ser opção para Jorge Braz. Ainda nesse mês, marcou dois golos e uma assistência numa vitória categórica sobre o Benfica na final da Taça da Liga (6-2); no início de maio, iniciou a reviravolta do Sporting na vitória sobre o Barcelona na final da Liga dos Campeões (4-3) e venceu uma votação no Twitter da UEFA relativa ao melhor jogador da fase final da competição; em setembro, fez parte da seleção que conquistou um inédito título mundial, tendo marcado no renhido jogo dos quartos de final diante de Espanha (4-2).
 
Agora, já com outro estatuto, mas ainda como o mais jovem da comitiva nacional, marcou dois golos que ajudaram Portugal a recuperar de uma desvantagem de 0-2 frente a Espanha nas meias-finais do Campeonato da Europa, contribuindo para revalidação do título continental. E fê-lo ao lado do amigo Tomás Paçó, com quem partilha o balneário do Sporting desde os 10 anos, ainda eram infantis.
  

Mental coach para motivar

Quando já se ganhou (quase) tudo, a pergunta que mais vezes se coloca é como manter a motivação e a ambição. Para assegurar que consegue manter o foco, Zicky Té conta com a ajuda de um mental coach, Miguel Faro.
 
"O que quero mais? Tudo. Quero conquistar mais. Temos de ter sempre motivação. Eu vou buscar as minhas forças todas à minha família e aos meus sonhos de criança. No início foi complicado porque quem sobe de júnior a sénior pensa sempre que vai ter um ano complicado, não vai jogar e tem de conquistar o seu espaço, mas tive a oportunidade de trabalhar com um mental coach. É muito fácil, quando se ganha tudo, estagnar e dizer: ‘Eu sou o Zicky e já conquistei tudo o que tenho para conquistar. Para mim chega’. Tenho outros objetivos e sonhos que carrego", contou ao podcast ADN de Leão em julho do ano passado.

 
"O mental coach ajudou-me muito. Quando eu estava a começar a ter alguns minutos [na equipa principal do Sporting], estava com uma obsessão pelo golo. Se a bola não entrasse, mesmo tendo feito um bom jogo, não estava satisfeito. Martirizava-me muito com a questão do golo. Estou a gostar muito de trabalhar com ele", acrescentou, ainda antes de se ter sagrado campeão mundial e europeu pela seleção.
 
Apesar da juventude, Zicky Té revela maturidade na abordagem à questão mental. "As pessoas que pedem ajuda são vistas como sendo mais fracas, mas eu não vejo isso dessa maneira. São ferramentas que nos ajudam a sermos melhores. É a mesma coisa que ir ao ginásio. Mas em vez de treinar o físico, com o mental coach treino a mente", argumentou o pivô, que esta segunda-feira foi recebido, juntamente com os companheiros de seleção, pelo Presidente da República.
 










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